Como a transformação digital elimina seu emprego... e gera trabalho
Gabriela Viana, da Adobe
Emprego e trabalho, até mesmo no dicionário, são palavras que tem uma variação importante no significado. Enquanto emprego é ocupar-se de algum serviço, o trabalho é estar em movimento/funcionamento. Um mundo que está se transformando radicalmente demanda por fluxo, movimento, interação. A pressão por movimento contínuo está modificando as relações sociais, familiares e, como não poderia deixar de ser, modificando fundamentalmente o trabalho.
Movimentos mundiais como a globalização e a disseminação em escala da internet mudaram radicalmente o cenário dos negócios: 40% das empresas que faziam parte da Fortune 500 na década passada não figuram mais na lista nesta década. A geração nascida entre 1980 e 2000 já é hoje o maior grupo que forma a força de trabalho da maioria dos países (e a maior geração que os Estados Unidos, por exemplo, já teve), e suas prioridades e valores também estão modificando de maneira fundamental o ambiente de consumo e de trabalho.
As empresas estão sob enorme pressão para realizarem mudanças que as permitam seguir sendo relevantes através do tempo. E o desafio para os profissionais é o mesmo: manter a relevância. E como fazê-lo em um mundo de constantes mudanças?
Como inovar no meu trabalho atual?
É necessário não interpretar a demanda por inovação como uma necessidade de criar uma ideia de 100 milhões de dólares por dia ou a de dominar toda e qualquer nova tecnologia a ser criada. Inovar é um modo de operar, de pensar e de estar no mundo. Como diria o cientista e escritor Max Mckeown, inovar é tornar ideias úteis.
Uma postura de solução é válida para grandes ou pequenos problemas. Quer uma sugestão? Sempre que for mencionar um problema ou dificuldade, veja se você não tem alguma solução para propor. O simples exercício de pensar em soluções – mais do que identificar e apontar problemas – já prepara você para uma nova postura. Troque a palavra inovação (mais vaga) por uma outra expressão: resolvo problemas.
Desenvolva também maior abertura à tentativa e ao erro. Prepare sua organização – e seus times – para essa possibilidade. Negócios e pessoas refratários ao erro e à mudança não inovam. Não custa repetir a máxima: não inova quem não tenta (e quem não erra!).
Como me manter atualizado?
Todos temos o sentimento de estarmos constantemente desatualizados. Uma sensação com a qual teremos que nos acostumar, sem nos acomodarmos ou sem cedermos à distração total de boiar apenas na superfície dos assuntos – um dos efeitos colaterais da internet (Don’t let Google make you Stupid*).
Se já estávamos acostumados a uma realidade em que o próprio mercado de trabalho tem maior impacto na formação de profissionais que o ensino formal, precisamos radicalizar o processo, tornando-nos também individualmente responsáveis por nossa contínua formação. Não podemos esperar uma nova geração chegar ao mercado de trabalho preparada. Essa tampouco é uma possibilidade com a velocidade das mudanças tecnológicas que vivemos.
Governos, empresas e indivíduos terão que atuar para preparar os trabalhadores para a nova demanda de um mundo que se transformou através da Internet. Prepare-se para montar e investir – você mesmo – em um percurso de formação contínua. A Internet é, nesse caso, um grande suporte e várias das instituições mais renomadas do mundo têm programas de ensino a distância. Procure e veja que até Kevin Spacey e Serena Williams dão aulas via plataformas digitais a valores acessíveis.
Torne-se independente do seu atual empregador – ou da sua instituição de ensino – no que se refere à sua própria formação.
Outros impactos
Acesso substituindo a propriedade: uma das facetas simplificadas seria assumir que produtos/bens estão sendo substituídos por serviços – vide Uber, BlaBlaCar e AirBnb. Quando você precisa pendurar um quadro na parede, você precisa do furo ou da furadeira? Como repensar o negócio da sua empresa e, por que não?, seu próprio “negócio” como profissional, com essa provocação em mente?;
Crowdsourcing e Economia Compartilhada: em um futuro nada distante e em busca de diversidade de habilidades, empresas verão mais valor em usar talentos via crowdsourcing do que os talentos que poderia manter “em casa”. Trabalhe para que seu talento seja desejável e ligue o botão da “contribuição”, independente do modelo de contratação;
Populações mais longevas: uma radical mudança na pirâmide etária está em curso. A geração atualmente ativa no mercado de trabalho tende a uma vida produtiva mais longa que todas as gerações anteriores. Isso também significa que teremos que seguir investindo em nós mesmos – por mais tempo.
Robótica e Inteligência Artificial: a tecnologia tende a substituir muitos dos empregos que existem hoje (não apenas os repetitivos e mecanizados, mas também aqueles que requerem atividades cognitivas). Esse também é um indício que não é a tentativa de dominar habilidades específicas de novas tecnologias que será um grande diferencial no longo prazo, mas sim uma maior capacidade de interpretação e domínio de conceitos.
Sejamos realistas: aquilo que hoje conhecemos por emprego está em extinção e não nos resta alternativa a não ser nos adaptarmos. Durante séculos, o trabalho foi visto e descrito como uma atividade desprazerosa e relegada à classes sociais inferiores. Pertencemos a uma época que passou a dar novo significado e nova escala ao trabalho.Mas estamos agora em um novo movimento, onde tampouco apenas trabalhar traz satisfação ou quaisquer garantias. Se nos dispusermos a uma outra forma de trabalhar (e isso significa dar novo significado e direção ao trabalho constantemente), podemos ter como resultado algo mais desafiador, menos mecânico, mais criativo – e, portanto, mais prazeroso.
*Artigo de Nicholas Carr no qual ele defende que o uso intensivo da internet está reconectando nossos cérebros de modo a dificultar a capacidade de concentração em assuntos de maior profundidade, leituras mais complexas e atividades que exijam maior concentração.
Gabriela Viana é diretora de Marketing Adobe para América Latina