Editorial: O ano mal começou

É inegável: o ano mal começou para a comunicação do marketing, mas tendo começado mal para a economia, seu prognóstico não é dos melhores para o mercado publicitário.

A coletiva monossilábica do ministro Joaquim Levy e que reuniu jornalistas dos principais órgãos de imprensa do país, revestiu-se de um caráter nada animador.

As chamadas maldades foram friamente anunciadas, com ênfase no aumento da carga tributária nacional, o que sempre os governos fazem quando se deparam com déficits na maioria das vezes por eles provocados por ineficácia (no caso, para dizer o mínimo).

É de se perguntar quem são os responsáveis por toda a balbúrdia fiscal que agora se procura consertar com os remédios de sempre.

Na coletiva de imprensa, simbolicamente atrapalhada por um sistema de som que teimava em falhar, nenhuma notícia animadora para a sociedade brasileira, do tipo corte de gastos ou outras ferramentas à disposição de qualquer empresário que atua em nosso território, ou mesmo o que fazemos em casa quando as contas apertam.

Nada, absolutamente nada a não ser o famigerado aumento de impostos que o governo Dilma I quando em campanha visando as eleições de outubro, atribuía como favas contadas se Aécio Neves fosse eleito.

Para piorar as coisas, a região sudeste do país, com maior preponderância para São Paulo, sofre a pior seca da sua história, deixando-nos apreensivos sobre o futuro imediato.

Ricos, médios, remediados e pobres bem podem imaginar, a cada cena das represas esvaziando-se e da aridez da outrora aquática Cantareira, o que nos espera dentro em pouco se não tivermos seguidos dilúvios na região nos próximos dias.

Já adentramos procedimentos de racionamento e se as chuvas desta época do ano teimarem em se esconder, será impossível nos livrarmos do pior. E esse pior fica por conta de cada um imaginar, a partir da premissa básica de que não podemos viver sem água.

Nem vamos falar aqui dos culpados, porque já está ficando tarde até para responsabilizá-los. A completa falta d’água que nos ameaça – e estamos falando de uma população em torno de 50 milhões de pessoas – vai se juntar a esse quadro para muitos caótico da economia, que, como a Cantareira, levará muito tempo para se recuperar, ainda que sobre esta ou seus afluentes chova muito e naquela haja mais luzes (e fortes) nas cabeças das nossas chamadas autoridades, cujo qualificativo de há muito vem se deteriorando entre nós. Tudo porque o que mais nelas se percebe é falta de autoridade ou, em algumas, certo autoritarismo próprio das ditaduras que elas juram que combateram. Algumas delas até sem terem idade para isso na devida ocasião, mas tudo vale se o objetivo é o poder e a alma é pequena (Pessoa que nos desculpe a distorção das suas palavras, mas até para isso sua sabedoria funciona).

Porém, já entrados no terreno da literatura, podemos nos dedicar mais que nunca, tendo em vista o perigo que corremos por todos os lados, à lembrança de Paulo Pontes e sua frase que jamais cansamos de repetir: “Brasileiro, profissão esperança”.

Pois não é de hoje, como se sabe, o sofrimento da nossa brava gente devido a políticos inescrupulosos e a certa camada da elite nacional a eles mancomunada, mesmo com ideologias conflitantes.

Por falar em ideologia, o termo ficou tão achincalhado pela postura dos seus portadores, que nem mesmo nisso devemos mais acreditar, sejamos contra ou a favor.

O que os espertos ambicionam é apenas o poder, seja lá em que nome for, para saciar a imensa ganância de que são possuidores.

Simplificando, tudo está infelizmente se reduzindo a isso: os poderosos defendendo com unhas e dentes (dos outros) seus privilégios e os que ainda não chegaram a tanto, lutando para atingir o ápice das suas carreiras: muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender.

Desculpe o leitor nosso pessimismo. É consequência de verificarmos anos a fio que o Brasil, sétima economia do mundo e repleto de criatividade em seu povo, marca passo nas mãos de uma minoria privilegiada que usa e abusa da boa fé desse mesmo povo que é vítima do flagelo das nossas instituições.

Fosse outro nosso nível de exigência e possivelmente não daríamos tanto espaço e credibilidade aos que nos enganam com as suas falácias em prol dos necessitados e suas falsas promessas de um bem-estar geral que jamais são cumpridas, porque falsas e portanto logo esquecidas.

Se precisarmos chegar ao caos para que tudo mude, será mais lamentável ainda, porque o que vier depois poderá ser ainda pior.

*Presidente da Editora Referência, que edita o jornal propmark e as revistas Propaganda e Marketing