Empresas investem em resgate de memórias
Antes de completar 40 anos, a Embraer decidiu construir um acervo histórico sobre a trajetória da companhia. Em agosto de 2007, a empresa inaugurou um espaço expositivo com o objetivo de valorizar a cultura da aviação e o planejamento realizado para a fundação da Embraer.
Desde que inaugurou o seu Centro de Documentação e Memória, o espaço é parada obrigatória nas visitas que autoridades, fornecedores, clientes e os próprios funcionários fazem à sede da empresa.
“A história permite valorizar e entender o passado. Com esse conhecimento, é possível homenagear quem construiu a história da empresa, aprender com os erros do passado e criar entendimento do futuro”, explica Pedro Ferraz, superintendente do Instituto Embraer de Educação e Pesquisa. Ao mesmo tempo em que criava o centro, a empresa investiu na restauração do primeiro avião comercializado pela Embraer, o Bandeirante. “Valorizamos a cultura da aviação e o que foi construído no passado. Um dos pontos que salientamos é que o resgate histórico é uma ferramenta para garantir essa valorização”, afirma Ferraz.
A demanda de estudos sobre a evolução institucional das empresas tornou-se mais frequente a partir dos anos 90, mas, nos últimos quatro anos, a procura tem sido maior. Para a historiadora Beth Totini, fundadora da consultoria Memória & Identidade, especializada em gestão de memória e patrimônio documental e informativo de empresas, estudar o passado é necessário para gerir uma marca.
“Resgate de memória serve para a gestão do negócio. O levantamento de informações gera material sobre a evolução da companhia, do produto e da marca. E trabalhar com essas informações pode servir de base à criação de novos produtos, pesquisas e estratégias de gestão”, explica. A consultoria, criada em 1988 e formada por historiadores especializados em arquivismo, já atendeu mais de 100 organizações, entre elas Toyota do Brasil, Nestlé, Grupo Ultra, Natura, Whirlpool, Droga Raia e Sadia.
De acordo com a historiadora, não são todas as organizações que investem em projetos do gênero, mas a demanda está crescendo. “Nos últimos quatro anos, houve aumento no interesse das empresas em resgate de memória, principalmente entre aquelas alinhadas a paradigmas como responsabilidade social, reputação e preocupadas com gestão de conhecimento”, aponta.
A montagem de um Centro de Memória é um trabalho minucioso e leva de 18 a 24 meses para ser concluída. Com metodologia acadêmica e linguagem específica, os historiadores, muitas vezes, fazem trabalho de detetive. “O trabalho inicial é desenvolvido por uma equipe multidisciplinar, com pesquisa histórica, oral e de contexto. A pesquisa de contexto envolve o levantamento de acontecimentos no Brasil, no mercado global e o desenvolvimento socioeconômico do setor no período pesquisado”, explica a historiadora.
Campanhas
Levantamento de patrimônio documental também serve a campanhas de fortalecimento da marca. A Toyota, antes de completar 50 anos de presença no Brasil, deu início a um longo levantamento sobre sua atuação no País. A empresa buscava matéria-prima para dar suporte a uma ampla ação institucional sobre a data comemorativa.
Por dois meses, a campanha “Ampliando Horizontes”, criada pela RVMondeo, foi exibida em TV, rádios, jornais e revistas. Além da ação, foi elaborada uma publicação especial, com versões em português e inglês, na qual mais de 100 colaboradores, ex-colaboradores e parceiros foram entrevistados e relataram suas histórias com a empresa. “As empresas buscam projetos que garantam perenidade e municiem conhecimento”, opina a historiadora.
por Keila Guimarães