Por um branding brasileiro

“Sétima economia do mundo, o Brasil ainda segue na segunda divisão do desenvolvimento global. Eterno país do futuro, antes éramos um dos membros do terceiro mundo, depois uma nação periférica, subdesenvolvida. Hoje estamos entre os países emergentes, somos um dos Bric’s. Muda-se o nome, mas não exatamente a posição. Em resumo, do muito a se caminhar, ainda seguimos no meio do trajeto.

Vislumbrando o cenário, você pode reclamar, se indignar, ficar desapontado com as projeções de curto/médio prazo, ou enxergar uma oportunidade no longo prazo. Ao contrário das nações ditas desenvolvidas, onde os mercados estão maduros e as posições consolidadas, o Brasil ainda tem diversos territórios a serem ocupados.

A começar pelo próprio empreendedorismo – considerado por muitos um dos grandes motores do crescimento e inovação. Segundo o relatório ‘Empreendedorismo no Brasil 2013’, estudo conjunto do GEM (Global Entrepreneurship Monitor), Sebrae, UFPR e FGV, ainda estamos na infância da geração de novos negócios. Enquanto temos 2,1 empresas abertas para cada mil brasileiros, esta média é de 2,9 por mil no Uruguai, 3,8 no Peru e 5,69 no Chile. Indo além dos vizinhos geográficos e olhando para os parceiros emergentes, seguimos atrás da Rússia, que tem índice de 4,3 e da África do Sul, com 6,5.

Se temos espaço para ampliar a quantidade de empreendimentos, o que dizer sobre o universo das marcas? Em sua 15ª edição, o Best Global Brands, da Interbrand, mais uma vez, não contou com nenhuma marca brasileira entre as 100 melhor ranqueadas. Difícil? Pode ser.  Mas coreanos (Kia, Hyundai), indianos (com a originalmente inglesa Land Rover), chineses (Huawei) e os mexicanos da Cerveza Corona conseguiram.

Estariam os dois fatos associados? Será que, assim como o empreendedorismo, o tão famoso branding é mais falado do que praticado entre os brasileiros? Eu acredito que sim. E que é hora de começarmos a mudar este cenário.

É fato que uma marca forte, original, que reflita os valores e entregas de uma empresa, que conte uma história única, é uma das bases para o sucesso de um negócio. E é fundamental para sua internacionalização. Mas, então, porque na maioria dos casos o que se vê é um baixo comprometimento com a criação, gestão e fortalecimento das marcas no Brasil?

Pois, se nas grandes corporações o esforço não é o suficiente para criarmos marcas globais, entre as médias, pequenas e startups, o cenário geral é de improviso e baixo investimento.

Seria muito fácil, simplista até, argumentar que falta visão a nossos empreendedores. Afinal, qual deles não quer construir uma marca de sucesso? Prefiro enxergar a questão por outro lado, o meu. Acho que o que falta é mudar o branding. Apesar do nome em inglês, ele precisa falar português, descer do salto alto e se aproximar da realidade e dos desafios do empresário brasileiro.

Se queremos ver o desenvolvimento de grandes marcas no Brasil, ajudando a consolidar nossa economia e mirar nos mercados internacionais, temos que trazer o branding para os brasileiros. Desmistificar ferramentas, flexibilizar metodologias, simplificar processos, facilitar o acesso.

Não se trata de reduzir a abrangência ou a profundidade, ao contrário. É adaptar o branding às reais necessidades do nosso empreendedor, explicitar seus benefícios e torna-lo acessível a quem realmente precisa. Enfim, parar de falar e começar a agir.

Esta pode e deve ser nossa contribuição efetiva para a construção de uma nação mais forte e pronta para disputar, de igual para igual, o jogo da economia com os países ditos desenvolvidos. Um celeiro de marcas verdadeiras e vencedoras, com poder de encantar e engajar o consumidor global, gerando valor e prosperidade.”

*Designer e diretor da Design Luce