“Cyber é uma categoria de contadores de histórias”
Copresidente e CCO da Africa, Sergio Gordilho será o jurado de Cyber no Cannes Lions 2017. Na opinião dele, o Brasil vai muito bem em praticamente todas as categorias e em Cyber não é diferente. “Cyber é uma categoria de contadores de histórias e o Brasil é um grande contador de histórias”, disse. Confira a seguir os principais trechos da entrevista que ele concedeu ao PROPMARK.
Sergio Gordilho é copresidente da Africa
Fórmula
A grande fórmula é não ter expectativa, não esperar nada concreto, porque sentimento de frustração sempre está relacionado a Cannes. Cannes é um lugar que você tem de ir sem expectativa, o que rolar, rolou. Do ponto de vista se você é criativo e manda suas peças, se é jurado e tem de julgar ou se é um delegado que vai para lá participar. Como é um festival extremamente mutável, se você vai com muita expectativa, você acaba não curtindo Cannes como um todo.
Critério
Em minha opinião, o único critério que se deve ter é: uma ideia que seja relevante e tenha gerado benefícios econômicos e ligações com o consumidor. Se for assim, ela vale ser premiada. Mas, acima de tudo, para mim, como diretor de arte, o lado de craft vai ser sempre muito importante. Tem um texto do John Hegarty que eu gosto de mencionar “uma ideia não precisa ser só criativa, ela precisa parecer criativa”. Então eu estou buscando a criatividade, mas aliada ao craft.
Tendências
Nós estamos vivendo não só uma tendência, mas várias tendências. Estamos vivendo um pouco a ditadura do algoritmo, a questão da utilização dos dados, da relação com o consumidor, do conteúdo gerado pelo consumidor. São várias tendências e não uma só. Vai ser uma questão de avaliar tudo, analisando sob uma ótica em que existem várias tendências. Sem dúvida, o que fica no final são as peças mais criativas, aquelas que têm uma melhor abordagem e é isso que estaremos buscando.
Por dentro
A melhor preparação que você pode ter é ficar assistindo, vendo todas as campanhas que você puder. Tanto do seu país quanto de outros. Eu tive sorte de ter sido jurado em outros festivais há pouco tempo, então isso me ajudou bastante a construir um portfólio mais amplo de campanhas bacanas que estão rolando por aí, então acho que esse vai ser um ponto forte. Mas em Cannes são muitas ideias que você vê que se tornam tão atemporais que você não sabe se entraram em Cannes no ano passado ou se este será o primeiro ano. O que venho fazendo hoje é assistindo muita coisa, acessando todos os blogs e sites para acompanhar e estar por dentro do que está acontecendo hoje na publicidade mundial.
Conselhos
Acho que são poucos conselhos que eu daria para uma agência inscrever em Cyber. A primeira coisa é a seguinte: faça cases simples, não tente complicar, não tente colocar muitos layers em cima, precisa ser simples para a ideia ficar evidente. Se ele for muito complicado, a ideia termina sumindo ou ficando menor, o que diminui a chance de ganhar. Segundo, estude bem as categorias, entenda direitinho se está inscrevendo na categoria correta. Seja verdadeiro com as suas inscrições. Porque precisa imaginar que quem está julgando lá é um cara igual a você, ele não vai ter pena do seu trabalho, ele não vai gastar tempo para entendê-lo. Se o case não for colocado na categoria correta, ele vai cair, não vai ficar em pé. Então, recapitulando: seja bem simples nos cases e estude/escolha bem a categoria antes de fazer a inscrição.
Brasil
O Brasil está bem em todo o contexto, nosso país vai muito bem em quase todas as categorias. Talvez product design seja uma categoria em que podemos melhorar. Cyber é uma categoria de contadores de histórias e o Brasil é grande contador de histórias. Outros países vêm se destacando bastante. Canadá há muito tempo faz muita coisa boa em Cyber. Reino Unido e Inglaterra estão vindo cada vez mais fortes também. Sem contar os EUA, que são uma potência em criatividade e sempre vão ter grandes campanhas. Vemos uma coisa mais pulverizada, porque hoje temos criativos globais de altíssima qualidade, que estão em mercados que você nem imagina. Tem gente muito boa em Cingapura, na China, em mercados que há um tempo atrás você não considerava. A Índia é um dos países mais digitais do mundo, mas eu vi um trabalho brilhante de mudança de comportamento, que tem chances de ganhar muitas coisas esse ano. Enfim, eu acho que está tudo misturado. Os mercados têm criativos do mundo todo, mas o Brasil sempre vai se posicionar bem.