Como as marcas devem agir diante de comentários preconceituosos nas redes?

Pesquisadores avaliam que os consumidores em geral preferem respostas com teor mais educativo do que agressivo

Nos últimos anos, diversas marcas estão aderindo a diferentes causas sociais. Neste ativismo de marca, não são raros os comentários de consumidores insatisfeitos com a empresa ter abraçado uma determinada causa social.

Essa insatisfação muitas vezes ocasiona comentários grosseiros, rudes e descortês, dos quais muitas empresas costumam responder de forma assertiva ou sarcástica. Agora, uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas investigou como os consumidores reagem a essas respostas, dando recomendações para as empresas responderem a esses comentários, a fim de abraçar a causa sem necessariamente afastar os consumidores.

O estudo, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp), analisou repostas das empresas aos comentários "incivilizados" de seguidores em relação ao movimento LGBT+, luta contra o machismo, e combate ao racismo. A pesquisa constatou que responder de forma assertiva é a maneira mais apropriada para lidar com este tipo de situação.

"As respostas sarcásticas, mesmo sendo engraçadas, transparecem agressividade. Se a marca se posiciona da maneira apropriada, que segundo os participantes desta pesquisa é a maneira assertiva, a empresa vai ser melhor reconhecida por quem apoia a causa e por quem não apoia", introduziu a pesquisadora Lucia Barros, uma das autoras do estudo.

Barros, que é professora da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV EAESP), detalha o tipo de resposta das empresas que são recomendadas de serem utilizadas: "a nossa definição de assertiva trata de uma forma de comunicação que expressa pensamentos, sentimentos e crenças, de forma direta, respeitosa e apropriada. Essa é a resposta que vai ser melhor recebida".

Assertiva x Sarcástica

Barros acredita que ao utilizar de uma abordagem assertiva, a marca não deixa de se posicionar, se mantém firme na causa, porém de maneira civilizada, trazendo ensinamentos sem agressividade.

A professora declara que já se deparou com inúmeras marcas respondendo a comentários incivilizados, entre elas, muitas são irônicas, ríspidas e debochadas, e este tipo de atitude pode afastar todos os consumidores, não somente os mais preconceituosos que fizeram comentários incivilizados.

Estudos experimentais

O projeto realizou 5 estudos experimentais em que foram criadas postagens fictícias, baseadas em publicações e marcas reais, na qual uma empresa fazia um post sobre a causa LGBT+, feminista ou igualdade racial e, devido a postagem, recebia comentários incivilizados de alguns usuários. O participante avaliava o comentário incivilizado e o tipo de resposta da empresa, uma configurava um tom sarcástico, enquanto a outra trazia uma abordagem mais educativa.

Barros ressalta que cada participante recebeu apenas uma postagem com um comentário preconceituoso e a devida réplica por parte da empresa, então, o indivíduo precisava avaliar de 0 a 7 o quanto ele gostou da resposta da marca. Através deste levantamento, os pesquisadores realizaram uma análise estatística, a fim de identificar uma média da avaliação dos participantes sobre a resposta.

Resposta sarcástica (Foto: Reprodução)

A professora também destaca que após a avaliar as respostas, o participante respondia um breve questionário sobre informações básicas e demográficas. A partir desses dados, que foram coletados pela empresa Toluna, era possível medir quem era envolvido com uma determinada causa, e quem não era.

"Basicamente, todos preferiram as respostas mais educadas, que são as que chamamos nesta pesquisa de assertivas. Porém, a tolerância a comentários sarcásticos ia aumentando conforme o grau de envolvimento do indivíduo com a causa. Os que estavam mais relacionados a causa, não se importaram muito com este tipo de resposta agressiva e irônica, diferente dos que não possuíam envolvimento com a causa, que rejeitaram muito mais esse tipo de resposta, que nesta pesquisa está enquadrada como as sarcásticas", detalhou.  

Barros afirma que as marcas fictícias, além de serem baseadas em marcas da vida real, simularam postagens feitas por diferentes setores, a exemplo da indústria de cosméticos, que possui diversas empresas no Brasil que abraçam a causa LGBT+.

Resposta assertiva (Foto: Reprodução)

(Créditos da imagem: Austin Distel/Unsplash)