Cultivar hobbies e atividades além do trabalho amplia capacidade criativa

Surfar, jogar squash, canto lírico e pintura estão entre os interesses relatados pelos líderes de criação das agências brasileiras

A criatividade é o resultado de uma combinação, de ter um acervo de fontes e, depois, da capacidade de combinar esse repertório das mais diferentes formas. O pensamento é de Marcelo Pimenta, professor de criatividade e inovação nos cursos de pós-graduação da ESPM/SP, e traduz por que criativos e profissionais, em geral, precisam de hobbies e momentos de lazer fora do escritório.

“Ter hobbies e interesses fora do escritório significa você conseguir estimular e aprimorar, ampliando esse repertório. Quando se tem um hobby e aprende a fazer alguma coisa, você aprende um novo método, aprende a fazer novas combinações e essas combinações e jeitos de fazer as coisas vão servir de arcabouço para usar o seu repertório e criar combinações cada vez mais diferentes”, complementa Pimenta.

Mais do que inspiração, as pessoas precisam de referências para serem mais criativas. Atividades fora do trabalho – como culinária, pintura, música, marcenaria ou esportes – expandem a capacidade de criar coisas novas. “Com essas atividades, a pessoa vai ampliando a capacidade de utilizar todo o potencial do cérebro e, com isso, vai se tornando uma pessoa mais criativa”, reforça o professor da ESPM.

Marcelo Pimenta, professor de criatividade e inovação nos cursos de pós-graduação da ESPM/SP/Foto: Divulgação

O propmark ouviu alguns dos principais criativos das agências de publicidade brasileiras para conhecer seus hobbies, hábitos e saber o que fazem fora do trabalho, e como essas atividades auxiliam em seus processos de criação que, para eles, são constantes e devem ser sempre reciclados.

Citando Albert Einstein, que disse “A mente que se abre para uma nova ideia jamais volta ao seu tamanho original”, Sleyman Khodor, CCO da VMLY&R, acredita que é fundamental ir além da propaganda “justamente para que a gente recheie a cabeça com um conteúdo diverso e os hobbies fora da publicidade ajudam nisso. Sem contar, claro, o fato de que eles nos auxiliam a ‘desconectar’ um pouco”.

A vida de ninguém é – ou não deveria ser – só trabalho. Com essa ideia, Talita Cardozo, diretora de criação da WMcCann, lembra que qualquer pessoa, com qualquer emprego, tem múltiplos interesses. “Para quem trabalha com criação, especificamente, as próprias experiências viram bagagem para o desenvolvimento de ideias”, resume ela.

Para Rodrigo Almeida (Monte), diretor-executivo de criação da AlmapBBDO, ter um hobby e desfrutar de horas de lazer não é uma característica que seja só dos criativos. “Acredito que isso é importante para todo mundo. Ver ou fazer coisas que não têm nada a ver com o trabalho é fundamental até mesmo para você trabalhar melhor. Mas, principalmente, para você ter um respiro, mudar de assuntos, de turma, se sentir realizado com algo que não esteja diretamente ligado ao seu salário ou aos boletos no fim do mês”, afirma.

Marcelo Bruzzesi, VP de criação da BETC Havas, concorda que todas as pessoas precisam de hobbies, mas tem uma visão diferente sobre o tema. “Falamos muito sobre hobbies como lazer ou entretenimento, mas o hobby é muito maior que isso. Para mim, hobby é a busca pelo equilíbrio, seja ele qual for. Ele pode ser físico, como um esporte, ou intelectual, como aprender algo novo. Pode ser para passar o tempo ou mesmo uma válvula de escape para as tensões que temos no nosso cotidiano”, propõe ele.

Na opinião da diretora-executiva de criação da Fbiz, Carla Cancellara, a base da profissão está em fazer conexões originais ou mesmo improváveis. “Então, quanto mais a gente ‘desengessa’ nosso dia a dia e flexibiliza nossas verdades, melhor. Também acredito que, nesta profissão, nosso ego é continuamente colocado à prova. São muitos ‘nãos’, revisões e reestruturações, mas também recebemos aprovações, propostas e prêmios. É importante termos outro contexto com desafios e conquistas diferentes para colocar tudo em perspectiva e para que a gente não se defina somente como uma ‘pessoa criativa publicitária’”.

“Mais do que ter hobbies precisamos procurar inspiração em outros lugares, nas atividades que gostamos, e é desse lugar que surgem referências que trazem um olhar único para o trabalho. Quanto mais nos alimentamos do que gostamos, mais descobrimos possibilidades para execuções criativas de todas as formas”, contextualiza Roberta Harada, ECD da Wunderman Thompson.

O que não é um hobby senão um oxigênio para o processo criativo? “Sim, os hobbies são fundamentais e não apenas para quem trabalha nessa área diretamente, mas para todos que queiram estar abertos a olhares diferentes, a outros pontos de vista, a ter várias referências, além de servirem como ferramentas de descompressão ou, mais importante, de inspiração”, reflete Alessandra Gomes, diretora-executiva de criação da McCann Health Brasil.

Leia a matéria na íntegra na edição de 21 de agosto