Dia do Professor: conheça os mestres que inspiram publicitários
“Não importa o que digam a vocês, palavras e ideias podem mudar o mundo”. A frase é do personagem John Keating, interpretado por Robin Williams no filme “Sociedade dos Poetas Mortos”. Trata-se de um dos mais emblemáticos professores da ficção.
A máxima de Keating sintetiza o poder desta profissão celebrada neste 15 de outubro. A citação, aliás, se encaixa perfeitamente no universo publicitário, onde se acredita que realmente ideias mudam o mundo (e vendem produtos, é claro).
Mas quais seriam os mestres dos profissionais da área? Perguntamos a alguns nomes de grandes agências.
Vitor Miguel, head de performance da WMcCann, tem como referência LeBron James. “Penso que a disciplina necessária nos treinos, o foco e a capacidade de se reinventar ano após ano em um esporte tão competitivo é algo que se assemelha muito à publicidade”, explica.
Para Miguel, vivemos em um mundo em constante evolução, onde a disciplina e o foco nos estudos para entender todas as mudanças de mídia e principalmente do consumidor são extremamente necessários. “Além disso, a capacidade de se reinventar tem total sintonia com o dia a dia de publicidade. São famosas as histórias de marcas que foram líderes de mercado durante anos, pararam no tempo e foram dominadas por outras que souberam acompanhar as mudanças de mercado. Tento sempre unir foco, disciplina e capacidade de reinvenção para não cair em uma zona de comodismo e conseguir trazer evolução para todos os clientes atendidos. Tais características vejo muito no LeBron, que ano a ano busca ultrapassar seus limites”, completa.
Já Claudio Lima, CCO da Cheil Brasil/Latam, relembra seu convívio com Edson Athayde, publicitário brasileiro radicado em Portugal.
“O Edson foi um dos precursores desse movimento de brasileiros no exterior e deve ter sido o primeiro a realmente fazer sucesso e virar referência no mercado para o qual ele foi. O Edson tem um jeito muito prático e inteligente de gerir a equipe, dar feedback e apontar direções e eu sempre tentei trazer isso para o meu estilo e para as minhas equipes”, revela.
Gabriela Hunnicutt, sócia e CEO da Bold, relembra um dos grandes nomes da propaganda nacional: Camila Franco, cocriadora do clássico “Primeiro Sutiã”.
“A Camila Franco foi minha grande professora. Claro que houve outros, mas ela foi quem me mostrou o melhor da propaganda. Com ela, aprendi a contar histórias que tocam as pessoas, e não aqueles filmes cheios de sacadinhas. Imagina, eu era uma redatora mega júnior (achei até que ia ser mandada embora quando ela entrou na Ogilvy) e ela apostou em mim; me pegou para cria mesmo. Mas olha, as aulas não eram fáceis, não. Me lembro de levar umas 20 páginas de títulos e ela me dizer com um sorriso maroto do rosto: ‘Você pode fazer melhor.’ E eu podia mesmo, ela sabia. Obrigada, mestra. Se hoje sou quem eu sou, pessoal e profissionalmente falando, boa parte foi graças a você”, agradece.
Rianni Bertoldo, diretora-geral da agência Moringa, de Brasília, diz que sempre amou propaganda, cinema e arte. “Com 16 anos decidi cursar publicidade e propaganda. Ao longo da minha carreira tive grandes professores, que me ensinaram, orientaram e me inspiraram. Hoje, minha homenagem é pra uma grande mulher que é minha mentora e amiga, Carla Maestrali. Carla foi minha chefe há muitos anos, dirigiu grandes agências no DF como a Lowe e a Leo Burnett e me inspira diariamente.”
Mais do que professores de publicidade, Marcelo Sverzut, diretor de criação da Innova AATB, agradeceu aos dois comunicadores que fizeram toda a diferença. “Homenageando a primeira e o ‘último’.
“A minha primeira professora foi minha mãe. A professora Silvia não foi só minha mãe, ela realmente foi professora de língua portuguesa e ensinou milhares de pessoas a ler e escrever, norma culta, gramática e literatura. Professora Silvia me ensinou a ler antes mesmo da escola, porque eu era o filho mais novo e não aceitava não saber ler, uma vez que meus irmãos já sabiam. E além de ler e escrever, ficou uma lição maior: se o seu público quer algo, não adianta tentar convencê-lo de outra coisa, dê a ele o que precisa da melhor forma que puder e acredite no poder de suas palavras, frases e ideias. Por essa lição, obrigado, mãe”, agradece o criativo.
“O ‘último’ (entre aspas mesmo) é o Dorinho Bastos, da ECA-USP. Digo ‘último’ porque foi meu orientador e fechou o meu ciclo na universidade. Houve outros depois dele, mas é dele essa honra. Chargista, desenhista, designer e diretor de criação, o Dorinho me fez perceber algo muito importante, numa explicação muito simples:
– Marcelo, você vai ser diretor de arte e eu tenho muito pouco a te ensinar, posso proporcionar uma vivência, ajudar a escolher que livros ler e dar uns pitacos, mas o meu maior papel é ensinar a todos na sala, que não vão ser diretores de arte, o que a gente faz, para tornar a sua vida no mercado um pouquinho mais fácil.
E é isso mesmo: a grande maioria das pessoas não percebe que a direção de arte está ali, ela simplesmente vê o que está a sua frente e gosta ou não gosta. E explicar para ela o que compõe o seu layout e como você foi brilhante em pensar tudo aquilo é a mais pura bobagem: atenha-se ao que precisa comunicar, use sua criatividade e faça funcionar. Forma e função. Por essa lição, obrigado, mestre”.
Simone Bispo, supervisora de conteúdo na Y&R, tem como professora uma artista que já vendeu mais de 100 milhões de discos. “Minha grande professora da publicidade é a Beyoncé, pois ela dá uma verdadeira aula sobre estratégia e planejamento quando lança algo. Seu show Homecoming é um belo exemplo e todos os detalhes podem ser vistos no documentário de mesmo nome”, explica.
Sua colega de agência, Aline Botelho, diz que há pouca representatividade de mulheres e pessoas negras no mercado. “Trago uma inspiração de agora — Samantha Almeida, head do Twitter Next Brasil. Ela vem mostrando há alguns anos como o conteúdo desafia e renova a publicidade, com projetos que focam em audiências mais diversas e plurais”, afirma a gerente de conteúdo da Y&R.
Alessandro Bernardo, diretor-executivo de criação da Artplan SP, não cita um nome, mas uma situação. “Como não me lembrar de um grande professor de filosofia que tive. Eu lembro como se fosse hoje. Um dia numa aula que tinha tudo pra ser só realmente mais uma aula e, ao entrar na sala, ele escreveu na lousa algumas coisas bem pequenas e praticamente ilegíveis, quase que cifradas, no canto superior direito, e tudo isso em silêncio. Logo após, se apresentou e seguiu com o tema da sua especialidade. Só no fim da aula já com seus materiais didáticos nas mãos abraçados contra o peito quase na porta, ele se mostrou decepcionado e extremamente desapontado com o fato de que ninguém, absolutamente nenhum dos alunos ali presentes, perguntou ou se mostrou curioso sobre o que era aquilo. E ele foi enfático: ‘Se vocês pretendem trabalhar com comunicação, a curiosidade é um fator determinante, e vai abrir caminhos, que levarão a outros e outros, sem fim'”.
“Por isso, nesse dia, queria reforçar esta importância e estender o convite a sermos incansáveis curiosos, seja por cinema, séries, biografias, romances, Podcasts, Rock, Pop, música erudita, Stones, Elton John, Gil, Caetano, Maria Bethânia, Sertanejo, Tiê, danças, exposições, feiras livres e de tecnologia, instrumentos musicais, jardinagem, cozinhar, experimentar sabores, escrever, ter filhos, meditar, correr uma maratona, pedalar, nadar, ler o pequeno manual antirracista da Djamila Ribeiro, saber sobre o que Greta Thunberg protesta, ouvir como pensa e o que escreve o Emicida, fazer dancinhas no Tik tok, fazer cursos de como usar melhor o Reels, conhecer o plano de menina da Viviane Duarte, ler Martha Medeiros, ver as tirinhas da Mafalda, seguir a Michelle Obama nas redes sociais. Pois, infelizmente, naquele dia eu fui um dos que não fiz a pergunta, da qual não sei a resposta até hoje. Aprendi a lição”, finaliza Bernardo.