Em clima anos 70, Fusca volta à mídia

 

“É o Fusquis?”. Com essa pergunta bem ao seu estilo, um espantado Mussum indaga, curioso, sobre aquele moderno e repaginado Fusca exposto no Viaduto do Chá, em São Paulo, atraindo olhares curiosos. Esse é um dos trechos do filme “Brasil 70” que, junto com “Céticos”, faz parte da campanha que traz a assinatura “Novo Fusca. O carro voltou”. O trabalho, ambientado nos anos 70, é repleto de clichês da época. Em um dos filmes, Rivellino exclama, ao descobrir que o carro tem 200 cavalos de potência: “é uma patada atômica” — em alusão à expressão que os narradores da época usavam para definir o forte chute de pé esquerdo do ex-craque da seleção brasileira. Os dois comerciais, que trazem como trilha a música “País tropical” — cuja letra diz “Tenho um fusca e um violão” —, de Jorge Ben Jor, são protagonizados por Cazé Peçanha e mesclam a modernidade dos tempos atuais com a década de 70.

Modernidade, aliás, é um dos pilares do carro. Em uma das cenas, um homem entrevistado por Cazé para falar do Fusca pergunta: “blue o que?”, sem saber o que significa bluetooth, algo que “iria aparecer 30 anos depois”. Outro, de barba, cabelos compridos e jeito de hippie, afirma que curte “Led” ao descobrir como são os faróis do carro. Obviamente, se referia à clássica banda de rock Led Zeppelin, e não ao tipo de luz. “Não tem motor?”, indaga uma curiosa pedestre abrindo o porta-malas — para quem não se lembra, o motor do antigo fusca ficava na parte traseira do automóvel.

Segundo Luiz Sanches, diretor-geral de criação da AlmapBBDO, a produção do filme exigiu um grande esforço dos envolvidos. “Não foi nada fácil fechar o Viaduto do Chá, com pessoas vestidas como nos anos 70 e carros da época circulando por lá”, afirma, dizendo que o trabalho tem como meta posicionar o modelo como “embaixador” deste novo momento que vive a Volkswagen no Brasil.

A campanha, na verdade, teve início em novembro do ano passado, um mês após o carro ser lançado oficialmente durante o último Salão do Automóvel, na capital paulista, em outubro de 2012. Na época, teasers veiculados na web contavam com narrativas de Chacrinha e Rivellino sobre o carro. A campanha conta ainda com peças de mídia impressa e ações na internet. “O trabalho procura retratar tudo que o Fusca significa para o brasileiro. É um carro único, que conta até com um dia em homenagem a ele — 20 de janeiro — e que aparece em mais de 100 letras de músicas brasileiras”, ressalta Cintia Gonçalves, diretora de planejamento estratégico da Almap.

A criação é de Pernil, André Gola, Renato Simões e Bruno Prosperi. Os dois últimos assinam também a direção de criação, juntamente com Marcello Serpa e Luiz Sanches. Produção é da ParanoidBR, direção de cena de Dulcidio Caldeira e trilha da Raw Audio. O custo da campanha girou em torno de R$ 20 milhões.

60 anos

O novo momento da montadora no país, citado por Luiz Sanches, é, na visão do gerente executivo de marketing da companhia, Artur Martins, o de uma empresa “mais forte e inovadora”. “Estamos investindo forte em tecnologia e inovação. E o Fusca representa esta modernidade que existe dentro de uma empresa que, no próximo dia 23 de março, irá completar 60 anos de Brasil”, diz. “Queremos ‘energizar’ a imagem da marca Volkswagen e torná-la mais desejada. E nada melhor que o Fusca para reforçar a ligação emocional da empresa com o consumidor”, completa, comparando o carro a outros ícones mundiais, como a garrafa de Coca-Cola e o óculos Ray-Ban Aviador.

Segundo o executivo, 1,2 mil unidades iniciais do carro foram comercializadas desde seu lançamento, no final do ano passado. A meta, agora, é vender cerca de três mil unidades por ano. O modelo, principalmente dirigido aos jovens, chega ao mercado a um custo médio de R$ 80 mil. Porém, o executivo deu a entender que, futuramente, o carro pode se tornar “um pouco mais popular” — mesmo sem se igualar ao antigo Fusca, que foi o automóvel mais barato de sua época.

O carro, que tem no Brasil o único país do mundo onde será chamado de Fusca, por conta do sucesso do antigo modelo — nos outros locais voltará como New Beetle, como já foi chamado aqui no final dos anos 90 —, está sendo produzido no México. Não há previsão de que possa a ser fabricado no país. Em toda sua história, o Fusca vendeu 3,3 milhões de unidades no Brasil. Foram 24 anos de liderança consecutiva, perdida somente para outro modelo da companhia: o Gol, que há 26 anos ocupa tal posição. No total, a Volkswagen emplaca o carro líder de vendas do país há 50 anos consecutivos.