Ciranda, cirandinha
Agora, e para milhares de novos e jovens empresários, tudo virou cantiga de roda. Vão ao tororó beber água, não acham. Entram na roda e não sabem dançar. São soldados, ainda cabeça de papel, ou marinheiros que ninguém ensinou a navegar, claro, além do balanço do mar. Nem limão, nem limoeiro, nem pé de jacarandá. E, com muito sofrimento vão aprendendo, nadando, que o peixe vivo não pode viver fora d’água fria. Mas, independentemente de todos esses despreparos e desconhecimentos, são bravos, valentes, valorosos, decididos e carregados de energia e esperança. Vão tropeçar, cair duas ou três vezes, e alguns, poucos, prosperarão. A grande maioria, no entanto, ignora que está numa corrida muito semelhante à dos espermatozoides. Bíblico, “muitos serão os chamados, poucos os escolhidos”. E ainda são dopados pelos tais investidores….
Conforme mais que esperado e, talvez, até um pouco antes do previsto, as supostas empresas fantásticas da nova economia, que não criavam nada que não fosse um novo nó na cadeia de valor, que apropriavam-se de um pedaço da receita já existente sem produzir nenhuma receita nova, que alcançavam valorização estapafúrdia e absurda, convertiam investidores espertalhões em bilionários em poucos meses, algumas vezes do dia para a noite, mais que abrir, essas empresas supostamente fantásticas, uma após a outra, vão escancarando o bico. Espatifando-se no final da curva. Lembrando-me muito da canção de roda de criança Ciranda Cirandinha, lembram?
“Ciranda Cirandinha
Vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta
Volta e meia vamos dar.
O anel que tu me destes
Era vidro e se quebrou
O amor que tu me tinhas
Era pouco e se acabou.
Por isso dona Rosa
Entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito
Diga adeus e vá se embora…”.
Mais um dos supostos milagres, à semelhança do Uber, Lime e WeWork, começou o ano despedindo-se. Ou, se preferirem, derretendo. Por sinal e coincidência, também mais um dos grandes investimentos de Masayoshi e seu Softbank, a Oyo. Empresa indiana de hospedagem, que celebrava parcerias com milhares de hotéis pelo mundo, e chegou a ser avaliada em US$ 10 bi. A crise vinha forte, e as demissões ocorriam em todo o mundo. A Ciranda Cirandinha, assim, acelerava-se, e os anéis, quase todos de vidro, um a um, iam se quebrando…
Primeiro mês de 2020. Zume, startup de robôs, demitiu 80% de seu quadro de colaboradores. Getaround, startup de aluguel de carros, despediu 25% de seu capital humano. Rappi iniciou um amplo plano de demissões em todo o mundo, incluindo o Brasil. Aplicativos de patinetes e bicicletas jogaram a toalha e desapareciam da e na paisagem… Os sinais eram preocupantes. A grande esperança era março, depois do Carnaval, volta às aulas, final das férias. E aí veio a pandemia…
Assim, e conforme previsto, e por isso, dona Rosa, entre dentro desta roda, diga um verso bem bonito, diga adeus e vá se embora… Os fundamentos da boa economia de verdade, independentemente de nova ou de velha, continuam rigorosamente válidos. Empresas continuam tendo só e exclusivamente duas alternativas: ou param em pé, ou param em pé.
“A barata diz que tem sete saias de filó. É mentira da barata, ela tem é uma só… A canoa virou…”.
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing
(famadia@madiamm.com.br)