Entre Aspas: Um mês em Nova York

“Não é porque venho algumas vezes por ano a Nova York que me atrevo a comentar aspectos curiosos sobre esta maravilhosa cidade. Deve ser por estar aqui há mais tempo do que o de uma simples visita, quem sabe pelo frio da época e ainda pelo fato de ficar algumas horinhas com a nossa gloriosa cachorrinha Julie.

O trânsito em NYC é um caos, mas, por incrível que pareça, anda. Os meios de transporte são os mais variados – subway, buses, trains e especialmente cabs –, mas o imbatível são as nossas próprias pernas.

Andando a pé você absorve a beleza arquitetônica da cidade, seus ‘pre-war buildings’, seu charme inconfundível de alto nível e de bom gosto. Sim, porque com elas você conhece e revê lugares, calmamente, ao passar em frente. Novas lojas, novas gourmeterias, especialmente, coffee shops, restaurants, épiceries, brasseries e ‘eticeteries’… É só parar em frente, olhar a vitrine, o cardápio, o jeitão do lugar, e pronto, você já tem uma bela ideia do que vai encontrar. Além do mais, com a barriguinha roncando e a fominha aparecendo, não há quem te segure a uma aventura gastronômica nesses lugares.

Muitas vezes você se depara com um ótimo ou um péssimo burger ou uma pizza apetitosa na aparência, mas medíocre no sabor para nossos padrões. O americano come muita bobagem, muita quantidade e pouca qualidade. É por isso que lá residem os maiores gordos do mundo. No geral, comem muito e mal, mas sobrevivem. Pudera, aqui estão concentrados os melhores restaurantes do mundo e fazendo uma boa pesquisa, você terá o melhor custo-benefício por refeição.

Sobre o idioma, nenhum problema, aqui se fala todas as línguas do mundo. A única que você não entende é a dos taxistas paquistaneses.

De lojas, nem há o que falar, é olhar o número de pessoas que entram e saem e você já sabe se é boa ou não. Fora as promoções que oferecem, que são honestas, reais, verdadeiras e não enganosas, como nas lojas brasileiras. E aí está o perigo: se você soltar sua mulher sozinha lá dentro, duvido que ela resista e saia de mãos vazias.

Os apelos de venda e oferta são convidativos. Especialmente depois dos ‘Happy Holidays’. Mas, voltando aos meios de transporte, engraçado como uma cidade sem motos e principalmente sem motoqueiros fica muito mais simpática. Também  engraçado como uma cidade sem as ciclovias do Haddad fica mais inteligente, eficiente e prática. Não que não existam bikes, mas não precisa da frescura da faixa colorida para elas poderem trafegar. As pessoas se viram. Claro, sempre há um acidente isolado, mas nada tão ostensivo a ponto de ter que regulamentar. Como o político brasileiro gosta de criar leis que não pegam…

Existem, sim, as faixas para os buses, mas não atrapalham tanto o comércio como em São Paulo. Há também um número enorme de cadeirantes, de andadores de três e quatro rodinhas, pois a quantidade de deficientes físicos nesta cidade é muito grande, e eles saem às ruas, pois  Nova York oferece todas as condições com calçadas com desníveis para cada travessa que aparece.

E há também muitos idosos, para não dizer velhinhos, pois acho que sou um deles… mas que não vive em NY.

Nova York é o sonho de todo idoso ao se aposentar. E como eles são numerosos! E como incomodam na hora de andar! Experimente passar em alta velocidade por um deles que você vai dar a maior abalroada no pobrezinho. Eles andam em diagonal e nem sempre enxergam o que tem pela frente. E, claro, muito menos pressentem o que vem por trás. E quando estão pagando alguma coisa no check out do supermercado? É cupom de descontos que aparece, é cartão de bônus da loja, é cartão de aposentado que apresentam e, para piorar, moedinhas de todos os tamanhos para a moça do caixa separá-las ao pagar a conta.

Ao saírem é preciso um ‘simpático negão’, quase sempre oriundo do continente africano, para ajudá-los com os pacotes. E quando não há o próprio carrinho, mas muitos pacotes, eles começam a negociar o valor do delivery. O mais importante é que o idoso em NY é respeitado.

Cabe ressaltar aqui como se usa, e bem, as sacolinhas plásticas. Primeiramente, quem empacota suas compras  é a moça do caixa. E, se você comprar algo mais pesado, ela usa duas, três sacolas, umas dentro das outras, para dar mais segurança no transporte. Aqui não tem essa desculpa esfarrapada do comerciante de eliminar as tais sacolas em nome da sustentabilidade ecológica para economizar uma despesa que cabe a ele arcar porque já incluiu em seus custos.

Ah, mais tem uma ‘população’ que é a mais simpática de NY. A canina. Acho que tanto na metrópole americana como em Copacabana, tem mais cachorro do que gente. Tomo como base o prédio em que ficamos. Existe morador que possui um ou mais cães por apartamento onde reside. E, às vezes, nem sei como cães daquele tamanho cabem naquele minúsculo lugar – mas cabem. Os donos são intimados a levar um lencinho para tirar o cocô que eles produzem nas calçadas.

Mas nem sempre isso acontece e sobra para você, que, se bobear, acaba trazendo-os para sua casa junto com seus sapatos ou, mais comumente, seu tênis. Mas, em geral, os cachorros são educados. Eles até que incomodam menos do que muitas pessoas.

Uma coisa muito falada no Brasil, principalmente em São Paulo, é a questão da segurança. E aí meu amigo, isso aqui é um paraíso. Como é bom sair e saber que você vai voltar. Como é bom poder andar livre e solto a qualquer hora do dia ou da noite. Será que viveremos para ter isso no nosso país? Pelo andar da carruagem só deve piorar.

Manhattan em geral é suja, muito suja! Mas todo new yorker tem inveja de quem mora aqui. Há muito pó proveniente do intenso tráfego e clima seco nessa época do ano. Mas o cheirinho da cidade é imbatível, apetitoso, produzido pelos ambulantes que faturam uma barbaridade.

Quem já não comeu aquele hot dog de um deles? E eles preparam uma mistura de frango, carne e legumes com molhos especiais naquelas chapas de ferro, responsáveis pela produção do tal cheirinho.

E os tais pretzels? Não têm gosto de nada, mas todo mundo compra e sai comendo pelas calçadas. Uma boa comida vem também dos ‘trucks’. E são muito elaboradas, a ponto de, at lunch time, filas se formarem para adquirí-las e degustá-las nas muretas dos edifícios.

Confesso a vocês o meu encanto pela barulhenta NYC. Acho que, pelo zumbido de minha audição, os decibéis da cidade mascaram esse incômodo tão ruim para mim. E assim você passa um dia em NY. Como sempre digo, na média, gasta-se US$ 1 por minuto vivido nessa fabulosa cidade.

Bem, já são quase 18h, já é noite em Nova York, e está na hora do meu drink ‘in this city that never sleeps’. The Big Apple de todos nós. Cheers!”

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