Economia deixa anunciantes cautelosos

 

Os indicadores da atividade econômica, como a nova alta da inflação e o crescimento moderado da economia, colocaram o mercado em estado de atenção neste início de 2014. Agências têm acompanhado o comportamento da economia e falam de clientes “atentos”. O IPCA, índice oficial que mede a alta dos preços, subiu 5,91% em 2013. Este é o quarto ano em que a inflação fica distante da meta, fixada em 4,5% pelo governo. O resultado são preços pressionados, menor poder de compra e atividade econômica arrefecida.

Elson Telles, economista do Itaú, grifa que a inflação preocupa por estar em tendência de alta ao longo dos últimos anos. “A inflação tem se mantido em torno de 6% há bastante tempo e, quanto mais tempo permanece nesse patamar, mais difícil fica de derrubar. É um valor muito menor do que foi no passado, mas está mais alto que nos outros países e acima da meta do governo”, pontua.

No consumo, os sinais são de desaceleração. Balanço da Serasa Experian mostrou que as compras entre os dias 18 e 24 de dezembro cresceram 2,7%, o menor índice para o período de Natal desde que a pesquisa começou, em 2003. Dados da Anfavea (associação das montadoras) do início de janeiro mostram que, pela primeira vez em uma década, a venda de automóveis caiu. O licenciamento de carros novos retraiu 0,9% em 2013 e é esperado que em 2014 cresça somente 1,1%.

Somados à alta da inflação, a falta de confiança do consumidor, o encarecimento do crédito e o aumento do endividamento também contribuem para o recuo no consumo. O número de famílias endividadas cresceu 7,5% em 2013 ante 2012, segundo balanço da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), divulgado no início do mês. A taxa básica de juros está em 10,5%. Desde abril do ano passado, o Banco Central tem elevado a Selic, numa forma de conter a demanda e arrefecer a inflação.

“Está havendo um resfriamento. Além dos indicadores econômicos, as famílias estão endividadas. A renda que poderiam estar usando em novas aquisições está sendo alocada para pagar prestações. O consumidor está reordenando o bolso, o que naturalmente impacta o consumo”, aponta Otto Nogami, professor de economia do Insper, instituto de ensino.

Celina Ramalho, professora de macroeconomia da FGV, observa um esgotamento na aquisição de bens. “O consumidor já atendeu em grande parte à demanda reprimida que tinha, e os itens de consumo demoram agora para ser renovados. Isso gerou um resfriamento muito grande no varejo. A população está vendo a tendência de alta dos preços, combinada com o amadurecimento do consumidor, que já adquiriu os itens que desejava”, analisa.

A retirada de estímulos dados pelo governo para determinados setores da indústria, como desonerações tributárias, também deve pesar no ano de 2014 para o Brasil, observa Telles. “Estamos no momento de reversão de estímulos e isso dificulta o consumo”.

Alerta

Dentro das agências ainda não foram feitas revisões nos planejamentos do ano, mas executivos do alto escalão observam de perto a evolução da atividade econômica. “Precisamos ficar atentos a uma eventual curva de desaceleração da economia que possa afetar o negócio dos nossos clientes”, afirma Marcio Toscani, CFO (Chief Financial Officer) da Leo Burnett Tailor Made, que atende empresas como Fiat, Samsung e Carrefour. “Estamos trabalhando junto com eles para que a inflação tenha impacto mínimo nos preços”, explica.

Para José Eustachio, CEO da Talent, além dos índices da economia, a falta de confiança do consumidor e a incerteza do empresariado é o que mais tem pesado neste início de ano. “É claro que 2,5% de crescimento [previsão para 2013] não é o que queremos. Mas também não estamos passando pelo pior”, pondera. Ainda assim, a agência, que atende empresas como Net, Santander, Ipiranga e Alpargatas, vê um sentimento de “cautela” na sua carteira de clientes. “O humor de nossos clientes é de observação. É de buscar ter um diagnóstico mais consistente do que faremos nos próximos meses. Mas não tenho nenhum cliente assustado”, observa.

Como alento, as agências têm eventos pontuais, como a Copa do Mundo, em junho, e as Eleições, em outubro, que devem movimentar algumas categorias de produtos específicas, como eletroeletrônicos, e puxar para cima os aportes em mídia. “Acreditamos que o consumo em 2014 tende a ficar comedido. Mas o ano não será negativo”, projeta Hugo Rodrigues, COO e CCO das agências Publicis no Brasil.

Os analistas, contudo, mostram-se céticos sobre o real impacto da competição na economia. “A Copa vai parar o país por um mês e temos eleições em outubro, o que faz de 2014 um ano curto. Esses fatores tendem a refrear a atividade econômica. A tendência é que empresários, diante do cenário de incerteza, posterguem investimentos para 2015”, avalia Nogomi, do Insper. “A Copa não irá afetar a atividade econômica. É claro que, sem a Copa, as projeções estariam piores, mas não dá para estimar quantos benefícios ela poderá trazer”, afirma Telles, do Itaú.