É a cara do pai

Agora, ninguém é o pai da criança, assim como ninguém é autor da campanha #Brasilnãopodeparar. Parece que brotou no meio do asfalto, como uma planta ou uma árvore que, do nada, nasce em lugar tão inóspito e intriga tanta gente.

Também intrigou o mercado publicitário, que até agora não sabe ao certo quem criou ou qual mente teve a brilhante ideia de criar tamanha asneira. O conceito é bom, mas completamente fora de hora e propósito.

Será que uma agência faria tal trabalho neste momento? Será que alguém “letrado” na comunicação e no marketing faria algo semelhante?

Ninguém assume a paternidade. Muito se falou e o jogo de empurra foi frenético. Só faltou “a turma do deixa disso”, até que alguém lúcido, como a juíza Laura Bastos Carvalho, da Justiça Federal do Rio de Janeiro, acatou no último dia 28 pedido de suspensão da campanha, formalizado pelo Ministério Público Estadual fluminense.

Com a decisão, a campanha não pode ser exibida em nenhum meio de comunicação, felizmente, nem nos digitais. Na verdade, não houve compra de mídia para ação. Daí fica mais difícil ainda saber quem é o pai do “belo” bebê.

O conteúdo foi publicado na página do Facebook do senador Eduardo Bolsonaro (Republicanos/RJ) e também nas páginas da Secom no Twitter e Instagram, mas logo foi retirado do ar.

Diante de tais evidências dá para arriscar um palpite sobre a autoria da campanha, dá até para afirmar: “É a cara do pai!”. Mas, não podemos acusar sem provas, embora essa prática tenha virado rotina em certos escalões. A criação do filme foi atribuída inicialmente à Isobar, cujo contrato com o governo terminou na última terça-feira (31) – Ufa! Escapou por pouco –, mas ela negou solenemente que tenha desenvolvido o projeto.

Depois circulou no mercado que teria sido a IComunicação, que venceu pitch para atender à área digital do governo em substituição a Isobar e TV1, e vai administrar uma verba de R$ 4,8 milhões por seis meses.

Mas a agência também afirma que não foi ela quem produziu a campanha O Brasil não pode parar, já que não poderia trabalhar antes do início do contrato. Faz sentido.

Resta, então, a dúvida e a triste sensação de que estamos numa barca furada, já que nem os prestadores de serviços têm coragem de assumir a proeza ou se distanciam dela. O mercado publicitário brasileiro tem se mostrado solidário em todos os momentos e não dá para acreditar que uma agência ou um profissional tenha desenvolvido tal ação.

Triste país que tem de se esconder atrás de um palácio, diante de um surto sem precedentes, como o contágio do novo coronavírus. Essa, assim como outras tantas, não caiu bem e o governo se vê atolado em muitas ações e atitudes que o descredenciam.

Em um momento grave em que todos – apavorados – se unem, até grandes marcas, que no futuro devem merecer o respeito do consumidor, o governo não poderia achar que está acima de qualquer coisa ou pessoa.