Coronavírus: a linha tênue entre capitalizar a crise e fazer campanhas conscientes

A pandemia do coronavírus, com a rápida propagação da doença, criou um cenário desafiador e diferente em todo o mundo. A principal recomendação para evitar o contágio é o isolamento, ou seja, ficar em casa e não sair nem mesmo para trabalhar em muitos casos. Naturalmente, a grande maioria das pessoas repensou seus hábitos de consumo. Dessa forma, é uma situação que provoca grandes transformações às marcas, que ficam perdidas sobre qual tom devem adotar em suas campanhas e, principalmente, o que comunicar diante desta nova realidade que não tem prazo para terminar.

O sucesso de campanhas de marketing depende do contexto em que elas estão inseridas. Pode ser bem planejada, produzida e executada, mas se não dialogar com o momento em que o público-alvo está inserido, não vai atingir os objetos esperados. É uma recomendação válida em qualquer situação, sem dúvida. Contudo, é preciso reconhecer que o contexto em que vivemos atualmente mudou muito do início do ano para cá. Os cuidados com o coronavírus trouxeram novas preocupações aos cidadãos. Assim, é essencial que as campanhas incorporem essas questões em seu desenvolvimento.

Não se trata, evidentemente, de fazer uma campanha apenas para se mostrar. Em casos assim, é necessário traçar o posicionamento que a empresa pretende adotar e descobrir o melhor momento para isso. É uma estratégia que exige planejamento, discussão e debate contínuo entre diferentes membros da equipe. Elementos como propósito e missão da empresa devem estar claros para identificar se faz sentido planejar algo nessa época ou se é meramente oportunismo para surfar na onda do momento. Não se engane: o consumidor sabe reconhecer um e outro – e um passo em falso pode arruinar o relacionamento da marca com o consumidor.  

O momento, agora, é demonstrar empatia e, mais do que nunca, colocar a preocupação com o consumidor no centro de sua comunicação. Neste primeiro momento não vai ser possível converter esse público em vendas, mas esse nem deve ser o objetivo. O mais importante é mostrar que sua marca está ao lado das pessoas durante esse período de incertezas e que elas podem contar sempre que precisarem. Algumas empresas já conseguiram fazer campanhas bem sucedidas nesse sentido, orientando boas práticas e estimulando ações sociais importantes.

O investimento em campanhas justifica-se por um objetivo central: ficar na mente das pessoas. O que se pede durante o coronavírus não é sair de cena completamente. Pelo contrário, exige-se justamente o planejamento mais acurado na estratégia de comunicação para continuar com uma imagem positiva perante os consumidores. É um sentimento aguardado pelo consumidor: apenas 8% deles acreditam que as marcas deveriam parar de anunciar durante a crise provocada pela doença, de acordo com levantamento da Kantar.

Portanto, mesmo em um cenário conturbado como o que vivemos, de forma geral não é recomendado às marcas pararem de anunciar ficarem invisíveis para seu público. O silêncio também pode trazer um impacto grande a longo prazo. O que se pede é apenas ter equilíbrio, sensatez e cuidado na hora de planejar as próximas campanhas. Lembre-se de que, no fim, o mais importante nesse momento é conscientizar as pessoas, e não capitalizar em cima da crise.

Matheus Miguel é Diretor de Criação da fri.to