Cine monta “operações de verão”
Para atender a alta demanda de seus clientes no final do ano, a Cine, produtora liderada por Raul Doria e Clovis Mello, montou duas operações provisórias: uma em Recife e outra em Montevidéu, no Uruguai. Ambas devem funcionar até o final de janeiro, época que estão sendo finalizados os filmes de Carnaval, e foram viabilizadas por meio de parcerias com produtores freelancers locais — José da Pena em Pernambuco e Ana Chrysostomo no país vizinho. Ambos também estão atuando na produção de filmes para a Cine, durante o período.
Segundo Doria, a ideia surgiu em dezembro do ano passado, mas já era tarde para viabilizar os escritórios. “Este ano conseguimos colocar o projeto em prática e ele se mostrou ser uma medida correta. Estamos com três diretores de cena — o Clovis, a Cristina Vida e o Felipe Mansur — com filmes grandes para entregar ainda este ano, cuja data final, na verdade, é 21 de dezembro”, afirma.
Desde que iniciada a parceria, no mês passado, as duas locações já serviram de cenários para grandes produções para clientes como Honda, Sundown e Vivo. “Escolhemos o Uruguai pelas locações diferentes que o país proporciona. Estradas legais para filmagem, paisagens bonitas e, principalmente, uma estabilidade meteorológica. E Recife pelo sol e também pela mesma estabilidade. Estamos filmando na capital pernambucana desde o mês passado e não perdemos ainda uma única diária. Quando chove, é rápido, logo abre o sol. Não é igual aos litorais de São Paulo e Rio de Janeiro, onde é comum chover por três dias seguidos”, ressalta, lembrando de outro agravante carioca. “Não podemos filmar nas praias do Rio de Janeiro em véspera de feriado, feriado, o dia pós-feriado e finais de semana. Isso já dificulta bastante”.
Para 2013, a Cine planeja repetir a mesma dobradinha de operações, a partir de outubro. Desde que os dois escritórios começaram a funcionar, em novembro, a média de fluxo nas cidades é de 30 a 40 profissionais, contando o elenco.
Planejamento
Doria diz que mesmo com as duas operações, foi preciso fazer uma engenharia de produção e um planejamento detalhado para viabilizar todas as produções dentro do prazo, sem prejudicar um ou outro cliente. “Sundown, por exemplo, não tem jeito. Ou entregamos agora, ou nunca. Protetor solar tem que ter filme pronto antes do verão”.
O produtor executivo da Cine diz, porém, que um planejamento antecipado já poderia fazer parte de agências e anunciantes. “O caso de Honda não tinha jeito. Era lançamento. Mas protetor solar, cervejas e outros produtos poderiam preparar seus filmes de verão desde setembro, quando temos uma luz mais bonita, as diárias são mais longas, os preços menores, temos mais opções de casting. O Brasil vive um bom momento econômico, a moeda é estável. Está na hora do mercado tomar atitudes com antecedência”, afirma.
Conteúdo
Em relação a Lei 12485, aprovada no final de 2011 e que ainda está em fase de implantação no país, onde um de seus principais pontos é o aumento de conteúdo 100% nacional a ser exibido por parte dos canais de TV por assinatura, Doria diz que medidas como essa não são necessárias. “Temos estruturas muito grandes nas sedes da Cine em São Paulo e no Rio de Janeiro. E produção de conteúdo não precisa se adaptar ao cronograma de mídia, como é o caso dos comerciais de TV e cinema. Fora que também sairia mais caro para todos, sendo que temos tudo a mão por aqui”, ressalta.
Doria diz que a notícia sobre a produção de conteúdo ainda é “muito maior do que a verba”. “Claro que a lei gerou demanda de compra por parte dos canais de TV por assinatura que operam no Brasil. Mas por outro lado, a obrigatoriedade da compra fez com que o preço proposto pelo comprador fosse reduzido drasticamente. Pode dividir o que recebíamos de um canal fechado por uma produção antes da lei, e agora, por cinco”, revela. “Antes da lei, quando produzíamos conteúdo para um canal, o original ficava com eles. Pagavam muito bem para nós e depois podiam, se quisessem, vender para o mundo inteiro. Hoje não. O canal compra apenas o direito de exibição”, explica.
Em relação a 2012, Doria diz ter sido um ótimo ano para a Cine, dentro do redesenho que começou a ser feito no ano passado, quando o produtor Wal Tamagno e a diretora de cena Cris Vida passaram a integrar a sociedade da empresa — que ainda conta com José Ortali como acionista, além de Doria e Mello. A previsão é de um crescimento de 25% em faturamento para 2012. “Um ótimo número para uma empresa consolidada e que já tem 18 anos de mercado”, completa.