Como o mercado audiovisual pode representar o público 50+
7 em cada 10 criativos nunca receberam um briefing voltado ao público da melhor idade, apontam dados da Hype50+ apresentados em painel na Expocine 2022
A economia prateada, como é chamada a economia das pessoas 50+, é responsável por movimentar cerca de R$ 1,8 trilhão por ano no Brasil, é o que apontam dados do IBGE. Outro dado do Instituto é que pessoas com mais de 50 anos representam 25% da população brasileira e possuem renda 56% maior que os millenials.
Apesar dos números e da expressiva representação na economia, essa parcela da população ainda encontra dificuldades em se enxergar na mídia, seja ela em filmes, séries e até mesmo em campanhas publicitárias.
De acordo com um dado apresentado por Layla Vallias, cofundadora do Hype50+, no painel “Economia prateada e as oportunidades para o audiovisual” realizado na nona edição do Expocine e mediado por Kelly Dores, editora-chefe do PROPMARK, cerca de 7 em cada 10 criativos de agências publicitárias nunca receberam um briefing para uma campanha voltada ao público da melhor idade.
O painel também contou com a presença de Yuri Fernandes, jornalista e criador da série “LGBT+60: Corpos que Resistem”, e Daniela Busoli, CEO da Formata Produções.
Vallias revelou que os últimos estudos realizados pela empresa de marketing voltada para o consumidor maduro apontaram que 4 a cada 10 pessoas sentem falta de produtos e serviços com foco no público mais velho.
“O dinheiro está na mão das pessoas de mais de 50 anos. Tem toda uma geração que está consumindo de uma forma diferente e que não está bem representada por conta do etarismo”, apontou a empreendedora.
A identificação
Recentemente, foi lançada a série “Família Paraíso”, produzida pela Formata, que mostra o cotidiano em uma casa de repouso e que conta com 90% do elenco formado por pessoas de mais de 60 anos. Segundo Daniela, a ideia de trazer essas histórias para a tela dos brasileiros nasceu de uma pesquisa que apontou que 82% da população mais velha assiste a TV para se divertir e que o humor é de interesse de 45% nesse público.
“O mercado 50+ é uma realidade e as pessoas precisam olhar. O projeto quis ressignificar a faixa etária. Uma pessoa de 50 anos não é idosa. São pessoas ativas e que querem se ver na tela de uma forma real”, afirmou a CEO da produtora.
Além do preconceito e estereótipos enfrentados pela população mais velha, outro ponto durante o painel foi a intersexualidade dessas pessoas. Yuri Fernandes é responsável por uma websérie que conta as histórias de pessoas LGBTQIAP+ com mais de 60 anos.
Segundo o jornalista, a websérie nasceu de uma instigação própria. Como um homem gay, Yuri não enxergava essas pessoas nas produções audiovisuais e decidiu contar essas histórias.
“A comunidade precisa dessas histórias. Nós temos medo da solidão nessa idade. Nenhum movimento LGBTQIAP+ chegou nessa fase da terceira idade e a história está acontecendo em tempo real”, ressaltou Fernandes.
Representatividade do público 50+
Nos últimos anos, o audiovisual começou a trazer algumas dessas histórias tanto em novelas, como é o caso de “Um Lugar ao Sol”,transmitida pela TV Globo, quanto em algumas campanhas publicitárias, como a estrelada por Fabio Jr. para o Banco Mercantil, mas o movimento de representatividade das pessoas 50+ caminha a passos lentos.
Para Layla, esse engatinhar se torna uma oportunidade para empreendedores que estão com os olhos abertos.
“Por ainda estar lendo, existe uma grande oportunidade para conquistar esse mercado. Tem oportunidades para conseguirmos fazer isso mais rápido. Já existem, por exemplo, fundos de investimento que estão olhando para esse mercado, projetos nas empresas de contratação de pessoas com mais de 50 anos... As histórias estão aí, é só olhar para o lado”, afirmou a cofundadora do Hype50+.
No audiovisual, as oportunidades são várias e variam desde projetos em streamings até vídeos no TikTok. Segundo Layla, 46% do público 50+ assina algum serviço como Netflix, Star+ e outros, além de estarem nas redes sociais, mas dentre todas as possibilidades, a marqueteira ressaltou que vídeos longos e conteúdos que possam ser compartilhados via WhatsApp são os que mais funcionam.