Alê Oliveira

Tem sido bastante comum lermos ou ouvirmos não apenas na mídia, mas também de muitas pessoas com as quais diariamente falamos, que o brasileiro está aprendendo a conviver com a crise.

 
Discordamos de forma enfática desse tipo de conclusão, porque ninguém aprende a viver pior. Apenas suporta, torcendo para que a situação logo se modifique.
 
Em nosso país, onde já se disse que a profissão do brasileiro é a esperança, a população, ou parte dela, confia na promessa batida de que dias melhores virão, mas fica cada vez mais difícil acreditar nisso, tendo em vista o quadro nada animador da nossa economia.
 
Todos sabemos que a tal melhora começa por esta e o quadro econômico do país prossegue sendo um grande ponto de interrogação. Sim, uma razoável parte da nossa população mantém acesa a vela da esperança, mas à medida em que o seu pavio queima e a vela derrete, as chances diminuem.
 
Para muitos a vitória do atual presidente da República lembra que estariam se repetindo – e pelas urnas – os idos de 1964, que, se no seu primeiro momento salvou o país do pior, errou ao dar continuidade ao grupo militar que acabou permanecendo por duas décadas na direção do país.
 
Se nos primeiros 20 anos acima – os do período militar – o país teve muitas conquistas no que poderíamos chamar de educação moral e cívica, além de ver crescer o seu PIB, não restam hoje dúvidas de que a ausência de um bem valioso e imprescindível como a liberdade absoluta de expressão deixou marcas profundas na cidadania, impedindo um dos mais caros valores do ser humano, que é a livre manifestação do pensamento.
 
Por esse motivo, estabelecida a liberdade de opinião, abriram-se as portas de entrada em cena de variadas correntes de pensamento, inclusive e principalmente no campo político, onde um novo país prometia nascer diferente do domínio da força.
 
Pena que a promessa e a esperança não foram devidamente cumpridas e atingidas. Talvez despreparado para a nova nação pós-militarismo, o país que recomeçou apenas com Arena e MDB dividiu-se e subdividiu-se em dezenas de siglas partidárias, muitas delas sem qualquer compromisso com a verdade.
 
Ao chegarmos ao fundo do poço, com as instituições desacreditadas perante grande parte da população – aquela que chamamos acertadamente de ordeira, que se levanta cedo para trabalhar – ficou muito clara a necessidade de se apostar em alguém até experiente em política, mas muito distante dos chamados grupos de domínio que haviam se instalado no país.
 
O presidente Bolsonaro sabe que deve a sua eleição a essa mistura de fatores “vendidos” como positivos, mas que acabariam por levar o Brasil às trevas.
 
Foi tão diferente a sua campanha e as promessas daí decorrentes de mudanças, que até mesmo uma tragédia se afigurou, com a facada no ventre em meio à multidão.
 
Graças, porém, a um socorro imediato de um hospital a três quadras do atentado e a um corpo médico que desde há muito – e aqui falamos de todos os profissionais de avental branco que trabalharam e/ou colaboraram na sua recuperação – recebe elogios diários dentro e fora do país, Bolsonaro resistiu até a sua posse e melhorou até os nossos dias, sendo declarado pelo corpo médico que o atendia não só fora de perigo como apto ao difícil trabalho de governar o país.
 
A impressão que temos, porém, é a de que ele se defronta com uma tarefa difícil de ser superada apenas com o carisma e a autoridade que o cargo lhe confere.
 
Necessita de recursos de comunicação em massa, para fazer circular por todo o país que um novo Brasil pode estar nascendo, mas é necessário para tanto que se aumente gradativamente o grau de confiança no chefe.
 
Um dos recursos para o atingimento desse objetivo, usado em larga escala nos chamados países líderes do planeta, reside na boa publicidade, que multiplica por milhões uma boa mensagem.
 
O presidente Bolsonaro dá a entender que é refratário a esse colossal instrumento de espalhar a verdade comprovada (porque a mentira é espalhada a cada segundo pelos seus adversários).
 
Qualquer profissional que trabalhe em comunicação sabe o valor do seu ferramental e sabe, também, que o governo central desde há muito em nosso país transformou-se no maior anunciante do mercado. Basta vermos os investimentos anteriores à posse de Bolsonaro, das empresas estatais ou comandadas pelo governo, como a Petrobras, o Banco do Brasil, a Caixa, e por aí afora, que muito devem o seu crescimento ao bom uso do ferramental publicitário.
 
Dando a impressão de ser contra isso, sem o que um governante não governa, Bolsonaro não só praticamente suspendeu a publicidade dessas empresas como mandou retirar do ar recentemente uma nova campanha do Banco do Brasil, criada pela competente equipe da WMcCann, que procurava mostrar usando selfies como parâmetro como é fácil abrir uma conta no, digamos, “novo” Banco do Brasil.
 
Temos de reconhecer que a campanha, onde mal foi veiculada apenas uma das suas peças e por pouquíssimo tempo de exposição, foi a mais falada do ano até aqui, tanto da economia pública como da privada.
 
Mas, não o foi pela função a ela atribuída pelos profissionais da agência, com a aprovação, diga-se de passagem, da competente equipe do marketing do Banco do Brasil.
 
Viralizou contra o presidente da República, com a opinião pública uma vez mais se dividindo, mas muito possivelmente, a olho nu, a maioria condenando a interferência direta do presidente da República não apenas ao vetar a campanha, mas determinar a retirada do ar da sua peça de estreia.
 
Disseram em defesa de Bolsonaro, que o presidente de uma grande empresa anunciante pode determinar o que fez nosso presidente. Mas, há primeiro que se inteirar do briefing, respeitar as equipes responsáveis pela escolha do caminho criativo que a campanha tomara e aí, sim, uma vez convencido de que a comunicação era totalmente inconsistente e até mesmo oposta à sua proposta de governo, determinar a sua suspensão, mas através dos canais competentes.
 
O episódio pode ter barrado a disposição do governo, já um pouco tardia, de se comunicar através das suas empresas anunciantes como o Banco do Brasil e as demais acima citadas, além do próprio governo em suas decisões institucionais.
 
O preço dessa investida pode custar muito, não apenas para as empresas oficiais que, por terem concorrentes no mercado, precisam se utilizar do ferramental do marketing, como também – e nisso acreditamos com a força da nossa experiência nestes 54 anos de PROPMARK – na própria imagem do presidente Bolsonaro e seu governo.
 
Mais uma vez e seguidamente, somos obrigados a repetir aqui a lição do velho e inesquecível guerreiro: “Quem não se comunica, se trumbica!”
 

Armando Ferrentini é publisher e diretor-presidente do PROPMARK (aferrentini@editorareferencia.com.br).