Fundo de Auxílio Emergencial auxiliou veículos jornalísticos durante a crise da Covid-19 (Reprodução)

Em abril deste ano, o Google lançou o Fundo de Auxílio Emergencial ao Jornalismo, organizado pelo Google News Initiative, para ajudar nos impactos gerados pela Covid-19 em pequenas e médias publicações e sites de notícia em todo mundo.

Mais de 5.600 veículos de 115 países do mundo foram beneficiados com US$ 39,5 milhões em recursos. Como condição, o Google pediu que o financiamento fosse utilizado pelas organizações agraciadas para o exercício do jornalismo original, e também na produção de notícias. “Ainda como parte do processo, uma vez que o fundo tenha sido distribuído, entraremos em contato com as organizações escolhidas para pedir um simples relatório de conclusão, em que descrevam como o fundo foi utilizado”, explica Erica Noda, gerente de relações com a indústria no Google Brasil.

Um dos agraciados foi a Periferia em Movimento, “uma produtora de Jornalismo de Quebrada”. Thiago Borges, cofundador e gestor de conteúdo da empresa, explica que após 11 anos de história, se reinventando de tempos em tempos, há pelo menos cinco a Periferia em Movimento chegou a um modelo de negócios em que o financiamento das ações como ocorre no mercado convencional do jornalismo não se aplica.

“A publicidade direta, com anúncios nos nossos canais, nunca foi uma opção viável por demandar muita gente na prospecção e por se basear principalmente no número total de pessoas que assistem. Nós nos sustentamos prestando serviços diversos de comunicação a organizações maiores, produzimos branding content e realizamos encontros de aprendizagem com parceiros, além do acesso a financiamentos públicos. Com a pandemia, porém, muito do que estávamos negociando ficou suspenso. Apostamos inicialmente no fortalecimento de uma base de assinaturas. Mesmo assim, a nossa vulnerabilidade recorrente só aumentou com a pandemia. Então, o fundo emergencial veio em um momento muito oportuno”, elucida o jornalista.

O fundo deu maior fôlego para o veículo se reorganizar no novo cenário com uma segurança financeira mínima. “Obviamente que a situação nunca foi tranquila pra gente, que faz jornalismo de quebrada. Mas, assim como todas as outras questões de desigualdade que vivemos no Brasil, essa também é mais uma que foi acentuada com a crise do coronavírus”, diz.

A Folha de Pernambuco também foi outro veículo que recebeu o fundo. Segundo Fagner Albuquerque, gerente de marketing digital do veículo, diversas ações foram feitas com o recurso disponibilizado. “A principal foi que conseguimos investir na plataforma do Portal da Folha (melhorias), aumentando a capacidade do servidor e melhorando a infraestrutura. Assim, conseguimos dar mais velocidade e agilidade à notícia fazendo com que o nosso colaborador pudesse trabalhar online (remoto) com mais facilidade e para nossos leitores acessarem o portal sem ter problemas”, revela.

Manter a redação funcionando com sua capacidade máxima – ajustando horários – foi outro resultado da ajuda do Google. “Continuamos circulando com o Jornal Impresso, pois estávamos encontrando dificuldades em comprar a matéria prima para rodar o jornal durante a semana”, conta Albuquerque.

Erica também destaca esforços que visam o combate à desinformação. “Neste ano, criamos um outro fundo, este de US$ 6,5 milhões, voltado a organizações de checagem pelo mundo. No Brasil, o Comprova — grupo colaborativo de verificação de conteúdo enganoso formado por 24 veículos, como Estadão, UOL e Estados de Minas — foi contemplado”, exemplifica.

Segundo a gerente, durante o processo de seleção ao Fundo de Auxílio Emergencial ao Jornalismo, o Google ouviu dos veículos que a publicidade continua sendo sua principal fonte de receita, embora uma boa parte já trabalhe em modelos de assinatura, memberships e contribuições.

“Nossa pesquisa mostrou que ao menos 30% dos veículos operam alguma forma de paywall, e 60% deles dizem que tem planos de diversificar fluxos de receita. Acreditamos que essa diversificação deve se acentuar e evoluir em maturidade nos próximos anos, e, junto com outras fontes, como eventos e branded content por exemplo, devem ajudar a se criar um ecossistema mais equilibrado, sustentável e saudável”, afirma.