Editorial: Missionários do mal

1. Quem viveu o período da nossa história entre a renúncia de Jânio Quadros e a deposição de João Goulart e ainda está vivo e com boa memória, encontra semelhanças com o Brasil de hoje, dividido em partes desiguais e com a economia em frangalhos.

A solução que se encontrou na época foi a intervenção militar, que não queremos mais. Porém, não queremos também que se avolume a crise hoje instalada, onde a economia sofre mais com a falta de boa gestão do país do que propriamente com os fatores elencados pela presidente Dilma Rousseff em sua fala à nação de domingo, 8, Dia Internacional da Mulher.

Nem mesmo a exaustiva repetição dos velhos chavões populistas, atribuindo as nossas dificuldades à crise mundial (hoje em franco retrocesso) e às elites brancas que batem panelas em terraços de apartamentos de R$ 4 milhões, chegam a convencer a base da pirâmide social brasileira de que os culpados estão entre nós, parte do povo brasileiro empreendedora que luta para crescer e fazer crescer seus colaboradores e parceiros.

Também não convence mais o velho recurso de jogar pobres contra ricos, pretos contra brancos, operários contra patrões, nortistas contra sulistas e assim por diante, com um sem-número de mentiras que já não surtem os mesmos efeitos de épocas passadas.

O povo, mesmo os que mais sofrem nos extratos sociais mais baixos da população brasileira, aprendeu muito com os próprios espertos que sempre viveram à custa da sua desgraça. O ponto principal desse aprendizado tem sido a descoberta de que seus autointitulados protetores, os pais-da-pátria que se multiplicam pelo Brasil afora, terminam sempre milionários na sua empreitada de tirar enganosamente os outros da miséria.

A partir dessa constatação por um povo que começa a ter luz própria, graças em grande parte aos meios de comunicação que os espertos querem controlar, desconstrói-se a imagem dos “heróis”, que passam rapidamente a serem identificados como oportunistas e mistificadores.

Percebendo então que seus truques já não convencem ninguém, os oportunistas voltam suas atenções para a inversão de valores, jogando com a chance de nesse terreno encontrarem alicerces para montarem suas tendas de vendas de ilusões.

Como o país lamentavelmente – e em grande parte por culpa desses mesmos aproveitadores – possui uma população carcerária descomunal e com famílias em seu entorno que comem o pão que o diabo amassou devido às penas que seus chefes, filhos, irmãos, tios e sobrinhos são condenados a pagar, nada como proteger um homicida como Cesare Battisti, condenado em seu país de origem por quatro assassinatos e aqui defendido com desvelo por uma facção de autoridades que sabem tirar proveito desse tipo de comportamento.

Neste particular, muito se parecem a certos cartolas do futebol, que protegem bandidos de torcidas organizadas porque podem assim manipulá-los em seu proveito, quando deles precisarem para atingir determinados fins.

Isso também está acabando, ao menos no que diz respeito aos governantes desse tipo de prática, porque, novamente, o grosso da população já começou a entender o jogo de cena nada condizente com as verdadeiras intenções de cada um desses mentores do mal.

Vai ser difícil, sim, sairmos da situação em que nos enfiaram. Fizeram o diabo no poder até aqui, destruindo com ações condenáveis e falsas promessas, a possibilidade de um país melhor para todos no curto prazo, como sempre discursaram e pouco fizeram.

Talvez não se deem conta, mas o desemprego, principal desgraça que pode vitimar a classe trabalhadora, não para de se alargar em um país que tinha tudo para, ao contrário, gerar cada vez mais empregos.

O mais absurdo de toda essa novela política que nos vitima, reside no fato de quererem importar para o nosso país de tantas possibilidades e esperanças, embora hoje muito diminutas, formas de governo que não deram certo nos países que as abandonaram e prosseguem não dando certo nos países que, ainda que à força, teimam em mantê-las.

Seria o mesmo que combatermos novas doenças com remédios velhos e ineficazes. A propósito, aliás, faz-se aqui uma observação: repare o leitor como os defensores das ideologias que pregam a igualdade (que bom seria se assim pudesse ser) são os mais desiguais de todos. Vivem bem, trabalham pouco, locomovem-se com seguranças a sua volta e sabem que lá no futuro próximo desfrutarão de aposentadorias que mensalmente valem mais que 4 ou 5 anos de salário operário.

2. Na última quinta-feira, 12, morreu Armênio Guedes, aos 96 anos, respeitável defensor da esquerda democrática, baiano de Mucugê que pautou sua longa vida por uma coerência ímpar com a sua ideologia política. Morreu mais pobre do que quando nasceu, vindo de um pai que lapidava e negociava diamantes.

Foi sempre uma voz dissonante contra partidários que se valiam de uma hierarquia política para desfrutar das benesses do poder.

Segundo o relato de Sandro Vaia no Estadão de 13/3, Guedes “não apreciava a formalidade dos hierarcas partidários nem a bajulação servil dos camaradas brasileiros aos burocratas soviéticos”, isso quando esteve em Moscou frequentando um curso de formação marxista-leninista na sua juventude.

Guedes sempre lutou pela verdadeira democracia, aquela emanada do povo para o povo, sendo conhecida a sua atuação logo após o golpe militar de 64, batalhando para que o seu partido não se engajasse na resistência armada e defendendo a redemocratização do país pela via democrática e parlamentar.

A biografia de Armênio Guedes deveria servir de exemplo para os nossos fascistóides, que chamam os contrários de fascistas, para os desonestos, que acusam os que deles discordam de representarem uma elite branca desonesta, e para os malandros políticos de todos os gêneros, cujas acrobacias para se perpetuarem no poder já não demonstram a mesma “habilidade” de tempos passados, quando ainda havia um resquício de pudor nas suas atitudes.

3. Um pouco da confusão política brasileira pode se resolver com uma simples mudança constitucional: os integtrantes do STF têm de ser escolhidos pelo Poder Judiciário e não pelo Executivo, referendado pelo Legislativo.

A lógica é simples: se os poderes são independentes e harmônicos entre si, como reza a Carta Magna, essa independência fica comprometida quando o ponto mais alto de um deles é escolhido por outro e aprovado pelo que restou.

Há ainda uma lógica maior nesse raciocínio: em sã consciência, quem pode garantir isenção a quem vai julgar quem o escolheu?

4. Sergio Guerreiro desligou-se da SPGA, consultoria de comunicação agora só de Luiz Sales, Alex Periscinoto e Walter Fontoura.

A empresa prossegue, participando inclusive de indicações de agências para anunciantes importantes do mercado brasileiro.

5. Errata: No sétimo parágrafo do último editorial, onde se lê “presidente da Câmara Federal”, leia-se “presidente do Senado”.

*Presidente da Editora Referência, que edita o jornal propmark e as revistas Propaganda e Marketing