Coletivo Rua completa três anos
Uma nova iniciativa de cunho social vai celebrar os três anos do Rua, coletivo idealizado por jovens publicitários de São Paulo para promover a conscientização do papel de cada indivíduo no espaço urbano por meio de manifestações culturais e artísticas. A ação consiste no desenvolvimento de uma fábula composta por 11 quadros – em alusão ao DDD 11, da capital paulista –, que destacam, em linguagem de quadrinhos, alguns dos principais problemas enfrentados no dia a dia da metrópole, destacando que, por muitas vezes, eles vêm das ações da própria população – ou da falta delas.
“Queríamos contar a história do Rua de uma forma mais interessante. Começamos pensando em um documentário, mas decidimos por criar uma história com formato mais parecido com HQ. Cada uma das páginas foi transformada em um lambe-lambe e estes foram aplicados em diferentes pontos de São Paulo. Juntas, formam ainda um livro, que será comercializado por crowdfunding”, conta Rafael Willians, idealizador do Rua e diretor de arte da Lov.
A obra conta a história de uma coruja, símbolo do coletivo, que chega a uma cidade habitada por pombas, que reclamam de todos os problemas. “Elas reclamam que está tudo cagado, mas só depois percebem que são elas que estão cagando em tudo”, revela Willians. “Essa é a intenção do projeto, tentar mostrar quais são os problemas da cidade, o que está causando e como seria possível resolver”, complementa. Além dele, dedicaram-se diretamente à elaboração do projeto os diretores de arte Marcelo Tolentino (AlmapBBDO) e Luis Paulo Andrade (Wunderman), o redator Diego Ferrite (Wunderman), o editor de vídeo Eduardo Guarizo (Habilil Produções) e a gerente de conta Maya Tanizaki (Yahoo!).
Os lambe-lambes, cada um de 3m x 1,5m, estão em pontos estratégicos da cidade, como os viadutos Guadalajara e Santa Ifigênia; as pontes do Socorro e do Morumbi; as avenidas Cerro Corá, 13 de Maio e Heitor Penteado; o Cebolinha; e a Cidade Universitária. O livro, lançado em cerimônia de celebração dos três anos do coletivo, tem como meta eternizar o projeto, que em menos de dois dias nas ruas já sofre com o olhar contrário da Prefeitura. “Dos 11, dois foram arrancados em pouco mais de 24 horas. O crowdfunding do livro também vai ajudar, entre outros projetos, a financiar a recolocação dos cartazes arrancados”, informa Willians. Outro projeto, em parceria com uma ONG, será a doação da obra à Biblioteca Nacional e a busca por um morador de rua da região, que frequente a biblioteca, para ter sua história contada no mesmo formato, em um novo livro.
Atuação
O projeto do Rua foi se adaptando nesses três primeiros anos. “Tínhamos desde o início o mesmo objetivo de hoje, mas as formas de atuar foram se moldando à realidade”, conta Willians, único remanescente do projeto inicial. Hoje, o coletivo conta com 15 pessoas dedicadas às suas ações, mas reúne colaboradores pontuais e incontáveis participantes externos – que levam, por meio das redes sociais e contatos online do projeto, ideias, reclamações e pedidos de ação frente a alguma questão específica. “Começamos com quatro pessoas, todo mundo criativo de agência. Hoje temos produção gráfica, finalizador offline, até atendimento. É quase uma estrutura de agência”, analisa.
A maioria dos projetos já realizados pelo Rua foi de intervenção urbana ou conteúdo online, em vídeo e imagens, de cunho questionador. No aniversário de dois anos, foi realizado o concurso “As ruas falam”, em parceira com a InspirationPage, para definir um cartaz que expressasse os ideais do coletivo, aplicado em espaços públicos como relógios desativados, postes, tapumes de obras e muros mal pintados. A frase selecionada foi “Uma cidade muda não muda”. Outro movimento de destaque, que ganhou visibilidade na mídia, foi a instalação de adesivos em placas na Av. Paulista após a morte de uma ciclista por atropelamento, que lembravam a distância mínima entre os carros e as bicicletas. A sinalização de guerrilha mostrava um carro ao lado de uma bicicleta e o “lembrete”: “1,5m de distância, porra!”.
Com os protestos de junho que tomaram a capital, o trabalho do Rua ganhou ainda mais visibilidade. Curiosamente, o coletivo tem como posicionamento desde sua fundação o termo “Vamo pra Rua”, que dá nome a seu site e canais sociais. Nos protestos, a frase “Vem pra rua”, oriunda da então recém-lançada campanha da Fiat – criada pela Leo Burnett Tailor Made e sem qualquer ligação com o projeto – foi o principal mote dos participantes. “O que mais mudou após os protestos é que a gente agora é mais cobrado. Qualquer tipo de problema que aparece na cidade, as pessoas nos procuram. Isso é muito bom, tirando o fato de que, infelizmente, não damos conta de toda a demanda, já que ninguém consegue se dedicar 100% ao Rua. Todos tem que dividir seu tempo com o trabalho nas agências”, lembra.