Editorial: Propaganda funciona

1. O governo de S. Paulo tem feito muito pouco em termos de sinalizar à população do Estado mais habitado do país que a crise hídrica permanece.

Se na infraestrutura algumas providências foram tomadas, na parte de comunicação para orientar os consumidores a consumir menos, o poder público mostra-se reticente, com incursões na mídia somente nos momentos de maior gravidade.

Sabe-se – e são os técnicos do próprio governo que afirmam – que essa crise hídrica será amenizada somente dentro de cinco anos e, mesmo assim, se os trabalhos de engenharia e hidráulica em andamento forem cumpridos nos seus prazos.

Sabe-se também – e agora são os cientistas de várias partes do planeta que garantem – que a Terra terá, cada vez mais, aumentada a escassez de água.

O que se espera então do poder público é uma comunicação constante à população, a respeito dessa verdade e dos cuidados que todos devemos ter com o consumo da água.

É um trabalho de cidadania que deve ser impulsionado pela comunicação constante, lembrando a todos da gravidade do problema e que será amenizada se todos colaborarem.

Com as agruras provocadas pela crise econômica e política que nos enfiaram goela abaixo, fica mais difícil esperar da população paulista concentração permanente na questão da água.

Daí a necessidade de um esforço permanente de comunicação, que na prática sempre proporciona bons resultados.

Ninguém vai deixar de consumir água, mas o consumo per capita com certeza será menor com o povo sendo orientado e, mais que isso, lembrado com maior frequência nesse sentido.

2. O mercado publicitário, que vive com intensidade os apertos da crise, comemorou nos últimos dias a derrubada, pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, da liminar obtida em primeira instância pela Sadia e que havia suspendido a campanha de propaganda da concorrente Seara.

Em tempos bicudos como o que estamos vivendo, tirar um importante player anunciante do mercado, por um motivo a nosso ver fútil, só agrava a situação do próprio mercado.

Não estamos aqui professando o vale-tudo diante de uma crise que a todos castiga de forma impiedosa. Porém, com crise ou sem ela, é necessário haver bom senso e até certa dose de esportividade na defesa das ações de marketing das empresas.

Se a menção à concorrência em uma campanha publicitária bem-humorada vem a ocorrer, deve-se refletir primeiro qual o dano verdadeiro que isso possa causar à marca objeto do humor.

No caso presente (Seara x Sadia), acreditamos que o resultado mais importante dessa “refrega” foi o aumento da venda de presunto de ambas as marcas.

Novamente, em tempos de crise isso é para ser duplamente comemorado…

3. O Tribunal Superior Eleitoral está planejando o lançamento de um documento único de identidade para o cidadão brasileiro, o mesmo Tribunal que, em tempos não muito passados, provocou um rumor na imprensa porque teria celebrado com o Serasa um convênio pelo qual se comprometia junto a este de fornecer-lhe o cadastro de todos os eleitores brasileiros nele registrados.

Não é tarefa do TSE a criação e distribuição de um documento único, contendo os principais documentos exigidos pela legislação ao cidadão brasileiro.

Seria ótimo se isso pudesse ser feito por qualquer outro órgão do governo, possuidor do cadastro geral de todos os brasileiros. O que não pode é o TSE cuidar disso, dada a extrema delicadeza e seriedade da sua função, que é a de zelar pelo controle e lisura dos pleitos eleitorais em todo o país.

Submeter ao seu domínio e guarda informações gerais dos brasileiros, sejam eles eleitores ou não, além de escapar das suas funções, pode causar celeumas desnecessárias.

O país, ainda mais nos dias atuais, já tem problemas demais nos órgãos públicos para resolver.

4. Mais uma vez, um texto da lavra do nosso respeitado colaborador Humberto Mendes, vice-presidente-executivo da Fenapro: “Não sei onde vamos parar com tanta cerveja. São dezenas de importadas e a cada dia surge uma nova marca, como Devassa, Proibida e já vem por aí uma Inocente. Não será de estranhar se aparecer em breve a Culpada, a Generosa, a Religiosa, a Viva, a Esperta e tantos outros nomes que, na verdade, não têm nada a ver com o sabor da velha e boa cerveja. Penso que depois de tantos anos e de tantas campanhas para se criar uma preferência de marca, já era tempo dos que amam a gloriosa loirinha terem definido a preferida entre todas. Aliás, vale como sugestão mais esse nome, Preferida. Se alguém quiser, use e abuse, sem moderação”.

N. do R.: Esse movimento é bom para a atividade publicitária, caro Humberto Mendes. Quanto mais marcas, mais propaganda.

5. Finalizando o abre deste Editorial, anunciantes e suas agências não podem desconsiderar a força da propaganda na história das crises brasileiras (econômicas e/ou políticas, ou ambas ao mesmo tempo, como agora), contribuindo para apressar o seu fim.

Através da atividade publicitária, as empresas, entidades, organizações e o próprio governo têm a oportunidade de colaborar na criação de um clima propício a esse objetivo. Em especial, levando-se em conta que o atual quadro brasileiro causou e prossegue causando impacto desalentador na população.

O que mais nela se percebe hoje é que as pessoas estão atônitas, sem saber o que fazer até no sentido de eventualmente contribuir para que a situação melhore.

Quase diríamos que o povo brasileiro, na sua grande maioria, está perdido diante desse cenário que sobre ele se abateu.

Mais que nunca, portanto, a propaganda pode ser um instrumento valioso e até decisivo no enfrentamento da situação e do seu possível e favorável desenlace.

*Diretor-presidente da Editora Referência, que edita o propmark e as revistas Propaganda e Marketing