Comunicação de temas ambientais precisa ser menos técnica e “ecochata”
Para Meirelles, que em setembro participará junto com outros especialistas do Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC), realizado em Curitiba com organização da Fundação Grupo Boticário, é preciso colocar os temas ambientais dentro das narrativas de trabalhos que o público consome no dia a dia. A ficção parece que consegue tocar mais o coração do que documentários e fala com mais pessoas”, diz. Em entrevista exclusiva ao propmark, ele fala sobre como interesses econômicos patrocinaram o American Way of Life por meio do cinema principalmente nas décadas de 40 e 50. “A mensagem central em última instância era “A felicidade é consumir. Quanto mais, melhor e sem culpa. That’s life”, analisa.
Diante do exemplo que comprova a eficácia de sua teoria em relação à eficácia da ficção para incentivar ideias e estilos de vida, o cineasta, que é sócio da O2 Filmes, destaca as dificuldades pela falta de interesse político e econômico em expandir temas ambientais como se faz com a promoção do consumo. “O problema é que não há muito dinheiro para se falar sobre acidificação dos oceanos, derretimento do ártico, derrubada de florestas ou aumento da temperatura, pois isso vai sempre contra interesses comerciais. São bilhões de dólares promovendo a indústria do petróleo, automobilística, da soja, da carne, contra grupos de idealistas lutando por princípios. Uma luta até aqui desleal”, reconhece Meirelles, usando sua própria produtora como exemplo dentro deste cenário.
“É uma relação bastante esquizofrênica para mim. Tenho viveiro, planto milhares de árvores todos os anos, participo de campanhas sobre meio ambiente, co-produzi um filme sobre a importância de florestas (A Lei da Água), mas por outro lado tenho uma produtora onde 45% do faturamento vem da propaganda que basicamente estimula o consumo”, diz.
Apesar do “status quo” difícil de ser combatido, o diretor acredita que o pensamento está mudando lentamente e que as empresas mais antenadas e inovadoras estão dispostas a ajudar. “Vejo alguns clientes (da O2 Filmes) verdadeiramente mobilizados em relação à questão ambiental, tentando repensar seus processos de produção por saberem que o consumidor cada vez mais estará de olho nisso”, pondera Meirelles.
Novas tecnologias
Em linha com esse pensamento, uma das atrações do Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação, o mesmo que o diretor participará em setembro, é a participação do engenheiro do Google Tomas Noráa, responsável pelo projeto Street View que mapeia Fernando de Noronha expondo as belezas e o funcionamento do ecossistema do arquipélago brasileiro. “A ideia é colocar consciência na mente das pessoas a partir do princípio de que quem vê, cuida”, revela. “Se a discussão estiver organizada, a pessoa terá mais acesso e consequentemente haverá uma conscientização em massa, o que por sua vez estimula discussões com mais embasamento”, diz Nora.
Engajamento pessoal
Voluntário e ativista da organização Waves for Water, que desenvolveu um equipamento capaz de levar água potável para comunidades afetadas pela falta de acesso ao recurso, Ketzer defende o conceito de que todos usem as ferramentas que estiverem ao seu alcance para contribuir na solução de problemas. “As pessoas podem dar um propósito a mais naquilo que já estão fazendo. Seja no seu trabalho, diversão ou até em uma viagem. No caso de um publicitário, por exemplo, ao acompanhar uma filmagem no Nordeste, ele pode passar por uma comunidade e registrar as carências identificadas em suas próprias redes sociais. Em São Paulo há muitos lugares nos quais se pode expor alguma situação. Não fazer algo com a desculpa de que pode ser pouco, não é aceitável”, sugere.
Para Ketzer, todos precisam assumir a responsabilidade de melhorar o mundo, inclusive os publicitários e comunicadores em geral, que na era das redes sociais podem ser qualquer pessoa. “A comunicação vai ajudar a entender que os problemas mundiais não podem ser jogados para cima (governos). A essência é tentar achar coisas e maneiras de engajar as pessoas para uma causa”, diz. O diretor de criação ainda finaliza dizendo que cabe aos consumidores obrigarem as marcas a assumirem posturas verdadeiramente comprometidas. “Precisamos ter consciência sobre o que estamos consumindo. Uma marca de carro não vai deixar de fabricar automóveis, mas as reações das pessoas incentivam a empresa a ser mais sustentável. Não temos que parar o mundo, temos que mudar nossa relação com ele”.
Assista ao comercial de 30 segundos da marca de detergentes para roupas OMO, que utiliza a tradicional linguagem de crianças brincando e se sujando, porém em um planeta seco e afetado pela falta de água.
https://www.youtube.com/watch?v=nuOPB1BZKZE