Editorial: Vender otimismo
A fala de Orlando Marques na reunião-almoço promovida pela entidade das agências na última quinta-feira (28), em São Paulo, quando tomou posse a diretoria nacional e o conselho diretor da entidade, foi comedida na medida exata que o momento ainda requer.
Suas palavras, porém, sinalizaram para dias melhores em breve: “Sabemos da relevância da indústria da comunicação, e de que ela é capaz de promover uma virada de mesa, incentivando o consumo e promovendo valores”.
Essa, a nosso ver, é a chave a qual o setor tem que insistir em usar, dada a grande contribuição histórica para retomadas econômicas que a publicidade sempre ofereceu, tornando-se não raro, nessas ocasiões, ponta de lança para o início de uma nova fase na vida nacional.
Marques afirmou no seu discurso de posse (foi reeleito presidente da Abap Nacional) que “a expectativa é de retomada no segundo semestre”.
Ousou inclusive prever que já a partir de julho sentiremos seus efeitos positivos, prognosticando um crescimento de 5% a 6% no segundo semestre, o que levaria o ano de 2015 a um aumento de investimento publicitário no país em torno de 2% a 3% em relação a 2014.
Esse tem que ser o discurso do empresariado nacional a partir de agora, quando tem sido unânime a opinião de que o pior já passou.
Não há, na verdade, nenhuma expectativa da água virar vinho nos próximos meses. Sabemos que o governo é ruim, mas temos que ir com ele até 2018 para não corrermos o risco de um conflito interno que poderia proporcionar um cenário ainda pior do que vivemos até aqui nestes cinco primeiros meses do ano.
Sabemos também, principalmente quem lida com comunicação, que os fenômenos econômicos são muito influenciados pela opinião pública.
Se a maioria prosseguir maldizendo a escuridão sem se atrever a acender velas, o cenário vivido até aqui tenderá a se prolongar. Se, ao contrário e principalmente através das suas lideranças, a opinião pública entender que a luz no fim do túnel está cada vez mais próxima, o poder de multiplicação dessa esperança aumentará, atingindo muito provavelmente um grau de confiança extremamente necessário para a reversão se acelerar.
Ao longo da história brasileira tivemos situações semelhantes, ainda que muitos achem esta ser, senão a pior, uma das piores dentre as que já se apresentaram com características semelhantes, nas quais o acidente político invariavelmente causou o desastre econômico.
Quem viveu o suicídio de Vargas, a renúncia de Jânio, a deposição de Goulart, os anos de chumbo a partir do AI-5, a tragédia de Tancredo (que foi sem ter sido) e o conturbado período presidencial de Collor de Mello, coadjuvado pela mente opaca da sua ministra Zélia Cardoso de Melo e seu plano econômico de sequestro da poupança popular nacional e das contas-correntes bancárias, sabe que o Brasil é sempre maior que a crise e acaba, mais dia menos dia, a superá-la, ainda que à custa de sacrifícios que poderiam ser evitados.
Tem sido sempre a repetição de um conflito ideológico entre lideranças políticas – e aqui não se leia apenas o velho chavão de direita e esquerda – que acaba influenciando o eleitorado e dividindo o país. Pode ser bom para o fortalecimento democrático – e é. Mas, faz-nos entender, a cada grande crise surgida – como a atual –, que ainda temos um longo caminho a percorrer até que o espírito democrático seja razoavelmente entendido por todos e a luz se faça.
Não podemos ter ao mesmo tempo frio e calor. Não conseguimos colocar dois corpos ocupando o mesmo espaço ao mesmo tempo. Primárias, as leis da física deveriam ser melhor observadas por todos, quem sabe iniciando-se assim um novo ciclo nacional, onde a razão, o bom senso, a verdade e os principais valores milenares da civilização possam prevalecer.
Um homem público não pode prevaricar, um grupelho de manifestantes profissionais não pode impedir o direito de ir e vir das demais pessoas, os poderes não podem ficar inertes diante de tantos e tamanhos absurdos e, sobretudo, quem alcançou o privilégio da glória, deve nela enxergar a sua grande e possivelmente única recompensa.
Em outras palavras, não a usar como ferramenta para arrombar cofres que não lhes pertencem.
2. Bem a propósito, teve início a veiculação da campanha #CorrupçãoNão, assinada pela ANJ (Associação Nacional de Jornais), pelo Ministério Público Federal e pela AIAMP.
A campanha informa que “os Ministérios Públicos de 21 países ibero-americanos estão mobilizados no combate à corrupção: investigando, trocando informações e experiências”.
O copy do seu primeiro anúncio traz uma informação preciosa: “Você pode participar dizendo NÃO a qualquer ato corrupto por menor que seja. Procure o Ministério Público e fortaleça este grupo: corrupção não!”.
Para participar da campanha, basta acessar corrupcaonao.mpf.mp.br.
Trata-se de uma iniciativa que tem tudo para alcançar seus maiores objetivos, aproveitando o clima de revolta que ainda domina o país com relação a todos os grandes malfeitos que a mídia aborda de há muito e diariamente.
O escândalo da Fifa, divulgado pela mídia mundial, mostra no seu bojo que quando as autoridades de um país sério agem, o crime não compensa.
Se continuarmos pensando que no Brasil dá-se o contrário, não chegaremos a lugar nenhum. Temos que compreender que essa faxina contra a corrupção não é tarefa de uma semana, um mês ou um ano. É de sempre. E quanto mais os corruptos forem punidos, menos corrupção haverá.
3. Outra boa notícia da semana que passou foi a instalação, no Congresso Nacional, da Frente Parlamentar em defesa da propriedade intelectual e do combate à pirataria no audiovisual.
A medida foi lida pelo mercado publicitário como das mais importantes para o combate à pirataria que vitima essa mídia em todos os segmentos, inclusive no publicitário. Veja detalhes nesta edição.
* Presidente da Editora Referência, que edita o jornal propmark e as revistas Propaganda e Marketing