Crise econômica global interfere no consumo das classes C/D

Estrelas do novo ambiente de consumo criado no País a partir da oferta de crédito mais generosa nos últimos cinco anos, as classes C/D estão em estado de alerta com os cenários desenhados pela crise econômica global como detalha a pesquisa “Retrato da crise, as classes C/D em estado de alerta” feita pela McCann Erickson no Brasil, Panamá, México, Honduras, Costa Rica e Colômbia. Foram ouvidas  pelo instituto Data Popular 1.720 pessoas nesses países, das quais 618 entrevistas realizadas no Brasil nas regiões sul, sudeste e nordeste. Sob a coordenação do executivo Aloisio Pinto, vice-presidente de planejamento da agência, o trabalho analisou por telefone o perfil de famílias no País com renda média mensal variáveis de R$ 607 à R$ 1.213 (classe D) e R$ 1,214 à R$ 3.033 (classe C), equivalente a 54% da população brasileira e 45% dos ganhos desses núcleos de consumo.

O humor da crise revela que 85% da população C/D acredita que “a vida está regular para boa”, 58% têm o sentimento de estabilidade, 80% consideram que o País está igual para pior e 74% vêem o futuro com otimismo. As questões propostas pelos pesquisadores até então não faziam referência à crise. Porém, quando o questionamento quis saber o sentimento em relação à crise econômica internacional, 75% revelaram que estão muito preocupados com o cenário. Para 90% o Brasil vai ser afetado. Mas os brasileiros acreditam que os efeitos durarão cerca de seis meses, enquanto nos demais países pesquisados o prazo se estende para dois anos. O estudo aponta que 88% das classes C/D têm certeza de que suas famílias não passarão incólume à crise, nesse caso com temor de redução de consumo na ordem de 36% e desemprego com 26%.

“Para quem a família será muito afetada, a expectativa de aumento dos preços reforça o sentimento de que perderão seu poder de compra”, explicou Aloisio Pinto. “Mesmo entre os que consideram que sua família nada sofrerá com a crise, pensa-se que o desemprego trará o perigo de deixar o nome sujo na praça”, ele acrescentou, enfatizando que 24% das menções de nada sofrerão com a crise têm a ver “com a falta de capacidade de honrar contas e dívidas”.

O espaço dedicado pela mídia à cobertura da crise também ajuda a impregnar nas classes C/D a visão de que ela vai bater à sua porta a qualquer momento. O reflexo é que 61% da amostra planeja aditar planos e projetos. Para 75%, identificados pela pesquisa como os mais preocupados, vão postergar investimentos e compras. “Esse núcleo vai liderar o comportamento da crise”, disse Aloisio Ponto, comparando a crise ao perfil a uma senhora interiorana. “A crise tem marcado sotaque caipira porque no interior ela é mais imediata. Para 47% dos interioranos a vida já está pior do que em relação a 36% dos moradores das capitais. O Brasil do agronegócio já vem sentindo o baque da menor demanda mundial por commodities.

A pesquisa “Retrato da crise” também revela que 63% das mulheres estão “muito preocupadas” com o cenário econômico global contra 49% da ala masculina. Para 40% das mulheres a crise será “forte no seio da família”. O olhar feminino sobre o momento revela três perfis: os “Deus nos  acuda” (os mais alarmados), os “Eu me viro” (que acreditam que no País do jeitinho tudo pode dar certo), e “Os sussa (não estão nem aí para o que está acontecendo). Para 75% das mulheres, “reduzir e controlar custos” é prioridade. Outras ações profiláticas são diminuir endividamento, conseguir segundo emprego e adiar realização de compras planejadas.

O estudo observa que mais de 70% dos consumidores das classes C/D planejam “migrar de ponto-de-venda, banir produtos e usá-los menos  vezes”. Os deslocamentos em busca de preços menores deixarão de ser praticados por 60% dos entrevistados. O lazer, vaidade e as chamadas tentações como vestuário, uso de cartão de crédito e uso do celular, serão cortados por mais de 50%. 

“As tentações estão na marca do penalti”, sintetizou Aloisio Pinto. “O que sinaliza novos hábitos? O consumidor emergente da era do acesso ao crédito fácil será substituído por um comprador C/D muito criterioso, conscientizado e que precisa se sentir muito bem antes de realizar uma compra”, disse mais, lembrando que a “avant prmière” dos novos hábitos que vão surgrir com a crise econômica global será o Natal. “O Natal dessa crise tem festa e mais lembranças do que presentes, férias melhor pensadas e muita renegociação. Os números mostram que 63% das pessoas mudarão sua forma de presentear e 55% vão reinventar seu descanso. Passada a euforia, ficam as contas: para 80% replanejar as dívidas está na pauta. Resumindo, a surpresa desse Natal pode chegar em janeiro”.

As soluções, para 80% das respostas, passam por embalagens econômicas, menor preço e informação para não errar na compra. Para Aloisio Pinto isso significa que a publicidade deve levar em consideração aspectos mais relapcionados aos benefícios dos produtos, serviços e marcas do que enfatizar preço. ” O pessoal deve saber que com um Omo mais barato garante uma Coca-Cola”, comparou. “Em resumo destaco que mais do que crise, existe uma expectativa de crise; novos hábitos estão sendo definidos a partir dessa expectativa; 2009 será, portanto, um ano para revisitar posturas e atitudes; as classes C/D começaram esse processo; vão sair dele como um segmento mais maduro e sofisticado; e as empresas, assim como a comunicação, deverão se adaptar a isso”, finalizou.

Paulo Macedo