Corra, Lula, corra
Armando Ferrentini é diretor-presidente da Editora Referência
O ex-presidente da República Lula da Silva prossegue atrapalhando a retomada da economia no Brasil, com os seus discursos espalhafatosos e repletos de inverdades, em peregrinação a diversas cidades brasileiras nos últimos dias.
Propositalmente, escolhe cidades do Nordeste e de outras regiões brasileiras que, pela sua pobreza econômica e carência de instrução escolar, acreditam no mito, como um dia acreditaram em Antônio Conselheiro.
Figura messiânica, Conselheiro (Antônio Vicente Mendes Maciel) adquiriu dimensão carismática ao liderar o arraial de Canudos, no sertão da Bahia, atraindo milhares de camponeses, índios e escravos recém-libertos, provocando a intervenção do Exército da República para pôr fim ao movimento, celebremente batizado de Guerra de Canudos, que nos remete a Euclydes da Cunha e o seu Os Sertões.
O famoso escritor brasileiro, de fim trágico, foi enviado à região pelo jornal O Estado de S.Paulo, presenciando e escrevendo sobre o genocídio daquela desamparada população, levada ao extremo da revolta por uma liderança absolutamente incapaz.
Lula da Silva, com uma invejável carreira de sucesso na política brasileira, vai de líder sindical a presidente da República duas vezes, sendo um dos responsáveis pela fundação do PT.
Aos 71 anos atuais, vive um momento dramático, acusado de ser o chefe de uma quadrilha que vem assaltando os cofres públicos há 13 anos.
Em vez de sair de cena, nem que seja por pouco tempo, dando tempo ao tempo, Lula prefere o enfrentamento agora com o consagrado juiz de Direito Sergio Moro, que a maioria dos brasileiros o tem como o salvador da pátria.
O enfrentamento pode lhe ter sido aconselhado por alguns amigos que também são acusados de se beneficiarem do avanço no patrimônio nacional nestes últimos anos. Não sendo o sábio que pensa que é, vai na onda e parte para a briga, o que pode resultar lá adiante (e não muito longe) o fim da sua carreira política.
Se deseja ser condenado para virar vítima e mártir, está no caminho certo. Mas, o mesmo povo que o consagrou no passado, em grande parte, desistiu de apoiá-lo e até mesmo crer na sinceridade dos seus propósitos.
Com o inegável peso da idade, já não se trata do mesmo Lula combatente que vimos muitas vezes discursando para milhares de brasileiros e sendo ouvido, o que é mais importante.
Hoje, Lula é um arremedo do que foi e, se ainda lhe resta algo de sabedoria, adquirida com todos os anos de luta política e convivência com líderes um pouco mais letrados que ele, que lhe seja útil aquela que pode lhe ser a última lição da sua carreira política: “Há hora de falar e há hora de calar”, reforçada por outra que fecha o raciocínio: “Há hora também de entrar em cena e hora de sair, se possível ainda sob aplausos, ainda que raros”.
Corra, Lula, corra.
Lula da Silva merece ainda outro ditado da sabedoria popular brasileira, muito provavelmente extraído das camadas mais baixas da população, que ele afirma ter sido o seu grande objetivo de ajuda durante os dois mandatos de presidente da República.
“Muito faz quem não atrapalha” é o que lhe cabe neste momento ainda difícil da vida nacional, quando seus suspeitos seguidores promovem passeatas à custa de um sanduíche de mortadela e uns trocados.
Gente humilde, que ainda tem nele o salvador da pátria, sem condições de julgar e até mesmo de acreditar nos seus malfeitos.
Pois Lula, se fez algum bem para o país lá atrás, transformando-se em um dos símbolos da resistência civil contra a indesejável ditadura militar (que só assumiu o comando do país porque foi levada a isso, mais tarde se perdendo pela picada da mosca azul em comandantes que passaram a disputar o poder, que para alguns deles seria eterno), esse mesmo Lula quase mitológico, tem a oportunidade agora de se consagrar de forma definitiva e sem contestações.
Basta que para isso se retire de cena, passe a ser um conselheiro dos mais novos na disputa pelo poder, situação que atravessa os séculos da história da humanidade.
Infelizmente, não é o que vemos nele. Sua sede de ser o tal é maior que ele, mesmo se condenando aos poucos a um brilho menor, como quando elucubrou aquela frase recente de que todos os políticos são ladrões, mas têm de trabalhar e dar duro para se reeleger, enquanto os concursados prestam uma faculdade, tiram um diploma, passam num concurso e têm a vida inteira tranquila com o emprego garantido.
Nessas palavras, demonstrando confusão de raciocínio e uma reveladora imersão no contingente do funcionalismo público (políticos e concursados), esqueceu-se do metalúrgico que um dia foi, trabalhando para empresas privadas no Brasil, como a grande maioria da nossa população.
Por jamais ter sido pescador, ignora facilmente que o peixe morre pela boca.
Está acontecendo com ele e, se não se refrear, acabará desse jeito morrendo.
Armando Ferrentini é diretor-presidente da Editora Referência, que publica o PROPMARK e as revistas Marketing e Propaganda