Como o ESG influencia o apoio aos projetos culturais
A pandemia do Covid-19 sensibilizou e mobilizou empresas e pessoas fazendo com que o ano de 2020 registrasse recorde de recursos destinados para causas sociais. Também foi um ano em que o ESG (do termo em inglês, Environmental, Social and Governance) ganhou relevância para os negócios e entrou definitivamente na pauta das grandes corporações.
Os patrocínios a projetos socioculturais também ganharam espaço no radar das empresas, buscando promover engajamento responsável com a sociedade. A responsabilidade social é uma pauta cada vez mais presente e estratégica nas decisões dos Conselhos e Comitês de Direção das empresas.
Apesar de todas as dificuldades e impactos na economia, os recursos captados pelos projetos inscritos na Lei Rouanet foram de quase R$ 1,5 bilhão em 2020. Este valor é praticamente igual ao registrado em 2019, mas o dado merece destaque considerando-se que muitas empresas sofreram impactos significativos em seus resultados em decorrência da pandemia.
Muitos projetos tiveram que ser adiados ou cancelados em 2020. Isso fez com que a captação de recursos para projetos que previam a presença de público fosse profundamente impactada, assim como o mercado publicitário, que viu uma queda de 14% no volume total de registro de obras publicitárias, de acordo com a Ancine (Agência Nacional de Cinema). Em 2020, foram 38.281 títulos registrados, contra 44.495 em 2019.
Isso não significa que todos os segmentos da área cultural tiveram a mesma sorte. Enquanto as verbas minguaram de um lado, no caso dos projetos de audiovisual foi possível adaptar o processo de produção e manter os projetos. No nosso caso, a confluência entre a busca de engajamento e a possibilidade de manter a produção audiovisual mesmo durante a pandemia viabilizou o desenvolvimento simultâneo de três documentários com temas ligados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
São projetos que abordam temas relevantes como educação, igualdade de gênero e inovação, e que estão na pauta das grandes empresas que apoiam o audiovisual brasileiro. Para que saíssem do papel, desenvolvemos parcerias com as agências especializadas em projetos culturais e, desta forma, conseguimos o apoio de empresas como a 3M do Brasil, IBM Brasil, Grupo Fleury e 99App.
E não somos um caso isolado. Nos últimos meses, grandes produtoras anunciaram a retomada das filmagens de séries e filmes envolvendo a contratação de centenas de profissionais. As redes de cinema também já reabriram salas e vem registrando públicos crescentes. Isso sem falar na ampliação do conteúdo nacional nas plataformas de streaming que cresceram fortemente durante a pandemia.
Com tudo isso, as perspectivas de novas produções e de geração de empregos são bastante animadoras, estimuladas também pelo aumento no consumo de conteúdo audiovisual no Brasil. O último levantamento de 2020 do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic), mostrou que 86% dos brasileiros assistiram a vídeos, filmes ou séries pela internet desde o início do isolamento, 64% acompanharam transmissões ao vivo em tempo real e 85% está utilizando plataformas online para ouvir música. O aumento da demanda na internet exigiu um aperfeiçoamento na qualidade e velocidade utilizada na transmissão de conteúdo online.
Tudo indica que o mercado do audiovisual deve seguir despertando o interesse de grandes marcas neste final de 2021. Bons projetos e o bom uso dos mecanismos de incentivo à cultura, como a Lei Rouanet ou o Pro-Mac, trazem visibilidade para as causas e para as marcas, além de enormes benefícios para a cultura e para a economia produtiva.
Clovis Travassos, diretor executivo da Prosa Press