De volta para o futuro

Alê Oliveira

Alexis Thuller Pagliarini

Na semana passada, mais especificamente no dia 21, Marty McFly chegava com seu DeLorean ao futuro. Refiro-me à deliciosa série de filmes “De volta para o futuro”, trilogia de Zemeckis que tinha Michael J. Fox como protagonista, interpretando Marty McFly, que viajava no tempo. O primeiro filme é de 1985. Como passou rápido! Ainda me lembro como me diverti com os filmes.

Passado todo esse tempo, é interessante observarmos como os idealizadores da série enxergavam o futuro, quase 30 anos atrás. Analisando o “De volta para o futuro 2”, de 1989, o que se concretizou e o que foi previsão furada? Bem, o tal carro voador deveria estar hoje nos nossos ares, assim como os skates. As roupas deveriam secar e se ajustar automaticamente. Mas outras previsões se concretizaram: os drones, um óculos parecido com o Google Glass, o telefone com imagem (tipo Skype) e portas que se abrem com impressão digital.

Pois é, nem sempre as previsões se concretizam. Em 1980, a revista Realidade, que hoje não existe mais, mas tinha grande tiragem na época, convidou cientistas e futurólogos para prever como seria o assustador ano 2000. Pois ninguém previu algo como a internet, a maior revolução dos últimos tempos. É preciso ter cuidado ao analisar tendências.

Mas tem muita gente que aposta tudo numa tendência e descobre amargamente que ainda não era a hora. Quando chegou a TV, previram o fim do cinema e ele está aí, firme, atraindo um monte de gente. Agora, nas rodinhas de publicitários, apregoa-se o fim da TV. “Ninguém mais vê TV”, dizem. E qual a realidade? A velha e boa TV continua reinando soberana, consumindo a maior verba de anunciantes, principalmente os de produtos de consumo popular.

Inegavelmente, a internet ganha cada vez mais espaço, mas tendemos a dramatizar mais do que o impacto real que ela provoca no mix de meios. Eu me lembro quando era gerente de produtos da Coca-Cola e cuidava, dentre outros, de Diet Coke (que atualmente deu espaço para Coca-Cola Zero). A onda diet parecia avassaladora e meus amigos me cumprimentavam achando que o produto estava bombando. E estava: nos Jardins, em São Paulo, e na Zona Sul, no Rio. Mas, ao checar os números, a participação de todos os diets do mercado brasileiro não chegava a 5%. A percepção nem sempre bate com a realidade.

Realmente, é preciso ter muito cuidado ao analisar tendências. Eu acho natural prever que, no futuro, os nomes que damos ao telefone, à TV, ao celular, ao tablet e ao notebook devem deixar de existir para dar lugar a algo que congregue tudo isso em um único device. Algo como Unidade de Comunicação, Entretenimento e Informação (UCEI, não é uma sigla boa? – temos de trabalhar melhor isso rsrsrs). Eu imagino algo parecido com um tablet (dobrável ou enrolável), que cumprirá todos os papéis desempenhados por uma série de aparelhos que carregamos atabalhoadamente para lá e para cá, usando todo o espaço de bolsos e bolsas. Quer ver TV? O UCEI (humm, o nome não é bom) é provido de um projetor potente, que expõe uma bela imagem na parede do seu quarto. Quer falar com alguém? Use um fone conectado por bluetooth ou algo parecido. Quer trabalhar planilhas ou textos longos? Desdobre a sua geringonça e crie um teclado mais confortável para digitar. Não te parece natural existir algo assim logo logo?

E os drones entregando coisas para lá e para cá? Amazon já está testando. Carros sem motoristas? Google já está testando. E no campo da medicina, então? Precisaremos de médicos para diagnósticos corriqueiros? Já há banheiro público no Japão que te dá a alternativa de exame de fezes e de urina, gerando resultado logo após o uso. Há também relógios e pulseiras que medem sua pulsação ou pressão arterial, avisando quando há alguma alteração importante. E o Airbnb? Quem previa que um sistema de locação de quartos privados se tornaria algo mais valioso do que a maior rede de hotéis do mundo? E o polêmico Uber, quem previu?

Então, como você vai lidar com as tendências? Em que onda apostar para 2016? E para 2020? Questão difícil!

De qualquer maneira, acho que não devemos nos prender ao passado, mas também não devemos mergulhar de cabeça na primeira onda que aparece no horizonte. Um pé no barco de hoje e outro no de amanhã.

Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro e VP da Ampro