E Watergate, presidente?
1. O marqueteiro político João Santana pula nas Havaianas sempre que a candidata presidente da República Dilma Rousseff se inspira e faz afirmações como aquela sobre a investigação jornalística.
Não precisamos sequer falar do que veio depois, na Assembleia Geral da ONU, quando ela criticou os ataques aéreos dos países do Primeiro Mundo, aos focos dos rebeldes islâmicos que estão degolando cidadãos desses países com cenas gravadas e espalhadas pelo mundo através da web.
Segundo a presidente Dilma Rousseff, os Estados Unidos e seus aliados nessa luta deveriam optar pelo caminho do diálogo ao invés de lançar bombas que atingem inclusive inocentes.
Em tese, é até comovente a preocupação da nossa presidente, mas na prática sabemos que não há sequer como localizá-los para marcar assembleias, como os partidários da presidente Dilma Rousseff fazem aqui, quando desejam aprovar medidas que podem afetar a população.
Essas assembleias podem até não representar legitimamente a população a ser atingida por aquelas medidas, mas cria-se um simulacro de democracia e todos terminam aceitando, porque não há outra saída.
Podemos citar como exemplo o caso das ciclovias em São Paulo, que invadiram ruas, praças e avenidas sem que os seus moradores previamente fossem avisados, espalhando o caos em algumas regiões da cidade, ao que parece sem volta, pois todo o processo da nova cidade tipo europeia que estão tentando “vender” para a população, envolve grandes interesses.
Voltando à presidente Dilma Rousseff, uma pessoa que passa seriedade, ela deveria evitar a tentação de dizer na base do improviso, tudo o que de repente, em meio a uma fala, lhe vem à mente.
Afirmar que não compete à imprensa investigar é o mesmo que dizer que não compete à presidente da República comandar o país.
São tarefas e responsabilidades inerentes tanto ao trabalho da imprensa, como à primeira mandatária da nação.
No dia seguinte à sua sentença de que não cabe à imprensa investigar, choveram nas redes sociais e nas seções de cartas dos jornais, opiniões contrárias de internautas e de leitores, lembrando como foi desmascarado o escândalo de Watergate, que acabou derrubando o presidente Nixon.
Tudo se deveu – como se recorda – à atuação investigatória de dois jornalistas do Washington Post, sendo que um deles, Carl Bernstein, foi depois trazido a São Paulo pelo propmark, em uma ação conjunta com a empresa do saudoso Caio de Alcântara Machado, para realizar uma palestra no Anhembi, relatando todo o case de Watergate.
O trabalho desses dois jornalistas americanos foi sobretudo investigatório, com uma boa e necessária dose do transpiratório, até o resultado final que ficará para sempre na história da imprensa mundial.
Fazemos daqui um apelo ao marqueteiro João Santana, leitor do propmark, para que procure aconselhar nossa presidente sobre o valor do que diz.
Afinal, trata-se da mais alta mandatária do país e que pode reeleger-se em outubro para mais quatro anos de governo.
Caso isso ocorra, vamos torcer para que seus pronunciamentos não tentem criar uma nova verdade no que está estabelecido e aceito por todos.
Porque, ao que se sabe, a imprensa só não investiga em países ditatoriais, nos quais o seu funcionamento é meramente reprodutor das notícias e notas oficiais.
2. O Dia do Rádio (25/9) foi comemorado intensamente em algumas emissoras, como a Band AM, que praticamente dedicou toda a sua programação do dia em homenagem a essa fabulosa mídia que muitos pensaram fosse desaparecer no Brasil com o advento da televisão, aqui instalada (TV Tupi) em 18 de setembro de 1950.
Pois o rádio, como sabemos, não só não desapareceu como multiplicou-se, aperfeiçoou-se e prossegue ocupando o lugar que sempre lhe coube nas chamadas mídias de massa.
A TV, hoje, passa por um período de certa forma semelhante ao que viveu o rádio quando ela surgiu. E não irá desaparecer nem tampouco apequenar-se. Ao contrário, integrando-se à web, como vem fazendo, reforçará tanto uma quanto outra, surgindo no futuro breve filhotes mais avançados desse acasalamento, todos ocupando o seu devido lugar ao sol.
Ainda sobre o rádio, inspirador deste tópico do editorial de hoje, quando se libertará desses fantasmas oficiais que se traduzem na “Voz do Brasil” e no horário eleitoral gratuito, este atingindo também a TV?
Sempre que chegamos em períodos eleitorais, damos graças a Deus por podermos votar mais uma vez e, ao mesmo tempo, como o caipira que acendia uma vela ao Todo Poderoso e outra ao diabo, desdizemos essa maldição que tem sido o horário eleitoral, verdadeiro atentado contra a democracia (embora para os seus defensores seja o contrário, ou porque lhes interessa, ou porque o seu conceito sobre a democracia contempla a imposição, dois valores irreconciliáveis).
A bem dizer, o próprio voto obrigatório é uma excrescência, piorada porque a rotulam de direito. Como posso ser obrigado a exercer um direito? Ou ainda, se é um direito meu, posso usá-lo ou não.
A decisão teria que ser minha.
3. Merece aplausos do mercado a decisão da alta cúpula do Grupo Publicis ao escolher Paulo Giovanni como novo chairman da Publicis Worldwide no Brasil (veja matéria nesta edição).
Paulo Giovanni tem uma longa carreira de altos cargos na publicidade brasileira, sempre semeando sucessos. As centenas de profissionais que com ele trabalharam e trabalham seriam, sem dúvida, seus eleitores se essa escolha se processasse por votação de parceiros diários de labuta.
Aproveitando um ditado internacional do mundo empresarial, a decisão do Grupo Publicis pôs o homem certo no lugar certo.
Este editorial foi publicado na edição impressa de Nº 2517 do jornal propmark, com data de capa desta segunda-feira, 29 de setembro de 2014