Carlito Maia revoluciona mercado publicitário

“Brasil? Fraude explica.” Esta é uma das famosas frases do publicitário Carlos Maia de Souza, mais conhecido como Carlito Maia, colaborador do propmark nos anos 1990 com uma seção chamada “Carlitadas”. Ele baseou a sua existência na busca da liberdade, da justiça e da paz. Preocupava-se em ajudar os outros. Extremamente criativo, Carlito Maia foi um dos fundadores do PT (Partido dos Trabalhadores). Conhecido por suas frases espirituosas, também são de sua autoria os slogans “Lula-lá”, “OPTei” e “Sem medo de ser feliz”, temas da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República em 1989. Mesmo sendo fundador do partido, declarou que deixaria o partido quando este chegasse ao poder.

Nascido na cidade de Lavras, em Minas Gerais, chegou a São Paulo, com sua família, no início dos anos 1930, então com 12 anos de idade. Em 19 de fevereiro de 1954, quando completou 30 anos, seu irmão, Hugo Maia de Souza, levou-o para prestar exame na Escola de Propaganda do Museu de Arte Moderna. Passou em primeiro lugar. Iniciou, então, o curso de publicidade e, em 1963, fundou a própria agência.

Tornou-se um dos mais importantes nomes da publicidade brasileira, depois do rápido sucesso da Magaldi, Maia & Prosperi nos anos 1960. A agência revolucionou o mercado publicitário com campanhas que mexiam com o jeito certinho de se fazer publicidade na época. Foi uma das primeiras agências boutique. Em vez de usar receitas consagradas da década de 1950, a Magaldi, Maia & Prosperi era ousada para os padrões da época. A campanha mais marcante foi a que lançou a Jovem Guarda, um dos primeiros movimentos da, até então, incipiente indústria cultural brasileira, colocando os ídolos Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa na TV, no rádio e no cinema, embalados pelas marcas Jovem Guarda e Calhambeque.

Colunistas

Em 1978, ele foi eleito Publicitário do Ano no Prêmio Colunistas. “Na minha primeira participação no Prêmio Colunistas fiquei orgulhoso de ter participado da eleição dele, basicamente por sua estatura e sua influência morais”, lembra José Roberto Whitaker Penteado, presidente da ESPM.

Ainda nos anos 1960, Carlito Maia foi responsável pela construção da imagem de programas da TV Record, então a líder de audiência da TV brasileira. Trabalhou também na McCann-Erickson, onde atendia à conta da Goodyear. Posteriormente, prosseguiu sua carreira de sucesso atuando nas grandes empresas de propaganda do Brasil, como Atlas, onde ganhou o seu primeiro prêmio, o “Souza Ramos”; Norton; Alcântara Machado;  P.A. Nascimento; Estúdio 13; Esquire e, finalmente, na Rede Globo, onde era gerente da área de marketing da TV Globo e permaneceu por mais de 20 anos. Foi autor do romance “Vale o escrito”, lançado pela Editora Globo em 1992.

Em sua homenagem, foi criado, em 2000, o troféu Carlito Maia de Cidadania, que premia pessoas que desenvolvem ações sociais em prol da cidadania e na luta pelos direitos humanos. Costumava mandar flores. Tornou-se grande relações públicas da Rede Globo por ser próximo dos artistas e por enviar flores com cartão. Sempre mandava um “abracito” no final. Também tinha o hábito de mandar bilhetinhos.

Carlito Maia tinha um lado humano muito forte. Preocupava-se com os outros. Tinha um apelido entre os mais íntimos: o “Rei do follow up”. Era sempre um dos primeiros a chegar à agência e, quando passava uma tarefa para alguém, cobrava incessantemente.

“Era altamente criativo”, lembra Nelson Gomes, consultor da ESPM e amigo de Carlito Maia. “Quase ninguém sabe, mas ele registrava diversos nomes como propriedade industrial e depois, quando surgia interesse de alguém, ele vendia. Tinha criado vários nomes para revistas e para programas de televisão.”

Teve problemas sérios com alcoolismo. Sempre alertava os mais jovens sobre os riscos da dependência. Execrava paletó e gravata. “Certa feita, informado de que teria de vesti-los numa cerimônia em que seria o homenageado, mandou as peças de roupa em seu lugar, já que isso era ‘tão importante’”, conta José Roberto Penteado.

As suas frases falam muito de sua personalidade. Por exemplo: “Quando me fecham as saídas saio pelas entradas”, ou então, “Não peça desculpas. Faça tudo de propósito”. Outra frase dele é: “Meu lugar é onde o povo está” ou “O ideal é unicamente esse: ser livre, mas livre como o ar, mas livre como a luz e como o espírito que vai onde lhe apraz, onde aspira, onde sonha, onde quer! Eu não sei até onde a liberdade poderá levar-me, a que praias remotas, a que abismos… Não sei. Mas eu irei com ela seja para onde for”.

A vida do publicitário virou livro “O clarão”, escrito por sua amiga Betty Milan. Ele morreu, em 2002, aos 78 anos, em São Paulo.