1. Assim como a verdade é a primeira vítima das guerras, a publicidade costuma também ser penalizada nas crises econômicas.
De uma forma ou de outra, analistas de mercado têm atribuído à publicidade o domínio da Copa da Fifa, como se a atividade fosse um fim em si mesma.
O que eles não ignoram, mas fingem ignorar, é que a publicidade é, sim, uma importante ferramenta do marketing, a serviço de uma causa. Esta pode significar a necessidade de pessoas físicas e jurídicas obterem sucesso na colocação dos seus produtos e/ou serviços junto aos consumidores finais, passando muitos deles por intermediários (representantes, atacadistas, varejistas etc.) a fim de atingir esse objetivo.
Portanto, se a Copa do Mundo está dominada pela publicidade, como querem, tal procedimento não vem de hoje, mas de muitas outras Copas passadas.
O leitor deste jornal especializado sabe melhor do que ninguém a força que grandes eventos esportivos têm junto aos diversos grupos populacionais que formam o todo dos habitantes do planeta.
Essa força desperta o interesse das grandes corporações, que, sendo anunciantes, utilizam a propaganda para venderem seus produtos e serviços.
Simples assim, mas há uma visão ideológica contra a publicidade, que no passado – durante a guerra fria entre as potências do bloco ocidental e do leste europeu e da Ásia – gozava da definição dos simpatizantes da esquerda de ser a ponta do iceberg do capitalismo.
Esse tipo de visão curta enxerga apenas o que lhe convém, ou seja, a atividade publicitária e não a que se destina, colaborando na movimentação de toda a vasta engrenagem – hoje podemos dizer – da economia mundial.
Portanto, não é a publicidade que domina a Copa da Fifa. São os grandes patrocinadores mundiais (e, no caso da atual Copa em nosso país, também patrocinadores locais de grande expressão econômica).
Graças a eles, queiramos ou não, temos todos os jogos transmitidos pela TV ao vivo para mais de três bilhões de telespectadores. E todo um suporte de apoio a um evento que muito representa para a paixão de toda essa gente.
Na primeira Copa do Mundo realizada no Brasil, em 1950, quando a TV era um bebê engatinhando em poucos países (aqui no Brasil a primeira transmissão – TV Tupi – foi nesse ano, porém em setembro, com a Copa já terminada e consagrando o Uruguai), não tinha ainda sido iniciado o grande ciclo de desenvolvimento das comunicações, que a partir da TV acelerou essa história, com a possibilidade da imagem (muitas vezes já ao vivo) em nossas casas.
Nesse salto de seis décadas, o que temos hoje é realmente fascinante a serviço da humanidade, que não mais parou de usufruir das vantagens do avanço das comunicações, aprimorado de forma impensável nos idos dos anos 50, com o surgimento da web e todo o ferramental daí decorrente.
Em relação às gerações passadas, as quatro que hoje são premiadas com esse progresso tecnológico (avós, pais, filhos e netos que vivem nesta época sem precedentes na História, mesmo guardadas as proporções), consideram-se privilegiadas diante do arsenal disponibilizado por esse admirável mundo novo.
Por trás de tudo, porém, está o velho sistema de compra e venda, que se iniciou com trocas, entre os humanos. Graças a essa motivação sem igual no prazer e na própria necessidade de manter-se vivo, o homem evoluiu para a civilização cibernética, aperfeiçoando sempre os seus sistemas de comunicação, que na essência do mundo comercial conservam os mesmos objetivos de sempre, a mesma “canção” tocada hoje com instrumentos que confundem os saudosistas, mantendo porém viva a determinação de sempre se procurar o progresso do homem no futuro.
2. O que poderíamos denominar de #estáhavendoCopa (e ela agrada), vem sendo utilizado por um certo tipo de pensamento que adotou nos últimos tempos, e pelo menos entre nós, o hábito de criticar a imprensa, que chega a ser considerada por alguns políticos como “elite desagregadora” e até mesmo a compara a uma espécie de partido político atualmente na oposição.
Trata-se, a nosso ver, de mais uma artimanha para o preparo de terreno fértil à desejada (por essa corrente de pensamento) regulação da mídia.
Sim, a imprensa brasileira – e também boa parte da mundial – criticou as falhas nos diversos cronogramas estabelecidos para a realização da Copa do Mundo.
Até mesmo gente da política futebolística, reconhecendo esse descompasso, chegou a afirmar que no final tudo daria certo, porque o brasileiro sempre deixa para a última hora, mas entrega.
A imprensa traduzia a opinião pública, preocupada com os descalabros e a má gestão na condução do grande evento. Em dado momento, a preocupação era tamanha que o próprio presidente da Fifa chegou a desabafar, dizendo-se arrependido pela escolha do nosso país para sede desta Copa.
Em vez de elogiar a imprensa porque muito a ela se deve por termos até aqui uma boa Copa, com bons estádios e comportamento exemplar da população (este último quesito jamais nos preocupou; o povo brasileiro sempre soube receber bem, desde os indígenas quando chegaram os primeiros portugueses), criou-se em certas lideranças políticas diante do sucesso do evento até aqui, a oportunidade de voltar algumas semanas atrás e comparar o que dizia a imprensa com a realidade de hoje da Copa.
A imprensa, porém, como nos ensinou Rui, “são os olhos da nação” e naquele período pré-Copa, a nação em sua grande maioria desconfiava.
Se tudo, repetimos, está dando certo, por que não atribuir a esses “olhos da nação” o crédito hoje desfrutado? Ou, no mínimo, parte dele, pois coube às críticas dos jornais, revistas, mídia eletrônica em geral, dar os primeiros empurrões no trem que se não estava estancado, andava em marcha lenta, em descompasso com o cronograma das obras.
Os “olhos da nação” alertaram a opinião pública em geral e uma corrente positiva se formou, colaborando para o bom desfecho que vem ocorrendo.
Pensar e divulgar o contrário, só pode ser com segundas intenções.
3. Correção: o editorial da nossa última edição teve uma frase truncada: onde se lê “Já não nos surpreendemos mais com algo em torno de centenas de Leões conquistados”, em referência ao número de Leões atribuídos ao Brasil no Cannes Lions 2014, em estimativa feita antes da divulgação dos últimos resultados da premiação, leia-se “Já não nos surpreendemos mais com algo em torno de uma centena de Leões conquistados”. Foram 107 no total.
Este editorial foi publicado na edição impressa de Nº 2504 do jornal propmark, com data de capa desta segunda-feira, 30 de junho de 2014