Efeitos especiais turbinam publicidade

 

É só olhar para as peças publicitárias para constatar: a publicidade brasileira está high-tech. Produtoras e agências têm cada vez mais utilizado recursos como motion graphic e 3D realístico para transformar o impossível em real: troca-se montanha por neve, cria-se cenários inexistentes e até São Paulo pode se tornar uma cidade vazia se a equipe criativa assim desejar, sem que o telespectador perceba que a peça se trata de uma produção virtual.

 

Efeitos especiais são tão antigos quanto o cinema e não representam exatamente uma novidade, mas a democratização de ferramentas, principalmente com o avanço da computação gráfica nos estúdios de Hollywood, tem expandido as fronteiras do mundo fantástico da publicidade. “O hiperrealismo cresceu na indústria cinematográfica e a publicidade passou a demandar projetos com 3D também, onde usamos o recurso para resolver problemas, como filmar coisas que não existem. O efeito especial hoje te ajuda a acreditar que o irreal é verdade”, afirma Alberto Lopes, sócio e produtor executivo da Vetor Zero/Lobo, estúdio pioneiro em animação 3D no Brasil. “Há uma tendência no cinema do irreal, do que não existe e a publicidade bebe na fonte”, aponta Fernando Sanches, diretor de cena da produtora.

Para criativos, o principal benefício em mesclar produção virtual e live action é a liberdade na hora de desenvolver o roteiro. “Ano após ano a criação fica mais livre para pensar porque sabe que a execução será possível”, diz Guilherme Jahara, diretor de criação da Leo Burnett Tailor Made. Além de tirar as amarras da criação, as produções virtuais podem baratear o projeto e reduzir prazos com a construção virtual de cenários, que dispensa locações e diárias. Mas as produções virtuais também podem trazer um elemento novo ao cronograma: os famosos renders, que finalizam o material, demandam tempo e dinheiro. No filme “Caveirinhas”, da Nova Schin, somente os oito segundos finais do filme, em que quatro esqueletos aparecem na praia, demorou 50 dias para ser feito. “No papel parecia simples, mas no meio do caminho você vai encontrando dificuldades. Foi um vai e vem infernal”, conta Celsum Groba, diretor de RTV da Leo Burnett, que assina a criação campanha.

Na produção de um filme de cinco minutos para o lançamento do Parque da Cidade, empreendimento da Odebrecht, os renders também foram os vilões do prazo. Foi necessário alugar render farms no mundo todo para finalizar a peça. Só essa etapa levou 15 dias para ser concluída. “Há dez empresas no mundo que fazem isso e locamos oito para atender o prazo. Cada segundo do filme tinha 30 fotos e cada uma delas levava seis horas para ser renderizada”, relembra Giancarlo Barone, sócio da Volcano — produtora responsável pelo comercial.

Crescimento

Um dos segmentos onde o 3D realístico mais cresceu foi no desenvolvimento de peças para o impresso. Na Vetor Zero, uma equipe inteira foi montada para atender a demanda da área: 40% dos profissionais dedicam-se à execução de 3D, 40% à pós-produção e o restante atua em animação. “O 3D invadiu 90% do trabalho que minha equipe fazia, em maior ou menor grau”, afirma Eliza Flores, produtora associada da Vetor Zero/Lobo, responsável pela área de Print. A área de interatividade também tem se desenvolvido: do ano passado para cá o faturamento da Vetor com anúncios interativos para o online saltou de 5% para 30%. “A parte de interatividade e de online virá com força. Tudo o que fizermos daqui em diante terá essa correlação”, projeta.

Na Volcano, um departamento inteiro foi criado para 3D arquitetônico, em parceria com a produtora Neorama, de Porto Alegre (RS). Há dois anos, a produtora não tinha trabalho algum envolvendo 3D realístico e hoje essas produções já representam 20% dos projetos que desenvolve. Já a Peugeot Citroën tem desenhado alguns de seus anúncios no próprio centro de design da montadora com o 3D realístico, substituindo sessões de fotografia para apresentar o carro.

Televisão

A composição live action e virtual também ganhou espaço na televisão. “O projeto ‘As Brasileiras’ foi filmado quase todo em fundo cromo. E ninguém diz”, exemplifica Rejane Bicca, diretora de atendimento da O2 Filmes, responsável pelos efeitos e finalização da série exibida na TV Globo. No remake de “Gabriela”, também da Globo, é utilizado o 3D realístico para recriar a Ilhéus dos anos 1920. “De dois anos para cá, a pós-produção era uma ferramenta usada em produções específicas, mas hoje ela é parte do processo”, analisa Rejane.

Mesmo sendo uma nova ferramenta para viabilizar projetos, o consenso é que produções virtuais devem ser usadas com parcimônia. “Filmes assim só devem ser feitos quando o 3D é o único que nos salva, quando é o que nos viabiliza ou quando não existe outra forma”, enumera Jahara. “O 3D é como o bebê de proveta: é possível, mas os métodos naturais geralmente são mais fáceis e mais rápidos”, compara Eliza.