Dilema: ter ou não ter?

Por quase toda minha vida sofri de inspiração, falta ou excesso. Nunca soube dizer quem ou o que me inspira. Essa pergunta, aliás, era um tormento pra mim, eu ficava constrangida por não ter a resposta!

Ora não me identificava com nada nem ninguém, ora via magia em todas as coisas. O fato é que eu sempre trabalhei muito, dias inteiros, anos seguidos, vários jobs ao mesmo tempo, meus dias eram só ação sem tempo para o “inspira”.

A descoberta da minha grande influência aconteceu de repente, depois de um longo percurso: arte, filosofia, família, terapia, astrologia, fisiologia… Não exatamente nesta ordem.

Sempre gostei de história da arte, minha matéria preferida no colégio, na faculdade, nos cursos livres que adoro fazer. Se você mergulha neste universo descobre que a musa inspiradora não aparece para todos os grandes mestres. Vários ficam famosos depois de mortos, muitos trocaram obras por prato de comida. A subsistência os motivava! Quando comecei a escrever profissionalmente, eu me perguntava toda vez que abria uma lauda: que horas vai nascer a poderosa e criativa frase que vai guiar esta reportagem?

A inspiração, claro, não vinha, então eu apelava para o propósito da comunicação jornalística: o que todo mundo precisa ou quer saber, vamos lá, Millena, coloca agora isso no papel!

Os relacionamentos vividos fazem as suas contribuições. Pai e mãe são nossa primeira referência, há filhos que repetem os passos de seus pais, irmãos balizam o ser individual que somos, alguns competem eternamente outros se unem para sempre e entre amigos surgem as primeiras comparações e alianças.

Mas são as histórias vividas a dois, ou três ou mais, dependendo do compromisso íntimo selado, que impactam diretamente nas decisões mais importantes que tomamos ao longo da nossa existência.

Acompanhar ou não o marido/mulher, aceitar a promoção e mudar de país, usar o dinheiro do futuro pra fazer agora a sonhada especialização, parar tudo e ter filhos. E temos ainda de lidar com as conclusões alheias, há quem ouça do outro que já não serve mais pra isso, que deveria estar fazendo aquilo…

Quando passamos por tudo isso, onde está a nossa grande inspiração para nos manter centrados? Por que nos deixamos levar? Decidimos só com a cabeça ou só com o coração, falta equilíbrio, o foco sai do horizonte, a fonte dos sentidos parece que seca. As sessões de terapia poderão, ou não, explicar.

No meu caso, seis terapeutas, nos últimos 20 anos, ajudaram e muito. Sim, não economizo esforços, eu gosto de descobrir os porquês. No meio do caminho, decidi fazer pilates, depois experimentei ioga e passei a praticar meditação – tudo isso RESPIRANDO!!! Senti a força física que meu corpo tem, descobri que posso controlar minha mente.

Atividades físicas que, embora algumas vezes a gente realize em grupo, os exercícios só podem ser feitos individualmente, então a conexão consigo mesmo é inevitável e muito poderosa. Hoje tenho a clareza de que meus sonhos e meus desejos são fortes o suficiente para me impulsionarem, minha grande inspiração sempre foi eu mesma, tenho gosto por vencer desafios, superar obstáculos, enfrentar medos e persistir.

Estou comprometida com a minha história pessoal, por isso que, olhando para fora, nunca consegui responder àquela pergunta. E você, sabe dizer o que lhe inspira?

Millena Machado é jornalista e âncora do “RedeTV News” e do “Lado Pessoal”, podcast da Rádio Antena 1