Muitas das grandes ideias que já passaram pelo Festival Internacional de Criatividade de Cannes têm sua morte decretada antes do evento. Por isso, a premiação, muitas vezes, se torna um olhar para o passado que se encerra após a saída com o Leão pelo carpete vermelho do Palais des Festivals. Não é o que desejam os responsáveis pelos dois Grand Prix brasileiros conquistados até este momento em Cannes.

Vencedor em Mobile Lions, “Detector de Corrupção”, da Grey para Reclame Aqui, quer se tornar uma ferramenta de extrema relevância no processo eleitoral brasileiro. Hoje, há uma equipe de cinco jornalistas remunerada pelo anunciante para o trabalho  de alimentar a base de dados do detector, que consegue identificar os candidatos através de reconhecimento facial de fotos e vídeos e informar, na hora, quais acusações pesam contra ele e que condenações possui. 

A iniciativa, no entanto, ganhará um novo capítulo a partir de agosto, quando os candidatos aos cargos legislativos e executivos estarão escolhidos. Hoje, o trabalho é feito apenas em cima dos nomes especulados. O detector será capaz de apontar a “capivara” dos candidatos a presidência, senado, governos de estado e deputados federais. Apenas os deputados estaduais ficarão de fora.

“A ideia surgiu da necessidade de mudar o Brasil, nossa ambição com isso é muito grande. Os dados têm sido usado de maneira fraudulenta, mudando destino de países de maneira absurda. Esse app usa dados de maneira pró-democrática, transparente e com a intenção de conscientizar as pessoas a votarem melhor”, explica Adriano Matos, vice-presidente de criação da Grey Brasil.

Segundo ele, a partir de agosto, a equipe de profissionais que alimentam a base de dados subirá para dez pessoas. Outra novidade é que a tecnologia de reconhecimento facial, que é da Microsoft e tem 98% de chance de acerto,  também está sendo testada em santinhos e até máscaras. “Queremos, de verdade, que o Detector de Corrupção, se torne uma ferramenta para 120 milhões de eleitores neste ano. E essa ação não pode acabar. É uma conquista e o povo brasileiro não pode abrir mão dessa ferramenta nos próximos anos para permitir o voto em políticos melhores”, resume Matos.

Ale Oliveira

No caso de “Tagwords”, da Africa para Budweiser, o próximo passo é levar a iniciativa para a África e Ásia, incluindo mais artistas locais em cada país e até globais. A ação consistia em um outdoor que, ao invés de imagem, mostrava palavras que encorajavam as pessoas a pesquisar no Google por esses termos. Quem seguisse a instrução, veria diferentes imagens de lugares e eventos que estão na história da música. E, “coincidentemente”, com artistas famosos segurando latas ou garrafas de Budweiser. A ideia é mostrar que a marca está por trás das grandes músicas e eventos musicais. A busca pelos termos “1969 musicians sessions Budweiser” retorna imagens de Mick Jagger e Keith Richards com latas da cerveja.

“Quando tivemos a ideia, primeiro fomos ver se ninguém tinha pensado em algo parecido antes. Depois, vimos a questão legal, para ver se não estaríamos cometendo algum delito. E deu certo. Demorou muito para conseguirmos fazer a ação sair do papel. Foram, pelo menos, uns três meses fazendo search de photos”, afirma Sergio Gordilho, co-presidente e diretor-geral de criação da Africa. No ar no Brasil, a ação parte agora para impactar consumidores de outros mercados. “Ser coroado com GP em Cannes é especial, ainda mais em uma categoria onde o Brasil se revelou para o mundo, que é Print. Fomos premiados na categoria “uso inovador do meio”, o que mostra que essa é uma mídia que não precisamos matar, e sim reinventar”.

Ale Oliveira