Com capital de US$ 20 mi, ESPM lança centro de estudos em negócios sociais
A ESPM lançou nesta segunda-feira (27) o primeiro centro de estudos em negócios sociais da América Latina, baseado no Yunus Social Business Center, instituição internacional criada pelo professor Muhammad Yunus, conhecido como o “pai” do microcrédito e eleito Nobel da Paz em 2006.
O Yunus ESPM Social Business Center tem aporte inicial de US$ 20 milhões e irá estudar o impacto da criatividade e das questões ligadas à cultura das empresas no sucesso do negócio. A unidade também funcionará como incubadora para apoiar projetos com base no conceito de negócios sociais desenvolvidos por alunos da universidade. “Quero que esse centro seja um hub para toda a América Latina e esse é um compromisso que me empolga muito”, disse Yunus durante o lançamento realizado na sede da ESPM, em São Paulo.
Yunus é o fundador do conceito de negócios sociais, focados, como ele define, na resolução de problemas, e não apenas na geração de lucro. Ele é o fundador do Grameen Bank, o primeiro banco de microcrédito do mundo, cujas operações tiveram início em 1976, em Bangladesh. Chocado com a pobreza extrema do país e com a falta de acesso dos mais pobres a empréstimos bancários, ele decidiu emprestar quantias mínimas, do próprio bolso, inicialmente para um grupo de 42 pessoas. “Comecei com 27 dólares. As pessoas estavam tão felizes e eu estava muito feliz em poder ajudá-las”, relembrou. Hoje o Grameen tem mais de 8,4 milhões de mutuários, dos quais 97% são mulheres. Ao todo, o banco impacta 14 milhões de pessoas. A ideia se espalhou por dezenas de países e, em 2008, foi levada para os Estados Unidos, a cidades como Nova York, Detroit, São Francisco e Los Angeles.
De acordo com Yunus, o segredo do sucesso do programa foi focar nos problemas individuais, e não na grande massa de deficiências do país todo. “Não sejam chocados pelo tamanho do problema. Não olhem para a multidão, mas para o que pode ser feito por cada um. Assim, resolvemos os problemas de milhões”, disse. “Vendo individualmente você aprende a entender o outro”. Baseado no conceito de negócios sociais, nos últimos anos ele fundou mais de 50 empresas em Bangladesh que operam para resolver problemas em áreas como educação, saúde e moradia.
Os empreendimentos podem ser de dois tipos: para a criação de um produto ou serviço que ajude a solucionar problemas sociais, sem a geração de lucro, ou que gerem um lucro modesto, mas que o dinheiro seja reinvestido no negócio, para aumentar sua capilaridade. “Há negócios para fazer dinheiro e negócios para resolver problemas. Essa é uma nova mentalidade. Não é como a caridade ou a filantropia, onde o dinheiro nunca retorna e é sempre necessário levantar novas quantias a cada projeto. A força do negócio social está em reinvestir o lucro na própria operação”, explica.
Parcerias com empresas privadas também podem ser uma opção. Em 2006, foi criado em Bangladesh o Grameen Danone Foods, em parceria com a empresa de alimentos, para resolver o problema da desnutrição infantil, que chega a atingir 56% das crianças abaixo de cinco anos. O objetivo era criar um iogurte com os nutrientes necessários para combater a desnutrição e que fosse vendido a um preço baixo, para que as pessoas pudessem comprar. “A empresa foi ao encontro global de negócios sociais que promovemos, explicamos a ela o conceito e a desafiamos com uma ideia: ‘vocês seriam capazes de fazer isso?’”, contou Yunus. “É uma questão de direcionamento. Em negócios voltados ao lucro, a direção é só uma. No social, nós questionamos quais seriam as outras direções”.
A aproximação com a ESPM começou no ano passado, quando a instituição participou do Global Social Business Sumitt, conferência anual realizada nos últimos dois anos em Viena (Áustria). Após encontros acadêmicos, firmaram a parceria para trazer um braço do Yunus Social Business Center para o país. “O Brasil é muito preocupado com as questões sociais. Não são todos os países que têm essa preocupação”, disse. Ainda não foram anunciados os parceiros do centro acadêmico. A unidade está estruturada nos pilares ensino, com a oferta de cursos de extensão; fomento a pesquisas de alunos e professores, que serão disponibilizados para a comunidade acadêmica e empresarial; e apoio ao desenvolvimento de projetos sociais.