DPZ define sucessores e evita fusão

 

Após meses de rumores sobre qual seria o destino da DPZ, hoje parte do Publicis Groupe, a companhia inicia uma mudança profunda. Os fundadores José Zaragoza e Roberto Duailibi, à frente da DPZ por 46 anos, deixam a direção da empresa, que agora tem nova diretoria, comandada por Tonico Pereira. Flávio Conti, que estava há 42 anos no comando operacional da companhia e era o CEO, também deixa o cargo. Os três profissionais atuarão como conselheiros da DPZ a partir de agora.

A sucessão era um dos pontos mais críticos para a agência desde a venda de 100% das ações para o grupo francês, em 30 de dezembro do ano passado. Outro rumor que assombrava a companhia era a possibilidade de fusão com outra agência do grupo Publicis no Brasil. O conglomerado francês é dono de Neogama/BBH, Leo Burnett Tailor Made, Talent, Taterka, F/Nazca S&S e da rede de agências Publicis Worldwide, que inclui Publicis Brasil, Salles Chemistri, Publicis Dialog e AG2 Publicis Modem e cogitava diluir a estrutura e a carteira da DPZ em uma de suas empresas no país.

Uma fusão, contudo, foi descartada. A opção cogitada era unir a agência à estrutura da Talent ou da F/Nazca S&S. Sem fusão, a agência agora passa a integrar o guarda-chuva da Publicis Worldwide. Antes disso, ela estava dentro da estrutura da Saatchi & Saatchi no país. Com a alteração, o comando da agência passa a responder para Roberto Lima, chairman da rede Publicis Worldwide no país.

“Falou-se em fusão para melhorar a eficiência do grupo no país, mas essa opção foi descartada. Pelo desempenho da DPZ, pela sua carteira de clientes e pela sua história, achou-se melhor que a agência deveria continuar operando de forma independente”, afirma Conti. O executivo diz que não tem “nada contra fusão”, mas aponta que foi a melhor solução “para a autoestima da companhia”.

A mudança foi comunicada aos clientes na semana passada. A DPZ atende 20 contas atualmente, incluindo Itaú (dividida com Africa e DM9DDB), Sadia (áreas de frango, presunto e queijos), Vivo (dividida com Africa, DM9DDB  e Y&R) e Azul. Recentemente, ela também conquistou Serasa, Ovomaltine e grupo BMW, além de reconquistar Bombril.

A definição do destino da DPZ é vista com certo alívio, ainda que velado. “Essa era uma nau que há um ano não estava em velocidade de cruzeiro”, afirma Pereira, em referência ao clima de incerteza que rondava a companhia. “Conti foi o promotor da venda, da reestruturação e da sucessão. Agora é a hora de colocar em prática o que havia sido desenhado. Eles (os sócios) estão prontos para o desmame”.

Novo board

No lugar dos sócios, um board de seis diretores assume a gestão da agência. Pereira, que atuava como COO (chief operating officer), responderá como diretor-geral desse grupo. O cargo de CEO deixa de existir. O restante do board é formado por Rafael Urenha (criação), Flavio Rezende (mídia), Alvaro Ferreira (finanças), Daniel Jotta e Elvio Tieppo (cada um ocupa uma diretoria de atendimento). “Temos que ser ágeis como uma agência independente e fortes como uma empresa que tem a musculatura de um grande grupo”, resume Pereira.

Um desafio é a digitalização da empresa. Desde que a agência vendeu a primeira leva de ações ao Publicis, ainda em 2011, ela vem renovando o quadro de profissionais. “Mais da metade da nossa equipe é nativa do digital aqui”, afirma Pereira. “A construção de marcas se dá no multimeio. O que precisamos aprender é o papel de cada meio nesse processo e como eles se conversam”.

O executivo diz que a chave da agência é aumentar a produtividade e fazer uma entrega melhor por menos, o que inclui melhorar o nível profissional. Um reforço de 15 pessoas começa a chegar à empresa, principalmente para as áreas de mídia online, business intelligence (que dá apoio à área de mídia, principalmente ao investimento em digital) e ao planejamento. “A DPZ irá avançar com essa nova formação. Vamos dignificar essa marca”, diz Conti.

Sede em jogo

Segundo fontes do propmark, o grupo Publicis decidiu alugar um espaço para abrigar algumas de suas agências, incluindo a DPZ, cujo prédio atual pertence aos antigos sócios. Pereira diz que, por ora, nada muda. “Toda empresa deve considerar racionalização de espaço e melhorias de infraestrutura. Estamos abertos a isso. Não há, no entanto, qualquer movimentação formal nos envolvendo. Ficamos por aqui”, garante.

Criação renova processos

Rafael Urenha, há 17 anos na DPZ, é quem terá a árdua missão de substituir José Zaragoza e Roberto Duailibi, sinônimos de liderança criativa na publicidade brasileira. Urenha começou na companhia como assistente de arte e, seis meses depois, foi promovido a diretor de arte e passou a trabalhar com Duailibi. Na época, a agência era dividida por andares e cada sócio tinha sua equipe de criação e sua carteira de clientes.

Após quatro anos com Duailibi, Urenha ficou por sete anos com Zaragoza até se mudar para o andar de Francesc Petit (um dos fundadores da agência, morto em setembro de 2013). Há dois anos, Urenha atua como diretor-geral de criação e, com a nova formação, responderá como CCO (chief creative officer) da DPZ.

Ele afirma que essa não é só uma mudança de nome, mas de processos. “Estamos promovendo alterações importantes, como integração de equipes. Estamos levando toda a criação, planejamento e atendimento para um andar e misturando os profissionais de digital e de offline”, cita.

O anúncio do novo board chega como uma resposta a uma extensa onda de possibilidades que sondavam a agência, inclusive internamente. Neste ano, por exemplo, ela inscreveu poucos trabalhos no Cannes Lions pela indefinição se continuaria como DPZ. Com o esclarecimento, a agência espera voltar a disputar contas.

“O ato de bater o martelo sobre quem segue com a agência é importante para quem trabalha aqui e para o cliente. Após tanto boato, continuar com o nome DPZ é motivo de orgulho e grande responsabilidade honrar essas três letras”, enfatiza Urenha. DPZ representa as iniciais de Duailibi, Petit e Zaragoza.