Duas frentes pelo Brasil
Está chegando a hora de dois megaeventos mundiais que dizem respeito à comunicação do marketing. Na verdade, o primeiro deles, o Cannes Lions, aparentemente só a ela diz respeito, mas o seu significado, devido ao crescimento e abrangência de praticamente todas as plataformas da comunicação comercial, extrapolou esses limites, interessando à própria economia mundial.
É fácil compreender essa assertiva, uma vez que o marketing e suas disciplinas mais relevantes, como a publicidade, o promo, o direct e o design, além dos cases especiais do vasto complexo de mídia, traduzem a força da economia de cada mercado. Trata-se hoje de uma regra de três simples, aceita pelos analistas econômicos que, quando pertencentes a sistemas fechados, relutam um pouco, mas acabam enxergando as evidências produzidas inicialmente pelo capitalismo, mas já em uso em diferentes sistemas de governo.
O fato do Brasil ser o segundo em número de inscrições de trabalhos este ano (ver abaixo em Você Sabia?), não significa dizer que se trata da segunda economia do planeta, da mesma forma que o país mais premiado ao cabo do Cannes Lions, não apontará necessariamente para o que ocupa o primeiro lugar nesse ranking (Estados Unidos).
Mas não se trata de simples coincidência os primeiros desse ranking de inscrições (Estados Unidos, Brasil, Reino Unido, Alemanha e França) terminarem o Cannes Lions ocupando os primeiros lugares nas premiações, embora não nessa ordem.
O segundo megaevento mundial é a Copa do Mundo de Futebol da Fifa, cujos principais protagonistas são os atletas convocados para integrarem as 32 seleções nacionais que, a partir da próxima quinta-feira (12), correrão como loucos atrás daquela estatueta de ouro maciço pesando mais de 6 quilos (N. da R.: Como o Brasil é o maior favorito, já está decidido onde ela ficará depositada, depois de percorrer todo o país, em uma caravana que só os políticos verdadeiramente profissionais sabem organizar? Esperamos que não seja em um lugar de fácil acesso, como ocorreu com a “falecida” Jules Rimet).
Mas não serão somente eles os atores dessa Copa. Há muito mais envolvidos e o que nos interessa, neste propmark, é pôr em relevo a importância da Copa para a publicidade (e vice-versa).
Uma boa parcela do público brasileiro dá sinais de esgotamento diante das campanhas, comerciais, anúncios, promoção, merchandising etc. que estão sendo exibidos sobre a Copa. Há até quem esteja fazendo bolão que será ganho por quem acertar quantos comerciais o Felipão fez, carregando em alguns seu Sancho Pança Murtosa e em outros a sua verdadeira família Scolari, aquela que com ele convive sob o mesmo teto.
Nesta altura dos acontecimentos, porém, contra ou a favor da vontade deste ou daquele brasileiro (o país mostra-se dividido nesse quesito), temos que apoiar nossa Seleção, porque a maioria dos craques que nela estão – se não bastasse o fato de representarem o Brasil – saiu dos nossos clubes do coração, alcançando o teto do planeta bola.
A vitória da nossa Seleção vai beneficiar o governo? Isso pode se traduzir em vantagem geral para o povo, que passará a cobrar não apenas o que vier a cobrar (e será muito) em caso de catástrofe, mas tudo isso e muito mais, por uma razão muito simples: o governo contribuindo tanto e a Seleção chegando lá, por que não contribuir (o governo) diariamente com essa outra Seleção que é o povo, que tem vivido um inferno nas grandes metrópoles, destacando-se São Paulo, onde somos impedidos até do sagrado direito de ir e vir?
É bom que pensemos assim, leitor, porque o pior dos mundos será a derrota da Seleção, ainda mais ocorrendo prematuramente.
Como nossos governos, quando querem, demonstram uma inigualável capacidade de inverter as coisas, não faltarão candidatos entre nós a expiar a culpa pela derrota.
Estamos querendo dizer com isso que a acusação que há tempos se ouve por parte da população, de que se gastou muito com a Copa, não irá atingir os verdadeiros responsáveis.
Com certeza, aparecerão outros, possivelmente não citados até aqui, que carregarão a cruz da derrota. Esse desenlace em nada nos surpreenderá, pois de há muito tem sido assim.
Então, mãos à obra. Vamos torcer como nunca pela Seleção, até porque a maioria da população brasileira não sentiu o que é uma Copa em casa. Os poucos sobreviventes de 1950 não tiveram o privilégio nessa Copa perdida, de conviver com a mídia aos seus pés. Sentiram o frio da desgraça naquele final da tarde de 16 de julho, que não ecoou por todo o país de forma retumbante, até porque com a mídia então restrita, optou-se por um silêncio absoluto e até obsequioso, uma espécie de solidariedade acima da média esportiva e até parecida com a de alguns poucos anos antes, quando se recebiam nos portos da nação, os jovens caídos em combate na Itália.
Na dúvida, opte pelo Brasil, nem que seja apenas e principalmente pelas suas crianças, que jamais votaram em quem votamos e têm o direito de desfrutar intensamente desse período único das suas vidas.
Faça o teste, leitor, perguntando a elas, filhos, netos, sobrinhos ou vizinhos, para quem vão torcer. Podem até não falar Brasil, mas falarão Neymar, o que dará no mesmo.
Não se trata de ingenuidade. É que nos seus corações, não habita o ressentimento.
Este editorial foi publicado na edição impressa de Nº 2501 do jornal propmark, com data de capa desta segunda-feira, 9 de junho de 2014