De Chlorodont a Dove

1. Às manifestações populares que prosseguem em várias partes do país e que ninguém consegue contar a história com exatidão, a Fifa e seus aliados brasileiros contrapõem o futebol, ópio do povo parafraseando Lênin e seus antecessores nas transformações do pensamento político da História.

Encerrada a Copa das Confederações neste domingo, aproxima-se o grande show mundial da Copa do Mundo, evento da maior importância para a publicidade mundial e já em veiculação em todo o planeta.

No Cannes Lions, quem foi viu um extrato do aproveitamento dessa Copa pelos anunciantes e todo o trade ao seu redor. É um acontecimento que se repete somente de quatro em quatro anos, o que o supervaloriza perante os expectadores.

A Copa de 2014, realizada no país do futebol (este editorial foi redigido antes do jogo Brasil x Espanha pela “copa aperitivo”), tem gerado por isso mesmo uma expectativa redobrada, com um ingrediente a mais a aumentá-la: a anterior em nosso país (1950) perdemos por descuido, o que seria imperdoável nos dias que correm.

Isso, porém, são águas passadas. Vale agora interpretar os sinais que a sociedade brasileira tem dado a respeito do pão e circo que os governos se limitam em oferecer. Se até há pouco o binômio era aceito e até aplaudido, de repente, como um raio em dia de chuva, o entusiasmo virou questionamento, pleiteando-se mais pão e menos circo, principalmente onde os atores secundários somos nós, o povo, recebendo baixos cachês e assistindo os protagonistas rirem e se locupletarem nos bastidores.

Foi preciso que as luzes dos primeiros estágios reformados ou construídos para a Copa se acendessem para a população entender que algo de mais importante deixou de ser feito com essa dinheirama toda. Quem frequenta o SUS sabe do que estamos falando.

A Copa será boa para a propaganda (já está sendo), mas deve ser boa também para o país e sua imensa população de desassistidos. Apenas o grito do gol pelas nossas cores não será suficiente para justificar todo o aparato produzido em torno do evento.

O custo dessa Copa poderá ser comparado no futuro próximo ao custo de uma guerra, com imenso saldo de vencidos.

Por tudo isso, devemos respeitar as movimentações populares que têm pipocado pelo país, pouco importando eventuais interesses políticos camuflados. Há delas uma boa consequência já a comemorar: alguns escalões das partes mais altas do governo se mexeram, proporcionando decisões que de há muito eram aguardadas.

Sem pressão a locomotiva não anda, diriam nossos avós.

2. A grande conquista de Agência do Ano no Cannes Lions pela Ogilvy brasileira ajudou a rede Ogilvy mundial a ser também a campeã das redes de agências no festival.

O esforço e competência da sua unidade brasileira influenciaram as agências Ogilvy em todo o mundo, resultando nessa dupla conquista que fez até David Ogilvy sorrir em seu castelo eterno.

3. Na data de capa desta edição, a DPZ comemora 45 anos de atividades, remetendo o leitor ao ano mágico de 1968, quando foi fundada.

Seus pioneiros, ainda em atividade plena na agência cujo sócio majoritário é hoje o Grupo Publicis, tiveram o mérito da capacidade com ousadia, quando decidiram juntar as letras iniciais dos seus sobrenomes e colocar em operação um negócio metade agência e metade escola.

A Duailibi, Petit e Zaragoza juntaram-se profissionais de brilho criativo (em todas as áreas que formam esse tipo de negócio), atraídos por aquela revolução que ocorria na casa recém-alugada da Rua Colômbia, em S. Paulo. Houve inclusive no início da agência um quarto sócio, o saudoso Ronaldo Persichetti.

Os tempos eram mais favoráveis à atividade publicitária, que fazia parte da agenda nacional.

Criada por três artistas, dois das imagens e um do texto, a DPZ entrou em moda na semana do seu surgimento. Para lá logo convergiram – muitas vezes apenas para bater papo – artistas, jornalistas, profissionais de outras agências e até clientes… de outras também. Logo virou um celeiro de ideias. Só podia dar no que deu, oferecendo ao mercado um produto final absolutamente novo e atrevido. Foi a segunda grande revolução no mercado brasileiro de agências em termos de criatividade (a primeira ocorreu dez anos antes através da Alcântara Machado de José de Alcântara Machado e Alex Periscinoto).

Tendo atualmente como principal executivo Flávio Conti, que ingressou na agência em 1972, ela se apresenta hoje completa para os seus clientes, fazendo parte de uma das maiores redes mundiais de agências.

Nesta sexta que acabou de passar, a DPZ deu início a um novo projeto que denominou de cross experience, cujo objetivo é convidar personalidades de determinado setor para exporem suas ideias a responsáveis por outros setores.

Arturo Piñeiro, presidente da BMW brasileira, abriu o ciclo, conversando com todos os presentes sobre o mundo e o Brasil dos dias atuais.

É a DPZ de sempre.

4. O título deste editorial é uma homenagem aos grandes premiados do primeiro Festival Internacional do Filme Publicitário (1954, Veneza) e do sexagésimo, já Cannes Lions (2013, Cannes).

Este editorial foi publicado na edição impressa de Nº 2455 do jornal propmark, com data de capa desta segunda-feira, 1º de julho de 2013