Editorial: Cinquentão

1. Completando 50 anos hoje, mas com um corpão de 100 graças às 192 páginas da presente edição, recorde histórico do propmark, lamentamos o momento recessivo vivido pelo país, que tem infligido a todos os segmentos da economia e com destaque para as atividades que compõem a comunicação do marketing, trabalho triplicado com resultados pela metade.

O que mais se deplora nesse estado de coisas são os motivos que nos levaram a essa desagradável, preocupante e até injusta situação, nascidos pela incompetência e má-fé de figuras públicas que tinham por dever (e prometeram em suas campanhas) conduzir o Brasil para o alto e não atirá-lo às profundezas do purgatório.

Há que se deplorar ainda a mais importante solução encontrada pelas autoridades de plantão, que reside na falácia do aumento brutal dos impostos e taxas dos serviços públicos, vitimando a população (pobres, remediados, classe média, ricos e até milionários) por erros que não cometemos.

Como se não bastasse, nosso ministro da Fazenda declara à imprensa (Folha, 15/5) que os impostos podem aumentar (ainda mais) caso o Legislativo deixe de aprovar in totum o pacote fiscal que lhe foi encaminhado pelo Executivo, que não prevê cortes de pessoal na inchada máquina oficial e nem tampouco redução significativa de despesas por conta do erário.

Embora o ministro da Fazenda tenha vindo da iniciativa privada, é necessário lembrar S. Exa. que à empresa particular do país, pequena, média ou grande, quando surge uma crise como esta que atravessamos, não há outra saída que não as tradicionais: dispensa do pessoal, redução brutal e cuidadosa de outros custos e reza braba para tudo passar depressa, já que – diferentemente do que ocorre com o governo – nelas não se consegue, diante desse quadro recessivo, aumentar o faturamento como o governo procura aumentar suas receitas,  por meio da majoração dos tributos.

Falta ainda, a essa nova equipe econômica convidada por Dilma II, carisma suficiente para se dirigir à nação, demonstrando por A + B que em pouco tempo tudo se resolverá.

Ao contrário, o ministro Levy e seus comandados têm procurado comunicar prazos longos para a recuperação da economia, desconsiderando a lapidar frase de Keynes de que “a longo prazo estaremos todos mortos”.

O exagero fica por nossa conta, mas o recado é válido: na situação em que já nos encontramos, quantas empresas resistirão ao quadro atual até meados de 2016, como se preconiza?

A solução pode estar – já que o grande estrago foi feito – em remediar aos poucos, stop and go, sem doses cavalares e de duração imprevisível.

O país não aguentará essa “eugenia” econômica a longo prazo, que já provoca dispensas em massa na iniciativa privada, redução acentuada de vendas, diminuição do que se produz e, pior de todos os males, a desconfiança generalizada de que estamos todos sendo mais uma vez enganados, só que agora caminhando para o cadafalso, tendo de acreditar novamente que dobrando a primeira esquina chegaremos ao paraíso.

Na literatura religiosa, o paraíso vem depois da morte.

2. Para ficar mais acentuado o quadro lamentável do lado oficial do Brasil, tivemos de engolir o teatro em que se constituiu a sabatina parlamentar (CCJ do Senado) “imposta” ao advogado Luiz Edson Fachin, indicado pela presidente Dilma Rousseff para ocupar a vaga do ministro Joaquim Barbosa no STF.

Antes mesmo dessa inquirição que durou 11 horas, é de se perguntar por que tanto esforço do futuro ministro (alguém duvida?) em ter seu nome finalmente aprovado? Sabe-se que o salário não é pequeno, mas também não é nenhuma fortuna (entre R$ 25 e R$ 35 mil mensais com os adendos).

É um posto de alta honra? Sem dúvida. Mas, até por isso, a discrição deveria reinar do começo ao fim dos procedimentos de escolha por parte do indicado. Não foi, porém, o que se viu.

Em todo o transcurso desse período ainda inacabado (a votação final ocorrerá nesta terça, 19), o doutor Fachin peregrinou por Brasília em busca do apoio dos parlamentares que decidirão a sua escolha.

Levou consigo sua mulher e, no dia da sabatina, toda a família estava presente, emoldurando um quadro que, pela natureza do cargo pretendido, tinha a obrigatoriedade do comedimento.

Mas o que ocorreu propiciou dúvidas em quem observou com atenção e raciocínio a cinética desenvolvida pelo até então advogado indicado.

O erro, porém, é mais do sistema de escolha, que foi levantado neste espaço do propmark muito antes de a grande imprensa pôr-se a questioná-lo.

Como pode ser isento – por mais isento que se declare – um cidadão indicado para uma das 11 cadeiras da mais alta corte de Justiça do país, pelo chefe do Poder Executivo e referendado por membros do Poder Legislativo?

Sempre haverá uma dívida a ser paga, mesmo que nas entranhas do pensamento e salvo honrosas exceções. Mais correto seria, ainda que não livre completamente de injunções, que podem atingir qualquer ser humano, o Judiciário escolher seus representantes no STF. Assim como os cardeais da Igreja Católica escolhem o papa, os membros dos Tribunais de Justiça, estaduais e federais, ou os seus presidentes, escolheriam quem vai vestir a importante toga.

3. Agradecemos a todos os que nos prestigiaram com suas mensagens publicitárias na presente edição. Agradecemos à nossa equipe de profissionais pela produção de uma edição histórica do propmark, para ser lida e guardada. Agradecemos a todos os que tornaram possível essa realização e a todos aqueles que, ao longo destas cinco décadas e em diversos momentos das mesmas, emprestaram-nos seu apoio e a atenção da sua leitura.

Agradecemos em especial à ESPM, na pessoa do seu presidente José Roberto Penteado, dos seus vices, da sua diretoria e de todos os colaboradores da escola, pela homenagem aos 50 anos do propmark programada para a noite desta terça, 19/5, em São Paulo.

Como ensinava o saudoso mestre João Kopke, “se não podemos fazer tudo o que devíamos, devemos ter feito tudo o que podíamos”.

*Presidente da Editora Referência, que edita o jornal propmark e as revistas Propaganda e Marketing