D&AD 2019: “Tendência é trazer realidade para propaganda”

O PROMARK inicia nesta edição uma série de entrevistas com os jurados brasileiros do D&AD 2019, que será realizado entre 21 e 23 de maio, em Londres. Neste ano, o Brasil conta com 12 jurados. O diretor de cena Felipe Mansur, sócio da Alice Filmes, com o produtor-executivo Wal Tamagno e a produtora Ana Mansur, estreia esta série. Ele integrará o júri de Direction, presidido por Antoine Bardou-Jacquet, da Partizan Paris. Leia a seguir principais trechos da entrevista.

RIGOR E EXPECTATIVAS
Acho que o D&AD sempre foi reconhecido como um dos festivais mais difíceis para ser premiado. Um critério bem refinado faz com que seja atraente e respeitado. Ele traz uma responsabilidade gigante para o jurado. A minha expectativa é a de ver ótimos trabalhos e ter discussões enriquecedoras. Direção é uma categoria técnica e avaliar essa parte técnica me deixa muito animado.

OS MELHORES DO ANO
Entre os melhores comerciais do último ano, destaco dois no D&AD: Nothing Beats a Londoner (W+K, para Nike) e Welcome Home (da Apple, dirigido por Spike Jonze). Gosto muito também do Go with the Flaw, da Diesel, e do comercial de Natal da John Lewis, com o Elton John. Ele tem uma linguagem de câmera que cria uma relação da publicidade com o cinema. É uma força de storytelling. Destaco ainda o Hope, da Cruz Vermelha, GP de Craft em Cannes no ano passado.

SUPER BOWL
Acho que os filmes, de uma maneira geral, mantiveram uma boa qualidade. Sempre atraem muita atenção. São produções trabalhadas muito especificamente para o evento. Na minha opinião, os três melhores filmes são os dois de Bud Light, com referência a Game of Thrones, e o da Amazon, com o Harrison Ford. Os da Budweiser se destacam pelo tamanho da produção e por terem uma direção de atores muito bem trabalhada para um lado mais irônico.

MERCADOS MAIS QUENTES
O mercado está muito global e fica complicado apontar um determinado país que esteja em destaque de inovação em direção. Há importantes novos diretores do Canadá ou do Egito, por exemplo, mas eles acabam sendo representados pelas produtoras do eixo americano-europeu. O Brasil também passou a ter uma maior representatividade neste contexto, estamos em ascensão, principalmente depois do GP em Cannes em 2015, com o filme da Leica, da dupla de diretores Jones + Tino, que também ganhou Grafite no D&AD.

TENDÊNCIAS
Sob um ponto de vista conceitual, pensando em execução, a principal tendência é tentar trazer a realidade cada vez mais para a propaganda. As pessoas querem comprar algo que é crível, que é verdadeiro. Os principais diretores têm essa preocupação de trazer a realidade para dentro do filme. Em processo de trabalho, a tendência é buscar cada vez mais um espírito coletivo, com agências e produtoras unindo profissionais que agregam novas ideias.

DESAFIOS
Eu acho que o desafio é clássico, sempre acaba sendo conciliar a verba com a expectativa da agência e do cliente e, no final, entregar um trabalho que imprima um valor de produção para as marcas. Apresentar soluções é uma tarefa que varia muito de projeto para projeto, não vejo como generalizar. Temos uma política na Alice que é a de não olhar para os problemas e sim para as soluções.Nosso discurso não envolve uma dificuldade de uma mesa de compra, por exemplo. A gente se posiciona com a maneira que nós acreditamos que um filme deve ser feito, numa linha criativa e em um processo de execução pensados antes da aprovação do orçamento. Tentamos alinhar as ideias antes para termos menos problemas na hora de executar. E sempre cobrando o que a gente acha que é justo.

TALENTO X BUDGET
Eu gosto de pensar que o talento é sempre o principal. Não dá para dizer que o talento sempre consegue se sobrepor. Depende muito do projeto. Acho que a gente tem de pensar também que o diretor dificilmente consegue fazer tudo sozinho. Ele depende de uma equipe e o valor de uma equipe tem um grande impacto no custo do projeto. Um bom figurino só é possível com uma boa figurinista e isso é um exemplo que vale para todas as partes técnicas. Uma boa equipe acaba agregando muito ao projeto. O talento é achar uma linguagem que se encaixa no budget do cliente. Algumas ideias nascem de uma concepção que exige uma produção mais cara. Não dá para generalizar que o talento resolve tudo, mas às vezes ele resolve.

PERFIL
Eu me considero uma pessoa apaixonada por imagens. Tenho essa paixão pelo trabalho visual que ajuda a ter uma história bem contada. Unir uma boa história com um visual de impacto é o que guia o meu trabalho. Eu busco muito essa estética aliada à narrativa para conseguir criar resultados inspiradores. Sempre partindo de um padrão mais cinematográfico.