Erros grosseiros
Tentando sustentar-se em sucessivas inverdades, como a que afirmou na sexta-feira (“Em outros países, quem grampeia presidente vai preso”), mesmo tendo ficado claro na transcrição pela tevê que o telefone grampeado era o de Lula, que recebeu um chamado do Planalto, a presidente Dilma Rousseff complica-se também sucessivamente.
Armando Ferrentini
Deve acreditar, sem dúvida, na teoria de Goebbels que enunciava que uma mentira, mil vezes repetida, vira verdade.
Nem sempre, porém, isso funciona, ainda mais nos dias que atravessamos, quando a credibilidade do governo está rente ao chão.
Além disso, no contraponto da sua frase, internautas têm lembrado que em outros países, mais sérios, governantes que mentem e enganam o povo também são presos e perdem o mandato.
A verdade é que o governo chegou a tal ponto de insustentabilidade que a qualquer momento pode cair. E não se trata de golpe, mais uma das muitas mentiras que são repetidas pelas ainda autoridades do mais alto escalão da República, ecoando junto aos militantes engajados nos movimentos de camisas vermelhas, que nada têm a ver com o Brasil.
O governo de Dilma Rousseff perdeu a oportunidade de se manter no poder até o final do seu mandato, se ela tivesse assumido suas culpas e se afastado de Lula, um caso à parte nessa grande encrenca que nos atinge de forma ainda incalculável.
Se faltou ao ex-presidente aquela habilidade política que sempre lhe creditaram, a ela faltou um mínimo de reflexão sobre as consequências da sua solidariedade.
Aliás, deveria ter aprendido com Lula como se viram as costas para antigos companheiros, objetivando permanecer em pé. José Dirceu que o diga.
Mesmo que a sua gratidão a Lula não tenha limites, deveria tê-lo protegido de forma menos ostensiva, como acabou representando a nomeação do ex-presidente para ocupar uma das cadeiras do seu ministério.
Deve ter imaginado que com ele ao seu lado, dada sua experiência no trato com a política e os políticos brasileiros (o que para ela deve ser um tormento), conseguiria chegar ao final do seu mandato glorificada.
Pessoas teimosas – e ela o é – costumam agarrar-se a uma ideia aparentemente agradável e, a partir daí, deixam de refletir sobre suas consequências. Uma espécie de contabilidade somente com créditos, sem débitos. Nem sequer atentou para o fato de que o seu amigo e aliado político estava às voltas com investigações da Polícia e da Justiça Federal, dentro do âmbito da Lava Jato.
Mesmo admitindo-se que parte do plano – talvez a mais importante – fosse blindar Lula, esqueceu-se Sua Exa. de que o Brasil foi dividido pelo seu partido político em “nós” e “eles” e que estes não iriam engolir tamanha desfaçatez.
A estratégia acabou então sendo fortemente rechaçada pela grande maioria da população brasileira, aquela que levanta cedo diariamente para ir trabalhar e comparece às manifestações políticas do seu credo aos domingos e feriados, porque nos dias úteis ganha o seu pão (hoje escasso para os desempregados, vítimas de uma política econômica demagógica e também diminuindo para os ainda empregados, cujo poder aquisitivo dia a dia perde para a inflação).
A ex-guerrilheira Dilma Rousseff parece não ter se dado conta, mesmo já entrada no sexto ano consecutivo da sua carreira presidencial, da altíssima responsabilidade do cargo que exerce. Dá-nos a impressão, por incontáveis atitudes tomadas e que culminam com esse ato inconsequente de levar Lula para o seu ministério, que permanece na sua cabeça a fantasia juvenil da guerrilha, do heroísmo a qualquer custo, mesmo que seja o de levar o país definitivamente para o impasse institucional que ora se encontra, reforçando a paralisação da economia e aumentando o desespero daqueles que precisam suar a camisa e queimar as pestanas para sobreviver.
O atual capítulo da História brasileira é digno de um gibi dos anos 1950 e 1960, quando a heróis e anti-heróis bastava uma palavra-chave, bem gritada, para ganhar suas batalhas contra o Mal ou o Bem, e vice-versa.
Há, porém, 204 milhões de brasileiros sofrendo as consequências insanas de um governo que já acabou, mas reluta em jogar a toalha, aqui incluídos seus simpatizantes, que ainda não perceberam a realidade de quem nos governa, embora sofram igualmente as consequências, salvo não tão raras exceções.
Cabe aqui uma lembrança, inclusive a estes dirigida: os piores governos da História da civilização também tiveram legiões de simpatizantes cuja maioria sequer teve tempo de se dar conta que estava do lado errado.
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Imperdível para jornalistas, estudantes da área e interessados nestes tempos de imprensa x paixões partidárias o livro A imprensa entre Antígona e Maquiavel, de Renato Janine Ribeiro, professor titular de ética e filosofia política na USP, discorrendo sobre a ética jornalística na vida real das redações.
A edição foi iniciativa do Instituto Cultural da ESPM, dirigido por Geraldo Alonso Filho, tendo sido impressa na gráfica da Referência. A apresentação do livro é de José Roberto Penteado, presidente da ESPM, com dissertação sobre a obra e o autor feita pelo jornalista Eugenio Bucci.
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Juliana Nunes, vice-presidente de Assuntos Corporativos, Sustentabilidade, RH e Compliance da Brasil Kirin, será a nova presidente da ABA (Associação Brasileira de Anunciantes), substituindo João Campos, da Pepsi Alimentos, que ocupará a presidência do Conselho Superior da entidade. Primeira mulher a presidir a ABA, Juliana Nunes é formada em engenharia de alimentos, tendo trabalhado por mais de duas décadas na Unilever, em estudos de desenvolvimento de alimentos, logística, assuntos corporativos e sustentabilidade. Na Brasil Kirin, ela comanda as áreas de relações externas, comunicação corporativa e assuntos regulatórios. O mandato de Juliana Nunes terá a duração de dois anos e a sua posse ocorrerá em abril.
Armando Ferrentini é diretor-presidente da Editora Referência, que edita o PROPMARK e as revistas Marketing e Propaganda