Editorial: Carta aberta à presidente Dilma

Estamos vivendo dias angustiados no Brasil, graças ao desgoverno que tomou conta do país. Não é nem o caso de lembrarmos o velho ditado que reza que em casa que falta pão, todos brigam e ninguém tem razão.

Além de em muitos lares estar faltando também água, há claramente uma insatisfação geral com os rumos da política partidária e da administração pública.

O povo se ressente de lideranças verdadeiras, que tinham por base em um passado recente, por exemplo, a noção do certo e do errado, a capacidade de administrar conflitos e a educação necessária para não jogar nos outros suas próprias culpas.

O espaço e o tempo da mídia dedicados ao noticiário político transformaram-se em informe de crimes não apenas contra o erário, mas de muitas outras naturezas.

Muito têm contribuído para agravar esse quadro, a truculência e a arrogância de determinadas autoridades que deveriam agir mais como bombeiros do que como incendiários.

Na fixação de defender um grupo político, o que menos importa é a busca da verdade e suas consequências para os malfeitores. Os envolvidos nessa “missão” agem como se todos fossem inocentes, praticando uma nefasta solidariedade que a todos compromete.

O resultado, ajudado pelo que se tem notícia de países como a Venezuela e a Argentina, é o descrédito total pelo povo de que não haverá bom desfecho com os mesmos personagens.

Esse mesmo povo ao qual tentam enfiar

goela abaixo versões estapafúrdias a respeito dos escândalos que ocupam a mídia e que já começou a pagar a conta de todo esse descalabro, perdeu a confiança nos seus dirigentes políticos.

Quem votou a favor da continuidade em outubro passado, mostra-se arrependido. Quem votou contra, verifica agora com tristeza e revolta que não votou errado, mesmo não fazendo parte da maioria que então determinou o resultado daquelas eleições.

Lado a lado com a desfaçatez que estamos diuturnamente presenciando, caminha uma espécie de deboche sobre a capacidade de compreensão do povo. A julgar pelos mais recentes pronunciamentos de altas autoridades da República, somos todos otários ou no mínimo ingênuos para acreditar nas esfarrapadas versões dos fatos que têm vindo à tona com uma acelerada velocidade.

Situações inequívocas de mau comportamento são “explicadas” como normais, legais e outros “ais”. O que não deve estar previsto nesse script é o cansaço da população diante de todos os males, percebendo, além do mais, que os autointitulados defensores dos pobres e oprimidos são seus verdadeiros algozes.

Estamos aparentemente sem saída diante de tanto descalabro, onde a obrigação da verdade é substituída descaradamente pela frequência da mentira e do embuste.

Percebe-se claramente que o grupo político dominante perdeu o controle da situação e só não renuncia porque as “forças ocultas” que a isso obrigaram Jânio Quadros – segundo a sua própria versão na época – não têm atuado nos últimos tempos de descontentamento geral. E é bom que não atuem – se é que existem – pois preferimos democraticamente as manifestações populares.

Só para citar outro exemplo da nossa História recente, o movimento pelas Diretas Já, que jogou a derradeira pá de cal na ditadura militar, arregimentou a população brasileira de norte a sul do país.

Não somos a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff, porque isso poderia levar o país ao mais completo caos e de duração prolongada.

Melhor S. Exa. rever seus conceitos, livrar-se de amigos próximos e organizar um governo de coalizão, seguindo o próprio exemplo dado na escolha do novo ministro da Fazenda.

Como é dela a frase “fazemos o diabo para ganhar eleições”, sua segunda vitória torna o sentido da declaração uma coisa do passado. É hora agora de governar para o bem do país e nem é preciso seguir o velho conceito de que se ganha eleições com a esquerda e se governa com a direita.

No caso presente, mais do que nunca, ele já deveria ter sido adaptado para “se ganha fazendo o diabo, mas se governa livrando-se dele e de todos os seus mais ‘fiéis’ asseclas”.

Presidente Dilma Rousseff: embora pouco, ainda há tempo para uma corajosa correção de rumo. Esteja certa de que o Brasil não tem vocação para repetir Cuba ou se transformar em uma Venezuela, mesmo sob o disfarce de uma nova Argentina.

Este país e seu povo são únicos no mundo. Em caso de dúvida, consulte a História e se certificará disso.

Aceite os nossos respeitos.

*Presidente da Editora Referência, que edita o propmark e as revistas Propaganda e Marketing