Cinema vai além do entretenimento
Há 50 anos espectadores viram Hollywood viver um período de baixa. O mundo voltou os olhos para estúdios como Pinewood Studios, na Inglaterra, e Cinecittà, na Itália. Produções independentes com orçamentos reduzidos ganharam força, com a consagração de películas como “La Dolce Vita”, “Dr. No” (início da série 007) e “Jules e Jim”. Glauber Rocha, cineasta brasileiro, captou uma geração de cineastas e negou a forte produção norte-americana. “Deus e o Diabo na Terra do Sol” e “Terra em Transe” foram as produções mais premiadas do diretor.
A partir da década de 1950, a ascensão da TV proporcionou um aumento nos investimentos de grandes produções para o cinema. O formato ‘widescreen’ ou CinemaScope, hoje padrão nos cinemas de todo o mundo, por exemplo, usava três projetores para exibir cenas panorâmicas em telas largas.
O efeito 3D parece moderno, mas teve seus primeiros testes também por volta de 1920, quando uma película cinematográfica foi exibida com essa técnica. Apesar de rústico, o efeito surpreendeu os espectadores. Ao longo dos anos, a tecnologia foi sendo aprimorada e os óculos utilizados para visualizar o efeito receberam uma versão moderna.
Em 1952, “Bwana Devil” foi o primeiro a receber anúncio publicitário para divulgar a novidade em que a plateia usava óculos para assistir ao filme. No entanto, pela baixa qualidade das produções, a tecnologia foi esquecida.
O grande retorno foi com o filme “Avatar” (2009), que começou a ser trabalhado por James Cameron em 1994 e demorou mais de dez anos para ser filmado. O sucesso foi tamanho que inúmeras produções começaram a explorar essa tecnologia, hoje popular nas salas de cinema de todo o mundo. “Viagem ao Centro da Terra” (2008) foi o primeiro filme com atores rodado no novo digital 3D.
Voltando a 1970, a resolução das imagens se tornou muito superior. O formato Imax é, até hoje, sinônimo de qualidade de imagem nos cinemas. O som também passou por uma grande transformação na mesma década, quando estreou o filme “Apocalypse Now”, com tecnologia Dolby Stereo.
Os blockbusters se tornaram, nesta época, o grande faturamento do cinema mundial. Filmes produzidos para jovens com altos orçamentos consagraram películas como “Tubarão” (1975) e “Star Wars” (1977). Além disso, as franquias fizeram fortunas nas produções, explica Igor Kupstas, diretor da O2 Play. “Atores mais jovens e histórias direcionadas para esse público, como o ressurgimento dos super-heróis, levaram muita gente para o cinema”, explica.
Filosofia
A volta de um cinema mais independente, mas dentro de estúdios, foi intensificada nos anos 1990. Exemplos como “Pulp Fiction” (1994) e “Clube da Luta” (1999) são, para Kupstas, filmes que discutem a sociedade moderna de forma filosófica e ousada. “Matrix” (2000) também reforça um movimento que foi se desdobrando na primeira década no século 21, dando espaço para as produções digitais.
Em 1995, o filme “Toy Story” foi o primeiro filme produzido inteiramente digital. Em 2002, “Star Wars: Ataque dos Clones” foi completamente capturado em suporte digital, sem película. Em 2012, o cinema mais uma vez se reinventou com o recurso de imagem em 48 quadros por segundo, dando mais naturalidade aos movimentos, inaugurado no filme “O Hobbit” (2012).
“O YouTube e os recursos digitais possibilitaram ainda mais a produção independente, com uma distribuição livre do que é produzido, sem as limitações de uma grande produção. Além disso, o próprio ambiente físico do cinema está passando por um momento de conflitos de geração, onde os mais jovens querem utilizar o celular como segunda tela e os mais velhos acham dispensável o uso dos aparelhos durante a sessão”, destaca.
Essa multiplicação das telas e o cinema estão se encontrando com as pessoas o tempo todo, afirma Heitor Dhalia, sócio-diretor da Paranoid. “A revolução tecnológica está tornando o cinema completamente digital. Por isso, o limite entre o cinema e a TV está diminuindo. Ainda assim, é uma arte muito forte, um veículo penetrante e uma capacidade enorme de encontrar público.”
Segundo Dhalia, a propaganda nos filmes é cada vez mais presente, utilizando os conceitos de branded content, os conteúdos podem ser inseridos de forma inteligente e sem que o consumidor se sinta invadido por essa propaganda. Kupstas também destaca que, na China, já estão pensando em levar para as telonas publicidades no mesmo formato encontrado durante a exibição de vídeos na internet, por exemplo.
“Os fenômenos culturais são, muitas vezes, retirados dessas grandes produções e transformados em comerciais, produtos e identidade de marcas diversas, endereçadas para os mais variados públicos. A indústria sobrevive com a venda e o cinema está na vanguarda desse diálogo com a publicidade”, finaliza Dhalia.
A magia de Walt Disney
Ao lado de seu irmão, Roy Disney, Walt criou o maior estúdio de animação de Hollywood e parques temáticos nos Estados Unidos, na França, no Japão e em Hong Kong. Walt Disney sempre demonstrou talento para a ilustração. Aos 18 anos, iniciou sua carreira como cartunista de propaganda e, depois, passou a produzir filmes publicitários. Pato Donald, Pateta e Pluto vieram em seguida para contracenar com Mickey. Além disso, filmes como “Branca de Neve e Os Sete Anões”, “Pinóquio”, “Bambi” e “Cinderela” consagraram os estúdios e a fortuna de Disney. Logo, além de filmes para o cinema, a produção de desenhos animados para a televisão.
Consolidado pelo sucesso de seus personagens e filmes, o parque Disneyland foi inaugurado na Califórnia, em 1955, e o parque Walt Disney World, na Flórida, em 1971. O trabalho do idealizador foi continuado mesmo depois de sua morte, em 1961. Atualmente, de acordo com a companhia, a Walt Disney Studios Motion Pictures produz e lança filmes de cinco bandeiras. Ela também opera como distribuidora internacional dos estúdios e, ainda, a Walt Disney Studios Home Entertainment é responsável pelos títulos no mercado de aluguel e venda de DVD e Blu-ray.
Em 2009, a Disney anunciou a compra da Marvel Entertainment (LLC) por US$ 4 bilhões. A empresa de entretenimento é uma das maiores baseadas em personagens, com uma biblioteca de mais de 8 mil nomes, com grande variedade de mídias ao longo de 70 anos de história. Atualmente, a LLC é subsidiária integral da Disney e utiliza as franquias de seus personagens em entretenimento, licenciamento e publicações. Entre eles, estão os campeões em bilheteria “Homem Aranha” e “Capitão América”, por exemplo.
Outra incorporação da companhia é a Lucasfilm, também subsidiária especializada em entretenimento digital. A empresa inclui, em suas atividades para cinema e TV, efeitos visuais, pós-produção de áudio e animação digital. Entre suas franquias estão Star Wars e Indiana Jones.
Juntas, Disney, Disney-Pixar, Marvel e Lucasfilm têm muitas franquias que contemplam diversos públicos, comercializando produtos licenciados. As principais propriedades são Mickey Mouse, Minnie Mouse, Disney Baby, Winnie the Pooh, Toy Story, Disney Princesa, Carros, Aviões, Frozen, Jake e os Piratas da Terra do Nunca, Doutora Brinquedos, Marie, Violetta, Ultimate Spider-Man, Os Vingadores, Star Wars e Star Wars Rebels.
A arte de contar boas histórias
As grandes produções e tecnologias de cinema encantam espectadores em todo o mundo por contar histórias de forma envolvente e fascinante. Não demorou muito para a publicidade se apropriar desses recursos e começar a contar boas histórias para vender produtos.
O storytelling é uma técnica antiga que ficou famosa nos últimos tempos. As marcas utilizam histórias reais e pessoas para vender seus produtos de forma inovadora. Esses “filmes” possuem linguagem e produção de cinema para vender produtos.
Jorge Brivilati, diretor de cena da La Casa de la Madre, produtora focada em storytelling, acredita que as histórias que impactam vendem muito mais. “Ninguém tem 30 segundos para ver um comercial, mas tem uma hora para assistir a uma boa história”, ressalta.
Desde que o consumidor ganhou voz na internet, ele mudou sua forma de consumir. Com isso, as marcas começaram a ouvir os consumidores.
“Em tempos de internet, em meio a tantas coisas disponíveis, um comercial precisa ser interessante para que seja visto. Para isso, é essencial não ficar preso em formatos. É uma oportunidade de mostrar algo a mais”, explica Brivilati.
Muitos diretores de marketing do mercado brasileiro ainda têm receio em fazer investimentos no storytelling, acredita Brivilati. Muitas vezes, os anunciantes perdem oportunidades de passar seus valores de forma inteligente pelo alto custo que uma produção pode demandar. Por outro lado, ele afirma que falta de dinheiro não é “desculpa” para deixar de fazer um bom filme.
“Criatividade demanda riscos e o que não pode é ficar engessado na burocracia do marketing. Tecnologicamente, é preciso investir em fotografia e em roteiro. Basta fazer um roteiro baseado no dinheiro disponível, que a criatividade não será deixada de lado”, analisa Brivilati.
As ações dentro do cinema, segundo o diretor, ainda são mal exploradas. Por isso, ele acredita que não há grande interação do brasileiro com as mídias disponíveis, o que dificulta o engajamento desse público.