Chegou a época das previsões falhas

O UOL, na seção TAB, apontou, em 2010, 20 previsões para 2020, das quais só oito vingaram, algumas parcialmente, como carros elétricos, entretenimento global, inclusão das mulheres na economia e diversidade no trabalho. Só se pode dizer que deram realmente certo a comida móvel (mas de forma diferente do imaginado, pois está mais para o delivery dos formatos tradicionais), a tradução simultânea em qualquer lugar, a busca por voz e os bancos digitais. Algumas são promessas, ainda longe da realidade, como os carros voadores, profissionais nômades e check out de lojas sem passar pelo caixa.

Outras meio que estão acontecendo, mas as dúvidas se são coisas boas e vão pegar são enormes, como a gig economy e a fusão do trabalho com a vida pessoal. Outras, como o homem em Marte, óculos inteligentes, fim do teclado e do mouse, robôs que pudessem conversar, economia do compartilhamento, micropagamentos e jornal em papel eletrônico, não rolaram – ou, na linguagem utilizada na TAB, floparam.

Porque, como é atribuído a um ditado dinamarquês, “é muito difícil fazer previsões, especialmente sobre o futuro”. E, no entanto, prever o futuro, nem que seja imediato, é uma atividade essencial para assegurar nosso sucesso – ou, pelo menos, evitar nosso fracasso. O problema é que somos terríveis em prever o futuro e, na maioria das vezes, trata-se mais da sorte de acertar um pouco do que de uma capacidade mágica ou científica de imaginar para onde as coisas vão.

A grande questão é que pensamos no futuro com dois vieses importantes: imaginamos o amanhã com base no passado e pensamos no que vai acontecer em função de nossos interesses. Nos dois casos, esses são péssimos pontos de partida e terríveis conselheiros para qualquer tipo de futurologia. Nos também somos ruins em sintetizar a enorme quantidade de dados para conseguir um nível maior de sucesso sobre o que vai, de fato, acontecer. Razão pela qual as previsões feitas por computadores poderosos e grupos multidisciplinares de pessoas tendem a acertar um pouquinho mais. O problema, nesses casos, é que os computadores são “abastecidos” com dados oriundos, de alguma forma, das pessoas; e no pensamento coletivo, os vieses dos mais poderosos e capacitados acabam contaminando o todo.

Até a última palavra em termos de tecnologia, os famosos algoritmos, está longe da precisão e os mais capacitados e neutros, ou seja, não direcionados, são apenas capazes de prever os próximos poucos segundos de um vídeo ou quanto tempo vai durar um furacão. A nossa tendência, enquanto ouvintes das previsões, é a de querer acreditar no que desejamos acreditar e sermos hiperotimistas em relação às previsões que gostaríamos tanto que acontecessem que, ao final, ajudamos elas a se realizarem.

Para não ficarmos com aquela sensação ruim de que somos totalmente incapazes de fazer previsões e de que tendemos a acreditar em qualquer bobagem bem exposta e justificada, vamos lembrar algumas previsões de verdadeiros gênios que não deram certo ou que demoraram muito para acontecer. Thomas Edison, cujas invenções moldaram o século 20, disse em 1911 que a grande maioria dos móveis das nossas casas seria feita de aço – mas eles continuam sendo de madeira (algo como 60%). Em 1660, o químico inglês Robert Boyle disse que os transplantes de orgãos salvariam vidas.

Em 1909, o inventor americano Nikola Tesla descreveu o que hoje conhecemos como wifi. Em 1917, Alexander Bell, que inventou o telefone, fez uma conferência na qual descreveu o que viria a ser um celular. E em 1918 a revista Scientific American escreveu um artigo enumerando as características do “carro do futuro”, onde não haveria o assento do motorista.

Rafael Sampaio é consultor em propaganda (rafaelsampaio103@gmail.com)