É ano de Copa: o que 2014 me fez sentir na pele
Quando 2018 apontou, logo na virada das horas, pensei: é ano de Copa! A sensação é de que fazia poucos dias que corríamos com os preparativos ao lado de profissionais dos quatro cantos do mundo para fazer acontecer o maior e mais importante evento mundial que tive orgulho de participar. Desde então, quatro anos se passaram, já nos encontramos às vésperas de mais uma Copa do Mundo, e não há hora melhor para analisar quais eram as expectativas antes do Mundial e compará-las com os nossos resultados.
Muito se falou sobre o legado, e não podemos esquecer que ele vai muito além da arena propriamente dita. Trata-se de investimentos que refletem uma herança para a geração seguinte, seja no esporte, seja na cidade, no meio ambiente, no turismo e até na economia. Mas não se pode ignorar que uma das expressões que mais acompanharam a palavra “legado” foi “elefante branco”, fazendo referência às arenas. No período pré-Copa, eu me arrisco a dizer que as duas expressões eram quase amigas inseparáveis.
O período de preparativos me mostrou, de forma escancarada, e em dimensão nunca vista por mim antes, a grande dificuldade de planejamento do nosso país. De 12 arenas, fomos a única a ser entregue dentro do orçamento e no prazo estabelecido. Ainda assim, de lá para cá foram muitas lições, respondidas com trabalho, aperfeiçoamento e aprendizado.
O pós-Copa, muitas vezes satirizado pela opinião pública e questionado internacionalmente, tem no Mineirão bons números para se amparar. Desde 2013, somente em partidas de futebol, 6 milhões de pessoas passaram por aqui. Duas das três maiores rendas do futebol das Américas foram obtidas no Mineirão. Sem contar o público dos mais de 250 eventos que, intercalados com o futebol, mostraram para todo o País o real significado de arena multiuso. Não posso deixar de registrar também o trabalho que vai além das quatro linhas: como nossa adesão ao Pacto Global, a certificação na categoria máxima do selo Leed de sustentabilidade e o Museu Brasileiro do Futebol, que dissemina o esporte bretão como cultura.
Belo Horizonte entrou definitivamente para a rota dos grandes espetáculos. E a Esplanada, projetada para receber com tranquilidade o público dos jogos da Copa do Mundo, com detectores de metais operados pela segurança da Fifa, hoje é diariamente ocupada pela população da cidade para a prática de esportes e lazer. Seus 80 mil m² estão sempre recheados de programação e eventos para todos os gostos e bolsos.
Sem o “sufoco pré-Copa”, não teríamos bagagem para carregar o gigante de hoje. Começamos gerindo uma empresa sem benchmark no País, com dificuldades operacionais e não muito admirada pelo público à época. Orgulhosamente afirmo que hoje sou responsável por conduzir uma marca querida, que se tornou referência, sinônimo de qualidade, responsabilidade, tradição e (muita) emoção.
Até Paul McCartney provou e voltou. O 7 x 1 tornou o estádio conhecido em todo o mundo. Tite fez questão de ganhar de 3 x 0 dos hermanos e mostrar que o Mineirão é pé-quente. Afinal, o estádio possui mais taças levantadas nos últimos anos do que qualquer clube ou arena brasileira. Mais recentemente, o Brasil voltou a enfrentar seu algoz em um amistoso, vencido pelo placar de 1 x 0. Apesar de magro, valeu para exorcizar de vez o fantasma daquela fatídica goleada. E o Mineirão, em um gesto de comemoração e agradecimento, iluminou-se por inteiro com as cores da nossa seleção.
Podemos comemorar: não foi fácil, mas fomos desviados da manada dos elefantes! Aproveitamos as oportunidades trazidas pela copa, aprendemos com as falhas e mandamos nosso recado ao Brasil de que, aqui, podemos nos orgulhar, pois a Copa valeu a pena.
Ludmila Resende é gerente de relações institucionais do Mineirão.