1. Após o “depois do Carnaval”, o mercado – em continuação – tem ouvido o “depois da Páscoa” no relacionamento comercial entre empresas.
A prática não é gratuita; decorre de um cenário, pode-se dizer, inesperado para o momento que vive o país.
Com a crise de 2008, passamos a ter poucos períodos de fartura, mas, na medida em que nos aproximávamos deste ano, aumentava nossa esperança de que a realização da Copa do Mundo no Brasil provocaria na comunicação do marketing uma espécie de compensação a tamanhas dificuldades.
Não é o que se vê, já a menos de dois meses da abertura do grande evento da Fifa, uma entidade – a propósito – que de longe parecia melhor do que é na realidade.
Quando nosso país lidou com ela nos idos de 1950, tudo era muito diferente e ela mesma era dirigida por pessoas aparentemente mais idealistas, embora já sinalizando cacoetes que hoje explodem em um mercantilismo de fazer inveja aos grandes grupos financeiros mundiais.
A última da Fifa que acaba de ser revelada entre nós é a restrição ao trabalho dos ambulantes nos dias dos jogos, aqui em São Paulo impedidos de exercitar suas atividades no entorno do Vale do Anhangabaú e ao redor do Itaquerão.
Melhor registrando, poderão fazê-lo, porém credenciando-se antecipadamente nos postos locais da entidade, mediante determinadas exigências que sequer o poder público pratica.
A impressão que fica é a de que o Brasil foi alugado à Fifa, em troca de uma fatura que nos custará muito caro e com um adicional de decepção – e aqui sem culpa da entidade – se a nossa seleção não corresponder no torneio.
Esse quadro, idealizado inicialmente como positivo para o nosso país, deteriorou-se a partir das manifestações de junho passado, quando a insatisfação popular explodiu nas ruas em virtude das dificuldades de vida cada vez maiores.
Para piorar o cenário, essas dificuldades cresceram nos últimos dez meses, com o pipocar de escândalos nos hostes políticos e oficiais, acrescidos pela volta do fantasma da inflação, que o povo entende como o pior tributo que lhe é imposto.
Se no passado essas mesmas práticas não causavam repúdio imediato da população, não por paralisia social, mas por dificuldades de rápida aglutinação, hoje o mundo digital possibilita os contatos imediatos de todos os graus, expondo rapidamente as vísceras da insatisfação.
Os agentes do mercado vêm percebendo com clareza crescente os riscos que ameaçam suas marcas (junho está se aproximando e com ele a Copa) e têm resolvido por isso diminuir a marcha.
Querem evitar a exposição massificada das mesmas, que lhes parece aumentar o risco. Os anunciantes envolvidos nos patrocínios diretos e indiretos dos eventos da Copa do Mundo formam a minoria que prossegue ativa. Os demais – a grande maioria – têm se deixado levar por essa corrente do medo.
Certos ou errados contribuem para o aumento das dificuldades, desaquecendo a atividade econômica em um momento do qual muito se esperava e que não se repetirá tão cedo no Brasil.
2. Em audiência pública realizada no último dia 7, o Conselho de Comunicação Social do Congresso discutiu sobre o impacto negativo da publicidade produzida no Exterior para veiculação em nosso país. Destacaram-se os publicitários Orlando Marques, que compareceu como presidente da Abap Nacional e Gilberto Leifert, na qualidade de membro do Conselho. Os debates foram conduzidos por Fernando Mesquita, vice-presidente do órgão.
Na próxima sessão, será convidado a debater o representante da Divisão de Fiscalização da Ancine, que contém os números (ainda que aproximados) dessa produção publicitária que deve ser combatida sem tréguas, em defesa do mercado nacional.
3. O Manifesto dos Profissionais de Propaganda em Defesa da Autorregulamentação de responsabilidade do Conselho de Administração e da Diretoria-Executiva da APP e que publicamos na íntegra nesta edição, manifesta total apoio ao Conar, nesta quadra em que pseudos “tutores” da sociedade brasileira “tentam impor a total proibição da comunicação comercial de produtos destinados às crianças e adolescentes”.
O Manifesto atem-se especificamente ao Conanda, que tenta transformar em lei os termos da sua Resolução nº 163 de 13 de março passado, assunto já abordado (e criticado) neste espaço editorial do propmark.
4. A propósito, o deputado federal Milton Monti (PR-SP) apresentou no Congresso Nacional quarta-feira última (9) Projeto de Decreto Legislativo, sustando os efeitos dessa Resolução do Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, ligado à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República).
A peça elaborada pelo deputado Milton Monti decreta a sustação de todos os efeitos da citada Resolução do Conanda, sob a justificativa de que contraria a Carta Magna em diversos pontos, ferindo princípios de liberdade de expressão e comunicação social e, principalmente, no âmbito das suas competências.
A rigor, o trabalho do deputado Monti nem precisaria existir, se o Brasil fosse mais claro e menos interpretativo na sua legislação e dispensasse a exorbitância de membros de Conselhos que, como a própria designação sugere, não foram criados para legislar.
5. O movimento a favor da flexibilização do programa “A Voz do Brasil” (rede nacional de segunda a sexta nas emissoras de rádio) ganhou campanha publicitária que já está em veiculação em diversas plataformas.
A campanha não prega o fim de “A Voz do Brasil”, mas sim a sua flexibilização entre às 19 e 22 horas. Nada mais coerente depois que o Brasil deixou há décadas de funcionar somente entre 6 da manhã e 6 da tarde, como na época em que o programa foi instituído pela ditadura Getúlio Vargas.
O público das grandes cidades brasileiras, que formam a maioria da população do país, ouve rádio das 19 às 20 horas para se informar sobre o que está ocorrendo nessa faixa horária na sua cidade, no seu Estado, no Brasil e no mundo.
É estranho como certos produtos ditatoriais são mantidos intactos por governos que anos a fio se vangloriam de serem democráticos.
Este editorial foi publicado na edição impressa de Nº 2493 do jornal propmark, com data de capa desta segunda-feira, 14 de abril de 2014