Desenvolvimento humano é elemento intrínseco à comunicação
A comissão “Comunicação, crescimento econômico e desenvolvimento humano” contou com a participação de um dos homens mais poderosos da publicidade mundial. Martin Sorrel, ceo do WPP Group, enviou uma gravação onde disse que o Brasil é uma “fonte de poder econômico” e que “eventos como Copa e Jogos Olímpicos farão o mundo enxergar o país de outro modo” (leia mais aqui).
Também por vídeo, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que não vê razão para diferenciar a publicidade de outras disciplinas da comunicação no que diz respeito à proteção. “A publicidade não deixa de ser uma arte, um produto cultural, e deve ser protegida. A autorregulamentação é como se fosse a consciência de um ser. As pessoas com consciência bem formada agem de acordo com as leis e cometem bem menos delitos. E o mesmo vale para a economia: um setor que se autorregula é menos conflituoso e se relaciona melhor com a sociedade”, afirmou.
Coube ao publicitário Armando Strozenberg, ceo da Euro RSCG Brasil, presidir a comissão na manhã desta terça-feira (29) no V Congresso Brasileiro da Indústria de Comunicação. Ele, que afirmou que “como humanos da fase mais criativa do nosso planeta, é nosso dever entender o que nos espera em um futuro próximo”. O painel contou também com a participação de Caio Barsotti, presidente do Cenp (Conselho Executivo das Normas Padrão) como secretário-geral; do jurista João Luiz Faria Neto (advogado do Conar [Conselho Nacional e Autorregulamentação Publicitária]), como relator; e, como debatedores, o egípcio Tarek Farahat (P&G), o jornalista William Waak (Rede Globo), o economista Claudio Frischtak e o geógrafo Jailson de Souza e Silva, do Observatório das Favelas.
Farahat falou sobre a importância da comunicação para a P&G de forma global, dando ênfase ao momento da companhia no Brasil. Com 174 anos de existência, a multinacional aportou por aqui há apenas 25 anos e conta com somente 26 marcas de seu portfólio, que conta com mais de 200 globalmente. Porém, 26 que vendem mais de US$ 1 bi por ano e são responsáveis por fazer com que o nível de conhecimento do consumidor em relação à empresa tenha aumentado significativamente nos últimos anos. “Há 10 anos, apenas 9% das pessoas sabiam o que era a P&G aqui no país. Hoje, esse índice de conhecimento subiu para 73%. Mesmo assim creio que temos que intensificar ainda mais nossa comunicação para o público brasileiro”, explicou. “E nessa comunicação nós costumamos usar elementos que são verdadeiras paixões dos consumidores daqui. Por exemplo, patrocinamos a seleção brasileira de futebol. Também usamos a novela para divulgar nossos produtos, bem como celebridades como Faustão, Luciano Huck, Angélica e Gisele Bundchen, cada uma à sua maneira, mas com todos sendo tratados como embaixadores da marca – porque vendedores apenas vendem e embaixadores acreditam naquilo que divulgam”.
Indagado por Barsotti sobre o modelo de publicidade brasileira, o executivo disse que o país tem as melhores agências do mundo, só que o cenário da mídia está mudando. “Há alguns anos bastavam 30 segundos na TV. Hoje não. Outros meios, como o BTL, ganharam força. E não existe uma agência que faça tudo com excelência. Mas existem grupos, como é o WPP, que têm agências para tudo. E é isso que os anunciantes estão buscando”.
Frischtak preferiu falar sobre o que ele chamou de “esgotamento do nosso modelo econômico”, onde abordou o crescimento da classe média, que nos últimos 10 anos aumentou o seu consumo em índices de 10% ao ano, contra um crescimento inferior a 4% ao ano da economia do país. “Isso foi alavancado pela explosão do crédito e o fim da inflação. O problema é que podemos estar chegando a um final desse ciclo. E os consumidores das classes C e D, por exemplo, não possuem um plano B em caso de endividamento. São diferentes das classes mais altas, que possuem onde buscar recursos”, afirmou. O economista ainda ressaltou a importância de se investir mais na educação e, em relação à publicidade e ao marketing, disse que serão mecanismos tão importantes como hoje, mas que deveriam ser mais responsáveis. “É fundamental que a comunicação mobilize a sociedade civil”.
Quem também cobrou uma propaganda mais responsável foi Jailson de Souza, ao lembrar da Fiat, quando no início da década passada criou uma série de filmes com o mote “Está na hora de você rever os seus conceitos”. Em um dos comerciais, um motorista negro levava uma mulher branca no banco de trás. Porém, quando a câmera fechava na mulher, dava para ver que ela segurava um bebê, também negro, e o motorista era seu marido, e não o chofer – como um homem insinuava na produção. “Nosso desafio é produzir experiências sociais que nos ajude a construir outros tipos de pessoas. A propaganda não pode apenas estimular a população ao consumo. Pois isso faz com que um diferencie o outro pela marca que está usando”, enfatizou. Ele citou como exemplo o fato de ser um intelectual, mas que consegue olhar para a sociedade com a visão de quem sempre viveu na periferia do Rio de Janeiro. “No Obsservatório, temos programas para mestres e doutores de origem popular. Espero que, cada vez mais, eles estejam nas redações dos veículos e nas agências de propaganda, para levar suas percepções. É fundamental o reconhecimento do direito à diferença”.
Por fim, Waak, ao falar sobre crescimento e desenvolvimento humano, lembrou de um episódio de quando morava na Alemanha, como correspondente da Rede Globo. “Na época eram duas Alemanhas. E na Oriental, uma parte da população tinha acesso ao que ocorria na Ocidental, por conseguir sintonizar a televisão do outro lado do muro de Berlim. E sabe qual era a fatia do povo que mais desejava a unificação das duas Alemanhas? A que não sabia o que ocorria por lá. Quem tinha acesso às emissoras ocidentais já se achava um pouco entre eles, eram anestesiados pela comunicação”.