Editorial Fato do ano
1. O impacto no mercado da comunicação do marketing foi enorme: a dupla vitoriosa Marcello Serpa e José Luiz Madeira estava deixando a AlmapBBDO. Como já havia dois precedentes recentes, Celso Loducca, anunciando que deixará a sua agência (integrante do Grupo ABC) no final deste ano e Carlos Domingos, deixando o comando da McGarryBowen (ex-age), as especulações logo se avolumaram, convergindo para supor como principal razão dessas mudanças a crise econômica e política (ou vice-versa) que o país atravessa e da qual pouco ou nada se vê da luz no fim do túnel.
Serpa e Madeira, porém, apressaram-se em divulgar comunicado à imprensa, concedendo em seguida entrevistas a respeito, esclarecendo tratar-se de um plano há tempos elaborado pela dupla, de comum acordo com os sócios internacionais da rede BBDO, do qual a primeira etapa estava cumprida, com a entrega do comando da agência no Brasil para os sócios Luiz Sanches (Chief Creative Officer), Cintia Gonçalves (Chief Strategic Officer) e Rodrigo Andrade (Chief Operating Officer).
A bem da verdade, Serpa e Madeira já estavam afastados há algum tempo do dia a dia da agência, entregue ao trio acima.
Realizados profissional e economicamente, tanto um como outro propõem-se a dar um tempo daqui para frente, mas não será de estranhar se dentro de um ou dois anos – ou talvez até um pouco mais, caso a crise brasileira persista no nível atual (ou até piore) – anunciarem seu reingresso no mercado, juntos ou separadamente, em novos empreendimentos.
2. Em proporções menores, tendo em vista a importância da figura desses empresários-profissionais, os casos citados de Celso Loducca e Carlos Domingos, já abordados em edições anteriores do propmark, acenam para a possibilidade do mais forte motivo comum aos quatro: a pressão que tem sido comandar agências em nosso país, com os clientes-anunciantes apertando cada vez mais seus parceiros-agentes, diante da necessidade do cumprimento de metas estabelecidas por quem não vive o dia a dia da vida brasileira da atualidade.
3. Para piorar as coisas para quem permanece no comando das mesmas em nosso país, o fato de estarmos sob um governo monossilábico em tomar atitudes, optando unicamente para o simplismo do aumento da carga tributária como solução para o seu estrondoso déficit orçamentário – querendo agora até recriar a famigerada CPMF, rebatizando o achado com o nome de CIS – contribui de forma decisiva para o agravamento da situação.
O Brasil se assemelha hoje a aqueles rodamoinhos de filmes sobre histórias mitológicas, nos quais as naus, seus tripulantes e tudo o mais, se enredavam à sua volta até serem por eles engolidos e desaparecerem por completo.
A comparação, reconhecemos, é um pouco exagerada, mas não muito distante desse tipo de situação que a todos atinge (no caso do Brasil há as costumeiras exceções).
4. Quem dirige qualquer negócio lícito em nosso país nos dias que correm, sabe bem do que estamos falando e de quanto é crítico esse cenário, pela ausência de vislumbres positivos mais adiante.
Quando a própria presidente da República afirma, como tem afirmado, que 2016 continuará sendo muito difícil para o país, ela pode assim proceder imaginando-se sincera, mas essa postura em nada conforta quem espera por medidas imediatas para nutrir esperança.
A principal delas é o governo se comportar como a iniciativa privada, diminuindo radicalmente seus custos para enfrentar o momento atual. Por ter a vantagem de aumentar a sua arrecadação através de canetadas – o que inclusive pouco tem funcionado, pois é no mínimo ingênuo, para não dizer o pior, prever-se aumento de arrecadação com os contribuintes na UTI do sistema financeiro nacional –, as autoridades fazem vistas grossas para reduzir o custo Brasil.
Ficamos assim repetindo a fábula do gato correndo atrás do rato: o primeiro sempre ganha. Com a agravante, porém, de que no caso presente os gatos são sempre em maior número, enquanto os ratos reduzem-se.
5. Está no ar, com veiculação maior nas principais emissoras de rádio, campanha de prevenção de acidentes de trabalho assinada pelo TST (Justiça do Trabalho).
A campanha impressiona, em um primeiro momento, a quem é por ela atingido, mas na repetição dos fonogramas o resultado acaba sendo positivo.
O público trabalhador entende que não pode haver descuido no manejo do ferramental do seu ofício, na operação de máquinas e equipamentos pesados e em todo o conjunto de instrumentos utilizados em qualquer trabalho e que oferecem riscos ainda que mínimos.
A antecipação dos acidentes pelas vítimas no enredo dos fonogramas, que recusam convites de festas para o dia seguinte, pois serão gravemente acidentadas, provoca reflexão.
Boa campanha, nesse sempre difícil segmento de prevenção de acidentes, principalmente de trabalho.
6. Enquanto isso, em São Paulo (SP), as autoridades municipais insistem em tratar os munícipes como crianças mal-educadas, que precisam de castigo severo para se comportarem no trânsito caótico da cidade.
Além das faixas exclusivas, ciclovias e tudo o mais inventado por puro marketing político, complementa-se a história com a redução exagerada da velocidade dos veículos automotores e a promessa recente do alargamento das calçadas, que invadirão, em determinadas ruas e avenidas, o espaço do tráfego motorizado.
Diz a antiga piada que em um certo e pequeno país da Europa, o governo acabou com o congestionamento do tráfego proibindo toda a população de sair às ruas sete dias por semana, 24 horas por dia.
Será que vem dessa piada a inspiração?
7. Renovamos nossos cumprimentos ao Grupo Bandeirantes de Comunicação, pela sua campanha que está no ar valorizando a atividade publicitária.
Enquanto alguns sectários militam contra a propaganda, a ela atribuindo defeitos que não tem na formação de crianças e adolescentes, o Grupo Bandeirantes de Comunicação opta pelo destaque da importância da propaganda junto à coletividade.
Qualquer pessoa minimamente informada sabe da sua utilidade, reconhece que graças a ela tem acesso gratuito (ou por baixíssimo custo) à maioria das mídias e que também graças à propaganda mudam-se e aperfeiçoam-se hábitos de consumo.
Quem a enxerga, porém, pelo viés ideológico, prossegue pensando tratar-se da ponta do iceberg do capitalismo selvagem e, por isso, tem que ser combatida e até mesmo condenada.
Quando as opiniões não são sinceras, a vítima é a verdade.
*Diretor-presidente da Editora Referência, que edita o jornal propmark e as revistas Marketing e Propaganda