Conspiração completa 25 anos com histórias para contar
No início dos anos 1990, uma turma de jovens diretores se reuniu para trazer para a produção brasileira um frescor carioca e ambicioso que, logo na sequência, passou a arrematar todas as produções mais bacanas do mercado publicitário – que ainda tinha um bocado de trabalho de budgets bastante robustos. Havia um certo orgulho de carioca com histórico complexo de vira-lata ao ver o projeto nascer no Rio de Janeiro e logo conquistar outros mercados, inclusive o internacional.
Estavam lá naqueles primeiros anos (e ainda estão) Pedro Buarque de Hollanda, Arthur Fontes, Claudio Torres, José Henrique Fonseca, Lula Buarque, Andrucha Waddington, todos nomes vinculados à nobreza cultural brasileira via parentescos com pessoas como Fernanda Montenegro, Chico Buarque de Hollanda, Rubem Fonseca e Arthur da Távola.
Dois Filhos de Francisco conta a história da dupla sertaneja Zezé Di Camargo & Luciano, que começou a cantar ainda criança com incentivo do pai; filme de 2005 foi um dos trabalhos de destaque da produtora
A produtora nasceu em 1991 e tornou-se conhecida por assinar os videoclipes mais premiados do país nos tempos áureos da MTV, além de importantes documentários.
Arthur Fontes lembra que a produtora foi criada no mesmo ano em que Fernando Collor de Mello, então presidente, fechou a Embrafilme, levando o Brasil a parar de produzir longas por alguns anos. O cenário favorável à produção de clipes com a abertura da MTV no Brasil ajudou a levar o projeto adiante.
O longa Casa de Areia, estrelado por Fernanda Montenegro e Luiz Melodia
“Vimos uma oportunidade de um mercado que ainda não existia, o de clipes nacionais, em cinema, com acabamento de primeira. Foi o clipe que nos levou à publicidade, que foi a próxima etapa”, diz Fontes.
De repente, tudo o que saía da cachola daqueles jovens diretores criativos, interessados em cinema e publicidade, ganhava destaque. Havia um espírito “cult” no ar, um frescor de novidade que causou forte impacto no mercado de produção nacional, em especial na publicidade, vocacionada para a novidade. Bacana mesmo era filmar com a Conspira, como era chamada.
O projeto foi crescendo, ganhou mais sócios e diretores como Carolina Jabor, Mini Kerti, Breno Silveira. No fim dos anos 1990, a propaganda já era a área mais forte da produtora, faturando quase US$ 20 milhões. Houve expansão para São Paulo e foi montado um núcleo de produção para a Fiat, em Betim, Minas Gerais. A finalização e o foco no entretenimento ganharam força.
Difícil hoje quantificar quantos longas, curtas, filmes publicitários, séries, clipes e documentários já foram produzidos. São mais de 3 mil comerciais e 32 longas. O último foi Vai que Cola, o Filme, dirigido por César Rodrigues.
Hoje são 200 funcionários, 17 diretores da casa, 13 sócios e dois sócios pessoa jurídica: Banco Icatu e Rio Bravo. A produção hoje dedica-se a cinco áreas principais: publicidade; produções publicitárias para internet e novas mídias; conteúdo corporativo e de marca; televisão aberta e por assinatura; e cinema. Para cada área, há um diretor dedicado: Fábio Brandão, em publicidade; Renata Brandão, em internet e novas mídias e em conteúdo corporativo e de marca; Gustavo Baldoni, para TV; e Leonardo Barros, para cinema. A produtora oferece ainda “serviços de produção” para clientes internacionais que queiram filmar no Brasil ou na América Latina. Em 2012, ganhou um Emmy na categoria comédia com a série A Mulher Invisível, exibida em 2011 na TV Globo.
A peça Trapezista, com criação da WMcCann, comemorava os 70 anos do Bradesco e mostrava a vida de uma artista de circo
Pedro Buarque de Hollanda afirma que a produtora nasceu “para contar histórias com criatividade e qualidade”. “Passados 25 anos, nós continuamos apaixonados pelo que fazemos e ainda conseguimos aumentar muito a quantidade de material produzido e a diversidade de formatos. O mais importante é que o nosso tesão em realizar só aumenta, o que nos garante mais 25 anos pela frente”, diz.
Para Claudio Torres, agregar novos sócios foi o segredo de longevidade da “firma”. “De um perfil ingênuo de quatro diretores que queriam fazer cinema, passamos a incluir pessoas com background do mercado financeiro, novos diretores, grupos financeiros… Estas pessoas evoluíram o DNA da Conspiração, adaptando e ampliando seus horizontes, para além do cinema. O que se manteve ao longo deste tempo foi a ideia de que a união faz a força. No nosso caso, a união do pensamento artístico ao pensamento financeiro é a nossa mais marcante característica”, conclui Torres.
Recentemente, mais uma mudança importante: Maria Amélia Leão Teixeira assumiu como diretora-presidente corporativa e Renata Brandão passou a ocupar o cargo de diretora-presidente de negócios. As copresidentes substituiram Gil Ribeiro, que comandou a Conspiração durante três anos e deixou a produtora. Renata trabalha na empresa desde 2006.
Os sócios listaram alguns dos trabalhos mais marcantes da história da produtora. No cinema, os filmes Dois Filhos de Francisco, Casa de Areia e Redentor. Na TV, as séries A Mulher Invisível, Mandrake, Os Detetives do Prédio Azul e Magnífica 70. Em propaganda: Pepsi Andes (AlmapBBDO, direção de Andrucha), Brejino de Nazaré (Africa para Brahma, campanha #aquitemfesta, direção Breno Silveira), Trapezista (70 anos do Bradesco, WMcCann, direção Breno Silveira). Na área digital, Tatuadores Contra o Câncer de Mama (premiada produção da Ogilvy), Batucada do Coração (Itaú/Africa e Tudo) e duas instalações artísticas no Museu do Amanhã, recém-inaugurado no Rio de Janeiro, além do lançamento da marca olímpica para a Rio 2016.