Dona Dalva

Abilio tentou e não conseguiu. Michel está tentando, mas está difícil. Maria Dalva Couto Mendonça – Dona Dalva – e Helder Mendonça – Helder – conseguiram: resgataram o sonho. Assim como a estilista Isabela Capeto anos atrás.

A entrevista com Helder Mendonça na revista PE&GN está terminando. Robson Viturino lança uma última pergunta: “Quais figuras daqui e de fora inspiram você?” Hélder responde de bate pronto: “A turma do 3G Capital é um baita exemplo… um trio de empresários de tirar o chapéu (Lemann, Telles e Sicupira)… para figuras como eles o que conta é o espírito empreendedor… falam por aí que, depois dos US$ 100 milhões, não faz diferença ter esse montante e US$ 1 bilhão. Ninguém dá conta de almoçar ou jantar mais de uma vez…”.

Helder não conhece a obra dos três por inteiro. Não troco os 3Gs x 1.000 com todos os seus bilhões de dólares por uma Dona Dalva… Forno de Minas começa em família e numa pequena loja de 40 metros quadrados. Mãe e dois irmãos: Dalva, Hélida e Helder. O pai morreu quando os dois eram meninos. Receita do pão de queijo da família. Como Dona Dalva fazia na gamela. Ovo caipira e queijo canastra. Quando a produção cresceu, por determinação da Anvisa, precisaram procurar matérias-primas similares e correspondentes. Dona Dalva, por ela, fechava o negócio a ter de atender tão descabidas exigências.

Depois de uma temporada nos Estados Unidos, onde estudou, Helder acostumou-se com os pratos prontos. E, no retorno, na decolagem do Forno de Minas, quando os únicos congelados que habitavam o autosserviço eram almôndegas, quibes e hambúrgueres, decidiu fazer o pão de queijo congelado. Fabricar foi fácil. Congelar, também. Vender, distribuir, entregar e expor é que era uma quase impossibilidade. Nos freezers existentes e inadequados, muitas vezes as bolinhas do pão de queijo desmantelavam e viravam uma gororoba. Tiveram de desenvolver com a Metal Frio o freezer de correr.

A família apostava na praticidade. Que mais cedo ou mais tarde até em Minas as mulheres prefeririam trocar o trabalho que dava preparar a massa e comprar a bolinha pronta no supermercado. Estavam certos. Nove anos depois, 1999, a Forno de Minas era uma negócio de 1,6 tonelada por mês, e líder absoluta de uma categoria que praticamente criou: 70% de share of market. E aí chegou a Pillsbury (General Mills) e comprou a empresa por estimados – valores da época – R$ 80 milhões.

Os novos donos resolveram mexer na receita: questão de margem. Dona Dalva incomodou-se. Foram diminuindo a presença de queijo e aumentado o aromatizante. Decidiram comprar o negócio de volta, resgatar o sonho, de uma empresa prestes a fechar as portas. Os 70% tinham virado 10%. Hoje, de volta com a família, recuperou metade do mercado, e continua avançando. Neste momento, a Forno de Minas cumpriu todo o caminho para abertura de capital, aguardando apenas o melhor momento para tomar essa decisão. Melhor ainda, resgatou uma marca de excepcional qualidade. Que mesmo com poucos anos de vida foi capaz de dar vida a um prosaico e delicioso hábito das famílias mineiras, de convertê-lo em categoria de produto.

Por tudo o que ocorreu, pela importância do resgate, em defesa da mais jovem das marcas legendárias brasileiras, eu proponho que antes da abertura do capital a embalagem sofra uma mudança. Mais que uma mudança, uma correção e merecida homenagem. No lugar do forninho de tijolos do logotipo, a fotografia de Maria Dalva Couto Mendonça. A Dona Dalva. Mais que merecido.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing