Confiança na mídia cresce em meio às fake news
O oportunismo não acontece apenas com a comercialização de insumos como o álcool em gel. A difusão de notícias falsas sobre o novo coronavírus cresceu verticalmente desde o início da pandemia. Pesquisa realizada pelo instituto Datafolha, porém, mostra que a população sabe diferenciar o joio do trigo. Consequentemente, busca dados sobre cuidados em fontes confiáveis.
A apuração, que envolveu amostra de 1.558 entrevistados por telefone entre os dias 18 e 20 deste mês, mas divulgada na semana passada, mostra que as TVs lideram a métrica de confiança com 61%. O meio jornal obteve 56% e os jornalísticos radiofônicos 50%. Os canais menos confiáveis estão nas redes sociais. A rejeição ao WhatsApp como fonte chega a 58% e ao Facebook a 50%.
A imprensa, que sempre pondera argumentos com dúvidas e mais perguntas, não se impressiona com fake news. Não que as redes sociais não devam ser fonte de consulta, mas têm sido usadas nesses momentos apreensivos como propagadora inconfiável, por ingenuidade ou por má-fé. Porém, links de mídia confiável ganham espaço no digital. Esse instrumento é solidário, assim como as redes facilitam contatos afetivos não presenciais.
O Target Index Group, da Kantar Ibope Media, segundo a CEO Melissa Vogel, apurou que 92% das pessoas confiam nas informações dos meios de comunicação. A audiência da TVs teve elevação vertical.
“Os canais jornalísticos mais que dobraram suas audiências na última segunda-feira, dia 23, com aumento de 108% da audiência. Em época de fake news, é compreensível que o consumidor se sinta mais confiante naquilo que vê e ouve nas mídias consolidadas”, respondeu Melissa à jornalista Danúbia Paraizo.
“A TV é apontada como o meio mais confiável para se obter informações sobre a crise (77%). Os nossos números de audiência mostram essa tendência: entre os dias 16 e 20 de março, o jornalismo passou a ter mais participação entre o que foi assistido pelas pessoas (em comparação com a primeira semana do mês). A audiência do gênero jornalístico subiu 26%”, acrescentou Melissa.
Paulo Tonet de Carvalho, presidente da Abert (Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão), explicou que a entidade está desde a semana passada com a ação Desinformação mata. O conteúdo está disponível no seu portal: spot e vídeo com versão para televisão e redes sociais. “Opinião e informação providas pela imprensa são checadas e certificadas”, afirmou Tonet.
Essa linha é a mesma de Marcelo Benez, diretor-comercial da Folha de S.Paulo. “As pessoas querem ter segurança sobre assuntos de saúde. Isso envolve vida e seu universo. O jornalismo profissional significa confiança. Na era caos, frentes sem lastro perdem. Buscar informação na fonte, ou seja, de quem apura corretamente, é o que o Datafolha traduz.”
A reputação do jornalismo se multiplicou e a busca das audiências por conteúdos de origem certificada não surpreende Café Linderberg, diretor-geral da Rede Gazeta, do Espírito Santo. “Geradores de conteúdos nocivos sempre existiram, cabe ao público eleger em quem confiar. O trabalho que vem sendo feito pela imprensa profissional, que ganhou protagonismo nesse momento difícil, está deixando claras as diferenças. Os índices de credibilidade das TVs, jornais e rádios na pesquisa Datafolha são robustos. Surpresa é constatar que com um índice de confiança tão pequeno, de 12%, as redes sociais continuam sendo fonte primária de informação de grande parte da população, principalmente na camada mais jovem. Isso, sim, deve ser lido por nós como um sinal de alerta”, frisou Lindenberg.
O IVC (Instituto Verificador de Comunicação) constatou que os sites de notícias tiveram um crescimento de 40%. De 9 a 14 de março, a pesquisa contabilizou 389,2 milhões de page views; de 15 a 21 de março, 551,1 milhões. Pedro Silva, presidente-executivo e CEO do IVC, faz uma ponderação sobre a publicidade.
“É preciso levar em conta o estado em que as pessoas se encontram ao acompanhar este noticiário. Abordagens que se inserem num momento de solidariedade e apoio têm sido muito utilizadas e parecem eficazes. Campanhas que foram planejadas antes desta situação precisam ser adaptadas ou suspensas e substituídas por algo mais adequado. É preciso, porém, considerar que a publicidade bem feita causará efeitos de longo prazo e a ausência de comunicação também pode ser notada, especialmente quando retornarmos à normalidade”, argumentou Silva.
Marcelo Rech, presidente da ANJ (Associação Nacional de Jornais) está convicto de que “os meios profissionais de comunicação se assentam sobre o negócio da credibilidade.” Essa pesquisa responde a ataques à imprensa? “Sim. Mostra que essas vozes que colocam suas crenças políticas e ativismo ideológico acima de tudo vão ficando cada vez mais isoladas”, respondeu Rech, que acrescenta: “Nos últimos anos, as redes sofreram uma instrumentalização acelerada, por razões ideológicas, para desgastar a comunicação profissional e abrir espaço para as mensagens de ativistas. O coronavírus desmonta esse cenário e recoloca as coisas nos devidos lugares – profissionais de comunicação não são infalíveis, mas estão no negócio da confiança e da busca da verdade.”
Sergio Valente, diretor de marca e comunicação da Globo, fala que a grade de jornalismo cresceu para 11 horas ao vivo. E para 17 horas nas TVs pagas “sobre a pandemia”. Eduardo Schaeffer, diretor de negócios integrados em publicidade da Globo, comenta: “Do ponto de vista comercial, temos acompanhado os desdobramentos no dia a dia e traçado estratégias para os próximos passos, mantendo os interesses e demandas do público e também do mercado publicitário no centro das decisões. Sempre com transparência.”